Portugal
Do bar das Antas às decisões do "Pintinho". Octávio recorda episódios incríveis
2020-03-20 12:30:00
Antigo membro da estrutura portista revisita episódios vividos no clube nos anos 80 e 90

Octávio Machado é um dos nomes mais emblemáticos do futebol nacional e conta com muitos e variados episódios na coleção de uma vida ligada ao desporto. Em declarações a Rui Miguel Tovar, no 'Maisfutebol', recorda os tempos em que chegou às Antas. Aventuras, episódios, entrevistas, posições de 'força' e lições com o "Pintinho" e com José Maria Pedroto e a forma como mudaram o emblema azul e branco.

"O FC Porto não era nada e havia mau profissionalismo. Falavam da ponte e tal. Qual quê, eles eram maus profissionais", recorda o ex-jogador e ex-treinador dos dragões.

Octávio recorda que nos anos 70 e 80 "havia equipas competentes para lutar pelo título de campeão, só que havia muita desorganização e mau profissionalismo."

Mas com Pedroto tudo mudou, conta Octávio, que recorda o dia em que o bar das Antas foi fechado para desagrado dos adeptos.

"Entrávamos no estádio, o nosso balneário era à direita e o bar à esquerda. As pessoas que frequentavam o bar ouviam tudo o que se dizia no balneário. O Pedroto fechou o bar, os velhotes todos ficaram torcidos. Nem imaginas, ahahahah. Tinham de ir ao bar da piscina, a uns bons 400 metros".

Octávio Machado lembra que o 'Zé do Boné', como era carinhosamente conhecido, "impunha respeito e disciplina, com futebol ordenado e bons resultados à mistura".

"A malta tinha um medo dele que se pelava", recorda o agora comentador desportivo que, em entrevista ao 'Maisfutebol', entre outros episódios, recua a 'fita do filme' e recorda uma célebre reunião com Pinto da Costa e Reinaldo Teles, numa conhecida unidade hoteleira do Porto, anos mais tarde, quando chegou o brasileiro Carlos Alberto Silva para treinar os portistas.

Das terras quentes chegava um treinador que tentou colocar à prova Octávio Machado, tido como um verdadeiro 'braço direito' de Pinto da Costa na gestão do clube nos anos 80 e 90.

"O Carlos Alberto Silva (CAS) dá duas entrevistas na pré-época. Numa, diz ‘vou ver se os meus adjuntos têm ritmo para me acompanhar’. Na outra, diz ‘faço de paus de vassoura jogadores de futebol’", recorda Octávio, ele que desempenhava funções na estrutura do clube, nessa altura, acrescentando também uma conversa com os responsáveis dos dragões por causa das declarações de CAS.

"Chego ao Sheraton e vou à casa de banho. Vêm ter comigo o presidente e o Reinaldo. Começamos a falar e eu digo de minha justiça. ‘ò presidente, vamos ver é se este treinador tem ritmo para esta equipa, feita de campeões europeus, nenhuns deles paus de vassoura’."

Dos tempos em que representou o FC Porto, Octávio Machado lembra que os elementos que faziam parte da estrutura estavam sempre em alerta. 

O foco no clube era tanto que nem em dias de casamento se 'levantava o pé', como conta Octávio recordando o dia em que Pinto da Costa lhe ligou durante o casamento de Vítor Baía para tratar de uma transferência.

"A meio do casamento do Vítor Baía, o Reinaldo ligou-me. Que era uma emergência, para falar com o presidente. Epá, estava no casamento. Não podia, nem queria. É um momento especial. O Reinaldo passou o telefone ao presidente e ele disse-me que estava em casa à minha espera, quando chegasse do casamento."

Entre outras histórias, Octávio Machado teve muita das vezes que confrontar Pinto da Costa e as decisões tomadas pelo presidente do FC Porto, como o dia em que José Caldeira foi nomeado secretário do líder.

"Eu insisti junto do Reinaldo, ‘tu queres ver isso? Queres que dê um murro no Caldeira? Se o vejo, leva com ele. Eu só quero ganhar, mais nada. Percebe isso, Reinaldo’", lembra Octávio que estava contra a chegada de Caldeira à estrutura.

"Como eu e o Reinaldo opusemo-nos à sua entrada na estrutura do FC Porto, o Pintinho nomeou-o secretário", revista Octávio, atualmente com 70 anos.