Quando leio por todo o lado que Portugal foi eliminado do Mundial no dia em que fez o seu melhor jogo, discordo. É sinal de que ainda não estão entendidas as lições do Europeu de há dois anos: o que se passou em Sochi foi que a equipa do Uruguai não quis jogar, dominar, apostou na capacidade de dois avançados que já se sabia que eram capazes de fazer golos com pouco jogo e na habilidade para bloquear os acessos à sua área através de uma organização defensiva impecável. E ainda teve a ajuda de uma equipa portuguesa que, sendo verdade que teve muita bola, perdeu muito tempo em equívocos táticos que Fernando Santos identificou perfeitamente no final do jogo mas contra os quais demorou eternidades a reagir durante a partida.
Quem diz que Portugal foi eliminado no dia em que fez o seu melhor jogo está a basear esta conclusão apenas na maior posse de bola ou até no facto de a seleção nacional ter feito quatro vezes mais passes do que um Uruguai que já se sabia preferia jogar direto nos dois da frente. Mas o melhor jogo de Portugal foi o que esta equipa fez contra a Espanha, mesmo que tenha sido aquele em que teve menos bola. Porque no jogo conta a Espanha a equipa esteve afinada para o que as circunstâncias pediam. Frente ao Uruguai, não foi assim. Portugal teve sempre muita bola mas perdeu quase toda a primeira parte com Ronaldo e Guedes muito abertos nas linhas laterais e pedindo a João Mário que fosse uma espécie de falso nove, o que levou a um domínio inconsequente, sem gente em zonas de finalização. Mais: Portugal teve sempre muita bola, mas manteve muita gente atrás da linha da mesma, levando a equipa a uma circulação que foi quase sempre estéril de um lado ao outro do campo mas que mesmo assim não impediu o Uruguai de surpreender a defensiva lusa nas poucas vezes que se aproximou da área de Rui Patrício.
A mobilidade, que pode ser um conceito tão interessante em organização ofensiva, não pode ser atingida em prejuízo da contundência nas zonas onde se ganham os jogos. E aí Portugal foi sempre mais fraco do que os uruguaios, muitas vezes por falta de comparência. Neste aspecto, a equipa nacional foi o oposto do que tinha sido no Europeu de 2016, onde poucas vezes teve assim tanta bola, mas onde escolhia melhor as zonas em que se superiorizava – ainda que quase sempre de um ponto de vista defensivo e poucas vezes a atacar. Mas isso...
O que se viu na segunda parte, com a equipa mais organizada, subiu o rendimento de todos os jogadores da frente, à exceção de Ronaldo, que era o único a permanecer numa posição que não lhe convinha, a de ponta-de-lança solitário. Mas Bernardo a 10, Guedes na esquerda, João Mário na direita e depois – com a entrada de Quaresma – a segundo médio melhoraram todos. Porque no futebol, mais do que ter muita ou pouca bola, o que interessa é ser capaz de agir em conformidade.
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