Portugal
Decas: O miúdo que a vida obrigou a crescer e que joga futebol pela família
2018-07-23 16:00:00
Aos 18 anos, Wesly Decas é já o sustento da família e tem o sonho de um dia jogar pelo Liverpool FC.

Wesly Decas é um prodígio. Um prodígio que aos 18 anos irá ter a primeira experiência na Europa em Portugal ao serviço do Nacional, depois de terem surgido na imprensa rumores do interesse de clubes como o Liverpool FC ou o PSV nos serviços do versátil defesa hondurenho. Segundo a comunicação social, Decas chegou mesmo a estar à experiência no clube de Anfiel, mas é em Portugal que Decas irá dar seguimento à carreira profissional. Aos 18 anos, Decas está habituado à precocidade e surge no Nacional como um dos jovens mais interessantes a serem observados durante a temporada que agora se inicia.

Aos 18 anos, Wesly Decas é um rapaz viajado. Formado no Pumas hondurenho e no Atletico Independiente do país natal, foi no México que fez a estreia ao nível do futebol sénior quando em 2017 se transferiu para o FC Juárez da segunda divisão mexicana, clube pelo qual jogou em cinco ocasiões na temporada passada - e que logo na estreia foi eleito para o onze ideal da jornada. A aventura mexicana surgiu semanas após a experiência em Liverpool, mal sucedida, apenas devido às dificuldades de Decas em cumprir com os requisitos para obter um visto de trabalho em Inglaterra. Decas está habituado à precocidade, porém, tem limites. Aos 18 anos ainda não foi internacional A pelas Honduras e Inglaterra não perdoou, mesmo que este até seja um dos mais promissores jogadores da América Latina e presença em várias listas dos melhores jovens do continente.

Wesly Decas mantém o sonho de regressar a Liverpool e, quem sabe, um dia, reencontrar-se com Steven Gerrard no histórico emblema inglês. Foi, aliás, Gerrard quem treinou Decas no período que o jovem lateral esquerdo, que pode também ser central, passou em Inglaterra. No Nacional quer ganhar asas para cumprir o sonho. Chegar à seleção principal das Honduras e, assim, abrir as portas do futebol internacional. Sempre com a família no pensamento. “Quero fazer uma boa carreira para ajudar a minha família para que nada falte aos meus irmãos”, afirmou à imprensa de um dos países mais pobres e perigosos do Mundo.

Aos 18 anos não falta experiência internacional a Wesly Decas. Tinha ainda 16 anos quando participou no Campeonato do Mundo Sub-17 de 2015 e apenas 18 quando foi uma das figuras das Honduras no Mundial Sub-20 de 2017 disputado na República da Coreia. A estreia pela equipa principal, porém, terá de esperar. Decas até estava convocado para os Jogos Centroamericanos e do Caribe Sub-21 que irão ser disputados na Colômbia, porém, acabou dispensado de forma a poder preparar a época com o Nacional e, quem sabe, aos 18 anos, ser elemento surpresa no onze de Costinha. A Portugal diz chegar nervoso, mas cheio de ambição.

“Estou muito ansioso porque é uma equipa que acabou de subir de divisão à primeira liga portuguesa e isso dá-me uma enorme confiança para a temporada”, afirmou à imprensa hondurenha. No Nacional irá encontrar o também hondurenho Bryan Róchez avançado de 23 anos que já na temporada passada alinhou pelos insulares apontando seis golos em 16 encontros após uma passagem pela MLS. “Já falei com ele [Róchez]. Perguntei-lhe como era a cidade e disse me que era muito bonita e como era o ambiente dentro da equipa. A minha ideia é sempre triunfar para onde for e poder ajudar a minha família”, acrescentou Decas.  


A vida obrigou Wesly Decas a crescer mais rápido do que seria suposto para um rapaz de 18 anos. Foi, afinal, aos 16, que começou a ser quem sustentava a família, uma numerosa família composta pela mãe e pelos sete irmãos. Os poucos ganhos que conseguia nas Honduras, mesmo com os prémios ganhos ao serviço da seleção obrigaram Decas a abandonar a família rumo ao México e, agora, para Portugal. “Trato de ajuda a minha família com tudo o que tenho. O que recebo compartilho com eles”, explicou ao Diez, um dos meios de comunicação das Honduras. O pai? Foi preso por furto de um automóvel era ainda miúdo.

“Eu nunca estive com o meu pai. Ele estava sempre a trabalhar e depois juntou-se com pessoas que não devia e acabou por ser preso. Este ano que passou [2017] fui vê-lo à prisão e já nem sequer me reconhecia. Ficou surpreendido por me ver e até me perguntou se era mesmo eu, porque estava tão crescido. Apesar de tudo isto, sempre tivemos uma boa relação e pediu-me para que ajudasse a minha mãe e os meus irmãos”, confessou à imprensa.

“É muito difícil para nós que ele não me possa ver. Um dos meus sonhos é que ele um dia possa estar junto com a minha família num estádio a ver-me jogar alguma partida. Eles sempre me apoiaram, tal como o meu tio que é o grande responsável por hoje ser jogador de futebol. Sempre me apoiou e sempre esteve presente para tudo o que necessitei. Estou muito grato a toda a minha família, sem eles não estava aqui”. Decas orgulha-se da família e é com o futebol que lhes retribui todo o apoio e carinho, sempre com a cabeça bem assente nos ombros.

Mesmo na prisão, o pai nunca deixou de seguir os passos de Wesly Decas. “Ele sabe que já joguei dois Mundiais, viu os meus jogos e apoiou-me. Nunca deixou de o fazer e agradeço-lhe por isso. O problema é que ele roubava carros então acabou preso por isso. O meu pai sempre quis o melhor para a família e foi para nos conseguir sustentar que acabou por fazer o que fez. Quis sempre que pudéssemos estar bem. Já me disseram que está para sair, mas não sei quando vai acontecer. Já está preso há cinco anos”, afirmou o jovem.

A vida obrigou Decas a crescer e não é surpresa que aos 18 anos a precocidade lhe seja sinónimo e, hoje, se prepare para jogar numa equipa de uma das principais ligas europeias. Quando entra em campo, representa toda a família. “Somos sete irmãos. Cinco rapazes e duas miúdas. Sustento-os com aquilo que ganho. Graças a Deus os consigo ajudar e a minha meta é conseguir arranjar-lhes uma casa digna e que consigam viver bem”. Nós estaremos por cá para o acompanhar, Wesly.