A final do Euro'2004 foi "um momento de viragem" para a Seleção Nacional e para a estrutura da própria Federação Portuguesa de Futebol, segundo explicou Carlos Godinho.
Em entrevista ao Diário de Notícias, o 'team manager' da Seleção, que era diretor das seleções na altura do Euro'2004, apontou a final perdida para a Grécia como "fundamental para a mudança de mentalidades", deixando a equipa das quinas mais preparada para os momentos decisivos.
"Foi fantástico para os clubes terem a possibilidade de construir estádios novos e dar outra dignidade ao futebol português. Acabámos de jogar e conquistar a Liga das Nações num dos estádios do Euro'2004", realçou.
Para o dirigente federativo, "a possibilidade de termos estado pela primeira vez numa final", em 2004, deixou aberta "a porta de entrada no núcleo dos finalistas", com Portugal a saber que "um dia íamos ganhar".
Foi preciso esperar 12 anos, mas o tão ansiado troféu chegou em 2016. Durante esse tempo, a Seleção aprendeu a conter a euforia, uma lição aprendida com a hora e meia que durou o trajeto entre a Academia de Alcochete (onde estagiava) e o Estádio da Luz (palco da final), em 2004.
"Só chegámos a horas porque antecipei a hora de saída, mas a desconcentração foi total. Aviões, barcos, motos, carros, cavalos, pessoas na estrada... Tudo isso entrou na cabeça dos jogadores. Serviu-nos a lição para 2016, que nem música havia no autocarro", revelou Carlos Godinho.
Na final de 2016, a concentração era total, "ainda mais porque sentimos que estava tudo feito para a França", continuou.
"Nós ficámos no balneário da equipa da casa e vi passar três ou quatro caixas de champanhe para o balneário deles. Essas coisas marcam-nos... Por uma questão de princípio e superstição, desde 2004 nunca mais tratei de nada disso, nem champanhe, nem autocarro, nem camisolas, alguém que trate, eu é que não", adiantou o 'team manager'.
Do Euro'2004 ficou ainda uma "herança" importante, Cristiano Ronaldo.
"O Cristiano foi talvez a grande herança do Euro'2004. Passou um pouco despercebido no meio de Couto, Figo, Rui Costa, Deco, mas aquele golo à Holanda já mostrou o génio", lembrou.
Segundo o dirigente federativo, a "ambição tremenda de conquistar tudo" de Ronaldo, então um "miúdo espigadote, magrinho", começou "a marcar a diferença" na Seleção.
"Hoje é capitão e incontestado como melhor do mundo. Recebeu a braçadeira em 2007 e até hoje ele só a tem honrado", concluiu o dirigente federativo.