Portugal
Caldo entornado em Penafiel: Criticas à venda do clube e demissões em bloco
2018-08-07 19:00:00
Grupo de sócios criticou a venda do clube e a direção reagiu com demissão em bloco de todos os órgãos sociais.

Caldo entornado em Penafiel. Depois de, em finais de julho, 84% dos votos recolhidos em Assembleia Geral Extraordinária terem aprovado a venda do clube a um grupo empresarial de capital maioritariamente português, resultando na passagem do FC Penafiel de uma SDUQ para uma SAD, nas últimas horas, após forte contestação também dos sócios do clube, a direção do Penafiel demitiu-se em bloco. Assim, e em consequência do sucedido a direção "não dará seguimento à deliberação de transformação da SDUQ em SAD”.

Depois de a 23 de julho a empresa Gradual Score, liderada por Domingos Miguel Ribeiro Garcia, genro do empresário Joaquim Oliveira ter comprado 90% do capital social do clube penafidelense por 1,8 milhões de Euros, muita água correu por baixo da ponte. Sócios descontentes, muitas críticas e muitas dúvidas em relação ao negócio levaram a direção liderada por Gaspar Dias a apresentar a demissão em bloco, colocando o negócio em espera. "Em reunião de hoje os membros efetivos e suplentes que integram os Órgãos Sociais do Futebol Clube de Penafiel (Direção, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal), em defesa do seu bom nome e do Futebol Clube de Penafiel, apresentaram a sua demissão/renúncia aos mandatos que exerciam", anunciou em comunicado a direção do clube.

Em causa, diz a direção, está o objetivo de clarificar toda esta situação, permitindo que a próxima direção tenha legitimidade para prosseguir com a transformação da SDUQ numa sociedade anónima desportiva como ficou decidido em Assembleia Geral no passado dia 24. É que, apesar da votação favorável durante a reunião magna, foram várias as críticas feitas por associados do Penafiel que acusam a direção de ter vendido o clube ao desbarato. Alguns associados do clube penafidelense levantaram uma série de questões relativas a todo o processo de venda do capital social do clube, chegando mesmo a apresentar uma providência cautelar em tribunal, fatores decisivos para a decisão da direção do clube em apresentar a demissão em bloco.

Após a demissão em bloco da atual direção do FC Penafiel foi solicitada a marcação imediata de novas eleições quer para a direção do clube, quer para a mesa da assembleia geral, quer para o conselho fiscal do clube com o objetivo de não comprometer o arranque de temporada. A direção demissionária do Penafiel, porém, já deixou claro que irá voltar a apresentar-se como solução de governação, e irá apresentar-se aos sócios nas próximas eleições do clube assim que as mesmas forem marcadas. Até lá garantindo a gestão corrente do clube, mas sem garantir que a venda se mantenha em cima da mesa: "Não posso assegurar que o investidor vá esperar o tempo que for preciso. Vamos explicar ao investidor e esperar que mantenha o acordo nos mesmos moldes", confessou o presidente demissionário do clube à Lusa.

A liderar a oposição à venda do clube está, entre um grupo de associados, o antigo presidente do clube penafidelense, António Gomes. O grupo de associados questionou a legalidade da venda dos 90% do capital social do clube, acusando a direção do clube de vender o clube por menos do que devia, mesmo que o negócio até tenha sido viabilizado por 84% dos sócios do clube presentes na Assembleia Geral Extraordinária realizada no Auditório do Parque de Feiras e Exposições de Penafiel. Segundo o mesmo grupo de adeptos, o clube fez "um mau negócio, ao vender 90% da SAD por um valor a rondar o milhão de euros à empresa Gradual Score quando havia propostas mais vantajosas". Grupo que Gaspar Dias desafiou a apresentar-se a eleições e provando quem têm um projeto para o clube.

O interesse na venda do capital social do clube e passagem do mesmo de uma SDUQ para uma SAD não é recente. Já em final de 2016, Gaspar Dias havia tornado pública a necessidade do clube o fazer sob pena de se deixar ultrapassar pelos rivais na segunda liga. "É muito difícil ou quase impossível ao Penafiel gerir uma receita anual acima de 1,2 milhões de euros e desse montante sobram cerca de 650 mil euros brutos para o futebol profissional", afirmou então o dirigente que lembrou que "a realidade era outra em 2013", quando praticamente todos os clubes da dimensão do PEnafiel se constituíram como SDUQ.

"Em quatro ou cinco anos, o Penafiel vai deixar de ser o clube pequeno/médio dos campeonatos profissionais e correr o risco de descer por falta de investimento", advertiu Gaspar Dias que já então garantia que nunca realizaria qualquer negócio com quem não conhecesse bem. “Conseguimos bem sobreviver com o que temos, mas, também, nunca negociarei o Penafiel só pelo negócio e sem conhecer bem o investidor". "Os tempos mudaram e não podemos ficar apeados na estação, porque este comboio pode não passar duas vezes", acrescentou na altura o presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube, Alberto Simões, garantindo o que veio a acontecer ano e meio mais tarde.

O caldo entornou em Penafiel numa altura em que a equipa liderada por Armando Evangelista prepara a estreia na segunda liga - domingo, em casa, perante o FC Arouca - e o mercado está a menos de um mês de encerrar. “Gaspar Dias reconheceu que os atletas estão apreensivos, mas garantiu que a atual direção vai manter os compromissos desportivos, contratuais, laborais e financeiros a que até hoje de vinculou", conforme replica a Lusa. “Até à realização das eleições, que Gaspar Dias espera ocorram ainda a tempo de quem ganhar poder definir o que falta do plantel, o processo de passagem de SDUQ para SAD vai parar”.