Portugal
Caldas SC e Farense sem transmissão televisiva: "condenatório e descriminatório"
2018-01-05 19:25:00
Responsáveis do Caldas SC e do Farense não aceitam o tratamento diferenciado que os clubes estão a ser alvo na Taça.

Depois de vitórias perante a Académica e SC Praiense, Caldas SC e Farense alcançaram os quartos de final da Taça de Portugal. O sorteio ditou que ambos os conjuntos se enfrentassem no Campo da Mata, nas Caldas da Rainha, porém, ao contrário do que vem sendo habitual na competição para o patamar em questão, o encontro entre caldenses e farenses não terá transmissão televisiva. A decisão da detentora dos direitos da competição é polémica e já fomentou as mais diversas manifestações de desagrado, inclusivamente, uma petição pública a exigir a transmissão da partida. Para Jorge Reis, presidente do Caldas SC, a decisão “desagrada muito ao clube e é um desrespeito e desconsideração completa para os dois clubes”. Já António Correia, vice-presidente do Farense, fala numa situação discriminatória. “É uma situação totalmente condenável. Há oito ou nove anos que um jogo dos quartos de final não é transmitido na televisão. É uma atitude condenatória, discriminatória até”.

Apesar de ser habitual, nos últimos anos, qualquer encontro dos quartos de final da Taça de Portugal ter transmissão televisiva, a decisão do mesmo não ser alvo de, é incompreensível para os responsáveis dos clubes em questão. Uma situação que em nada ajuda o futebol português, como desabafou ao Bancada, Jorge Reis. “Achamos nós que é um desrespeito, seja de quem for a culpa, não quero estar a identificar culpas. É uma desconsideração completa por duas equipas que chegaram aos quartos de final de uma competição desta envergadura. No caso do Caldas uma equipa que na ultima eliminatória contra a Académica conseguiu fazer dessa eliminatória uma festa” vincou-nos o líder do clube das Caldas da Rainha que não compreende que a própria Federação Portuguesa de Futebol não tenha intercedido na questão e que tanto Caldas, como Farense, estão a ser alvo de um tratamento diferenciado.

“Pensamos nós que a festa do futebol, a festa da Taça de Portugal, é o expoente máximo das provas organizadas pela FPF e julgamos que todos os clubes deviam ser julgados da mesma forma. Pensamos que neste momento isso não está a acontecer”. Para o presidente do Caldas SC, o emblema das Caldas da Rainha e o Farense estão a pagar a fatura de um ciclo vicioso implementado em Portugal há vários anos no que a transmissões televisivas diz respeito, sendo sempre os mesmos clubes a beneficiar dos prémios relativos às mesmas. “Convém registar o seguinte: é afixado, no início da época, uma lista de prémios pelas participações nas diversas eliminatórias da Taça de Portugal, bem como os prémios que estão agregados às transmissões televisivas. O que é que verificamos com isto…? Os jogos televisionados são sempre os mesmos. É certo que são os que até podem dar mais audiência, mas andamos aqui numa pescadinha de rabo na boca, com a transmissão dos mesmos clubes eliminatória após eliminatória, ano após ano. Sempre no mesmo círculo. Os outros clubes acabam por não ser divulgados”. António Correia defende que a não transmissão do jogo tem de ser acata, mas deve ser criticada. “Preferiram os restantes jogos, nada a fazer. Entenderam que o jogo não lhes traria qualquer rentabilidade. O problema é só esse. É uma falta de respeito completa para os dois clubes, mas entendem que não lhes traz rentabilidade, não transmitem. Ponto final”.

Jorge Reis defende que a culpa é alheia aos clubes, mas que as instituições que tutelam o futebol português não ajudam a um ambiente de maior pluralidade e de descentralização do futebol em Portugal. Para o líder do Caldas, teria feito sentido que a FPF tivesse intervido na situação. “Os clubes que são transmitidos não têm culpa nenhuma. Muitas vezes esses clubes até cedem as receitas de bilheteira e de transmissão aos clubes das divisões inferiores. Nada contra os clubes, tentam fazer o melhor para eles. Mas nesta fase devia ter existido uma imposição da FPF para que este jogo também fosse televisionado. Era justo e era uma recompensa pela chegada a este patamar de duas equipas do Campeonato de Portugal” vincou ao Bancada. O vice-presidente do Farense, porém, apesar de não rejeitar que a Federação devesse ter uma palavra a dizer, consente que o papel da organização, nesta situação, é muito limitado. “A Federação tinha uma palavra a dizer, mas pronto, as transmissões televisivas são da exclusiva responsabilidade das televisões. Como tal, a palavra é deles. Se acham que não é oportuno… não deixa de ser uma grande falta de respeito para com os clubes em causa. O papel da Federação no meio disto não é de grande relevância. A Federação não os pode obrigar a transmitir o jogo. Ninguém sabe ao certo qual é o protocolo entre a Federação e a televisão”.

As transmissões televisivas de jogos de futebol estão, muitas vezes, na origem da necessidade de vários clubes efetuarem alterações, por vezes profundas, nos seus estádios, de forma a poderem receber tais jogos e que os mesmos possam ser alvo de transmissão pela televisão. Algo a que o Caldas SC até estaria recetivo, pois a própria chegada aos quartos de final da Taça de Portugal a isso obrigou. “O Caldas estaria sempre recetivo a alterações no Estádio para que pudesse receber a transmissão televisiva. Posso dizer que para esta eliminatória até estamos a promover algumas alterações para proporcionar aos órgãos de comunicação social outras condições de trabalho que não tinham na eliminatória anterior. E com o apoio da autarquia. Com certeza que se houvesse transmissão televisiva, a autarquia estaria disponível, como sempre esteve, para ajudar. Bastava dizerem-nos o que seria necessário para o jogo ser televisionado que faríamos todos os possíveis para isso”.

A não transmissão do encontro dos quartos de final da Taça de Portugal entre Caldas e Farense é mais um episódio polémico no futebol português que vive, atualmente, um dos períodos mais complicados da sua história. Uma decisão que, para Jorge Reis, poderá mesmo despoletar uma forma de estar diferente por parte dos clubes do Campeonato de Portugal relativa aquela que vinha sendo norma até aqui. “Temos que todas estas situações, e tive já algumas manifestações de outros presidentes de clubes portugueses, possa ter sido a abertura da caixa de pandora que se calhar nos fará a todos, do Campeonato de Portugal, olhar para toda esta situação com outros olhos. O que se está a passar com o Caldas já se podia ter passado com outro clube, noutro ano, caso algum tivesse chegado a esta posição. A festa da Taça é o povo português, seja do interior, do litoral, do norte, do sul… ter direito a ela”.

“Da maneira como as coisas estão, dificilmente qualquer clube conseguirá receber um clube grande”, concluiu ao Bancada o líder do Caldas SC. Naturalmente, a situação também não agrada aos responsáveis farenses. Também ao Bancada, o treinador da equipa algarvia diz sentir-se triste por toda a situação. “É uma pena o jogo não ser transmitido, pois iria promover as duas equipas, os jogadores, os clubes em questão na sua generalidade, mas também o Campeonato Portugal onde há jogadores muito interessantes e boas equipas. Iria também proporcionar um bom espetáculo numa competição bonita que é a Taça de Portugal”, referiu Rui Duarte ao Bancada. Até porque, segundo o vice-presidente do Farense, são os adeptos do clube algarvio os mais prejudicados com a situação. “Não há nada a fazer. É condenável, resta-nos assumir de forma veemente a nossa condenação pelo facto e não podemos fazer mais nada. Tentámos tudo o que podíamos para que a transmissão fosse efetivada. Tínhamos todo o interesse que o jogo fosse transmitido. Nós até mais do que o Caldas porque há muita gente que não se consegue deslocar. A população de Faro é muito mais lesada” vincou ao Bancada.