Bruno de Carvalho "falou com alguns advogados" para tomar um conhecimento mais aprofundado das "aberrações" do processo penal, para as quais veio agora alertar "o cidadão comum".
O "comentadeiro" da Rádio Estádio aproveitou a "liberdade de expressão", deixando no ar que a mesma lhe foi negada enquanto arguido no processo do ataque a Alcochete, para realçar que "uma pessoa qualquer" pode um dia ser acusada num processo que 'nasceu' de mentiras prestadas à PSP ou GNR.
"Quando somos chamados a uma autoridade, o que temos como dado adquirido é que devemos dizer a verdade. O que nós dissermos pode ter influência na investigação. Qual é o problema? É que a lei nos permite mentir. Isto, para mim, é a primeira aberração", disparou.
E reforçou: "As pessoas, de facto, podem mentir e não terem consequência nenhuma, desde que o façam perante as autoridades e não perante o juiz".
No espaço de comentário para a rádio, mas falando "como cidadão para os cidadãos", Bruno de Carvalho apontou que as testemunhas são obrigadas por juramento "a dizer a verdade", o que não acontece com os arguidos.
"Um arguido que queira dizer a verdade está menorizado à partida, porque existe uma lei que permite ao arguido mentir. Isto para mim é outra aberração, as pessoas todas deviam prestar juramento e não haver este estigma à partida", insistiu o arguido no processo de Alcochete.
Segundo Bruno de Carvalho, quando as pessoas mentem às autoridades 'conduzem' a investigação de acordo com os seus interesses e, se o caso chegar a julgamento, os arguidos ficam "manietados no direito à defesa", pois o juiz só permite a exploração dos factos contantes na acusação, a qual "pode ter sido feita com base numa investigação toda ela norteada por mentiras".
Outra "aberração" é que, em fase de julgamento, todas as declarações prestadas às autoridades (e que podem ser "mentira") são públicas.
"Estou a falar da gravidade que é eu ter-me apercebido que, na fase de sigilo, toda a gente pode mentir e induzir a investigação para o lado que quiser, onde não podem mentir [em tribunal] podem todos ir ouvindo e melhorando a narrativa em conformidade com o que lhes dá mais jeito", argumentou.
"Não é que nenhuma destas aberrações me esteja propriamente a assolar a alma", garantiu: "Se há coisa que não está a correr bem no julgamento é para o Ministério Público, porque toda a narrativa não é a verdade, foi tudo manipulado e feito a partir de uma fábula".
"Já tivemos testemunhos perfeitamente díspares entre o que foi dito às autoridades e o que foi dito no tribunal, quase nenhum testemunho bateu certo. Consequências? Nenhumas. Consequência real? Um linchamento público de um cidadão de há dois anos para cá", lamentou-se Bruno de Carvalho.