Portugal
Boavista recebe o Benfica após a "chicotada" e as estatísticas não estão a favor
2017-09-15 18:30:00
Miguel Leal saiu e deu o lugar a Jorge Simão

Fica nos 38% a percentagem das equipas que ganham no jogo seguinte a terem trocado de treinador. Valor bom ou mau? É difícil dizer. Certo é que cerca de 75% dos leitores do Bancada que votaram na sondagem que promovemos acreditam que o efeito imediato de uma “chicotada psicológica” é positivo (a ver mais à frente). Esta ideia é contrariada por Daniel Portela, ex-treinador do Boavista (fez a transição entre Sanchez e Petit, em 2015/16), que justifica, ao Bancada: “O que dizem as estatísticas é que as trocas não têm um efeito tao positivo como se desejaria”.

O Boavista recebe o Benfica, neste sábado, dois dias depois de ter trocado de treinador. Miguel Leal saiu e entrou Jorge Simão, que assumiu: “não vou mudar muito, para não estragar o que foi feito de bom”. Será que é esta a lógica certa? Para Daniel Portela, sim.

O [Jorge] Simão disse, e muito bem, que não vai mudar para não estragar. Eu concordo. É uma situação muito difícil e, nestes dois dias, o trabalho será mais a nível psicológico do que propriamente de grandes ideias do treinador”.

Ajuda extra para Idris, no novo Boavista

Posto isto, impõe-se a pergunta: o que pode mudar Jorge Simão, para a receção ao Benfica?

Na minha opinião, não vai mudar quase nada, a não ser um jogador ou outro. Esse jogador ou outro é que podem mexer no todo. O que muda não é tanto pelas ideias do treinador, mas mais pela inclusão de um ou outro jogador que não estava a ser tão utilizado e que pense ‘quero mostrar o meu valor’. Mas claro que essa mudança pode ser para melhor ou para pior”, explicou Daniel Portela, ao Bancada, antes de detalhar, na prática, o que podem significar estas mudanças.

Mais defesas, para poder defender-se da eventual desorientação de uma equipa que perdeu o líder? Mais um médio defensivo, jogando com mais um jogador junto a Idris? Para Daniel Portela, a segunda opção é a mais plausível. “O Boavista tem jogado com um médio defensivo [Idris]. Com o Benfica, acredito, sim, que passe de um médio para dois, para dar maior liberdade aos alas e ao lateral que tente dar profundidade. Isto permite dar mais equilíbrio na transição defensiva, porque esse segundo médio faz as coberturas e ajusta em termos defensivos”.

Deixemos o Boavista-Benfica de lado e, antes de analisarmos o fator psicológico das chicotadas, retomemos os dados relativos ás mudanças de treinador, na Liga Portuguesa.

37,5% das equipas conseguem vencer após a "chicotada", enquanto 50% perdem depois dessa troca de treinador. É certo que o número de vitórias, após uma “chicotada”, não é elevado. Ainda assim, há que ter em conta que, se uma equipa troca de treinador, é porque não está num momento fulgurante, o que induz, á partida, dificuldade em vencer jogos. 

Desta forma, o que pode levar uma equipa a entrar nos 38% das equipas que vencem após uma chicotada? Para Daniel Portela, está [quase] tudo no lado mental.

Quando há mudança de treinador, os jogadores têm automaticamente uma crença nesse novo treinador. Mas se o impacto da saída de um treinador foi maior do que o da entrada do novo técnico, então esse fator motivacional será menor”, defende. E pode Simão provocar esse fator? “Eu conheço o Simão e muito sinceramente acho que ele tem capacidade para dar o tal abanão psicológico. Mas não conheço o treino. Em termos do que tem feito, sim, pode fazer com que as coisas abanem para o lado certo”, explica Daniel Portela.

Um treinador sem tempo para trabalhar, uma equipa sem dedo de treinador e um jogo frente a um candidato ao título. Temos boavisteiros preparados para um jogo “sem treinador”? “Sei e sinto, quando vou ao Bessa, que os adeptos gostam que a equipa tenha garra, determinação e empenho. Isso é fundamental. Mas, neste jogo, eles serão os primeiros a compreender que o novo treinador não tem tempo para mudar seja o que for”, garante o antigo técnico do Boavista.

A terminar, fique com os resultados da sondagem Bancada, que contraria a ideia veiculada por Daniel Portela e, em certa medida, dos dados estatísticos que analisámos. Nota para o facto, curioso, de apenas cerca de 6% das pessoas considerarem que as equipas pioram nos efeitos imediatos da troca de treinador.