Portugal
Benfica, SC Braga e como chegar a um fim ainda antes de passar pelo início
2018-01-13 23:10:00
Se os golos se fazem tendo bola, o Benfica mostrou em Braga que é sem ela que metade do caminho para tal é percorrido.

A crónica de hoje parecia ser mais uma daquelas em que escrevemos quanto Abel alterou o jogo a partir do banco, logo após mais uma entrada em falso da equipa arsenalista em campo. Alterando o jogo, lendo-o com positiva mestria e colocando o seu dedo de forma direta num resultado da equipa do SC Braga. Por pouco não voltou a ser assim. Abel mexeu e mexeu bem. Fê-lo, por ventura, demasiado tarde e numa altura em que a montanha era demasiado alta fossem quantos fossem os guerreiros. A entrada de João Carlos Teixeira, aos 67 minutos, numa altura em que o Benfica já vencia por 2-0 foi o “game changer”, o ponto de viragem, que nunca chegou a acontecer. Por pouco. A entrada do jovem emprestado pelo FC Porto mexeu com o jogo, mas era já demasiado tarde

Em Braga, o Benfica entrou forte. Se Rui Vitória dissera, na conferência de imprensa que anteviu o encontro entre SC Braga e Benfica, que a equipa encarnada estava preparada para as nuances peculiares que caracterizavam o futebol do adversário, em campo, o Benfica fez jus às palavras do seu treinador. Mais do que a explorar possíveis debilidades do processo defensivo do SC Braga, foi no momento sem bola que o Benfica fez a diferença. A pressão foi alta, mas foi, acima de tudo, a intensidade da pressão feita pelo corredor central do Benfica sobre o miolo adversário, condicionando a construção do SC Braga, que permitiu ao Benfica não só anular o adversário como criar situações de desequilíbrio ao recuperar a bola em zonas adiantadas do terreno de jogo.

O Benfica encheu o meio campo, não permitiu que Danilo tivesse bola e mais do que finalizar bem, essa, foi a sua grande virtude. Foi assim que o Benfica chegou ao golo e foi assim que o Benfica mais perigo criou. Fejsa, por exemplo, em terreno adversário, recuperou quase uma dezena de bolas, mas foi Jonas, sobre Danilo, que permitiu que Cervi isolasse Salvio aos 11 minutos para que o Benfica chegasse à vantagem. Só pontualmente o SC Braga chegou perto da baliza do Benfica na primeira parte, porém, aos 35 minutos, Ricardo Horta ficou a centímetros de levar os arsenalistas empatados para intervalo.

Horta não o fez, e foi já com o SC Braga a ensaiar a recuperação na partida que o Benfica tornou o muro demasiado forte para que pudesse vir a ser derrubado. Já depois de Jardel ter atirado ao poste logo a abrir a primeira parte e Grimaldo ter desperdiçado uma jogada de contra-ataque pouco depois, Jonas, de cabeça, quase colocou um ponto final na discussão. O Benfica chegou ao segundo golo numa altura em que o SC Braga parecia, por fim, começar a encontrar formas de ultrapassar a fase de pressão do Benfica. Consentido ou não, foi com o Braga a equilibrar as forças a meio campo que o Benfica chegou ao segundo golo. Sintomático de tal, foi o facto de no minuto anterior ao golo do Benfica, Ricardo Horta, a passe de Xadas, ter obrigado Bruno Varela a uma das melhores intervenções da noite. Como em outras situações anteriormente, Varela foi bom, mau e vilão num curto espaço de tempo.

Abel demorou a mexer, mas mexeu bem. Como tantas vezes o tem feito esta temporada e que permite que o técnico do SC Braga seja, por esta altura, o técnico cujas substituições mais impacto têm em golos e resultados finais das partidas não só da liga portuguesa, mas até nas principais ligas europeias. Nenhum treinador da liga portuguesa conquistou, até agora, tantos pontos em função das suas próprias substituições quanto Abel. Hoje voltou a ficar perto disso. Ou, no máximo, ameaçou repeti-lo. Sem que a equipa estivesse a conseguir oferecer largura ao jogo com Fábio Martins e Xadas e, muito menos, presença em terrenos interiores somente com Danilo e Vukcevic (Horta e Paulinho foram demasiado avançados e pouco médios), Abel trocou os extremos, lançou Wilson Eduardo e João Carlos Teixeira e foi o médio emprestado pelo FC Porto que quase mudou a face do jogo. Ou, melhor, mudou-a mas não de forma suficiente. O Braga ganhou presença interior, ganhou criatividade e cresceu na partida. Por fim, a equipa conseguia construir jogo. Pouco depois, o SC Braga chegou ao golo. Se cerca de dez minutos antes Varela havia sido herói perante Ricardo Horta, frente a Paulinho foi vilão. Ficou a meio caminho de um cruzamento de Horta e Paulinho aproveitou. O empate não surgiu pouco depois por centímetros (Rosic atirou de cabeça por cima) e o Benfica agradeceu. Jiménez, no pior e no melhor, depois de atirar por cima quando surgiu totalmente isolado, em progressão, na cara de Matheus, finalizou de primeira um cruzamento de Cervi da esquerda e, de ângulo apertado, já em período de compensação, deu a vitória ao Benfica.

No futebol chega-se aos golos tendo bola, mas reside muitas vezes na qualidade do jogo sem bola o segredo para se vencer. E, essa capacidade, foi chave na vitória do Benfica, hoje, em Braga. Um Benfica muito intenso durante a fase defensiva que não só anulou o adversário, como permitiu criar mais valias para si próprio. Abel mexeu, mexeu bem, mas era já demasiado tarde.