Portugal
"Barcelona sempre foi a equipa ‘fetiche’ do Jorge Jesus"
2021-11-25 09:40:00
Técnico do Benfica vai atingir número ‘redondo’ no sábado, na visita ao reduto do Belenenses SAD

O ex-futebolista Leal disse que o treinador Jorge Jesus, prestes a cumprir o jogo 600 na I Liga portuguesa de futebol, mostrou capacidade para ter “uma carreira de sucesso” desde que o orientou no Felgueiras, na época 1995/96.

O técnico do Benfica vai atingir o número ‘redondo’ no sábado, na visita ao reduto do Belenenses SAD, para a 12.ª jornada do campeonato, após um percurso no escalão principal que arrancou com o desafio entre o Felgueiras e o Desportivo de Chaves (2-2), em 20 de agosto de 1995, com Leal a marcar o primeiro golo de uma equipa de Jesus na competição maior do futebol nacional.

Contratado no verão de 1995 ao Belenenses, clube em que teve salários em atraso, face aos “problemas financeiros”, o antigo lateral esquerdo, internacional português em 15 ocasiões, recorda que Jorge Jesus “queria muito trabalhar” consigo, tendo-se revelado uma “surpresa muito agradável”.

“Começou a carreira a pulso, em equipas menos conhecidas [Amora], que lhe foram dando traquejo. Deu para ver que estava ali um grande treinador. Via-se perfeitamente entre quem trabalhava com ele que iria ter uma carreira de sucesso como treinador”, disse à Lusa o ex-atleta, que se notabilizou pelo Sporting, entre 1989 e 1994, e pelo Estrela da Amadora, entre 1996 e 2000.

Segundo Leal, o treinador que conduzira o Felgueiras a uma presença inédita na I Liga, em 1995/96, mostrou-se “perfeccionista” logo na pré-época, exigindo que os jogadores “dessem o máximo” e “cumprissem na íntegra” aquilo que pretendia.

“Ficávamos maravilhados com os treinos dele, porque era muito ‘picuinhas’. Não tinha tido até ao momento um treinador assim e já tinha passado por grandes treinadores. Enquanto os jogadores não fizessem aquilo que pretendia, era muito chato”, descreveu.

Além de andar “sempre em cima dos jogadores”, a tentar “tirar o máximo partido das capacidades”, Jorge Jesus também queria apenas jogadores que se adaptavam ao seu “sistema de jogo”, assente num modelo de três defesas centrais, com Leal a ocupar a posição mais à esquerda.

“Na altura, ‘bebia’ muito do FC Barcelona. Sempre foi a equipa ‘fetiche’ do Jorge Jesus. Aliás, ele até fez um estágio no FC Barcelona. E, na altura, o FC Barcelona jogava com três centrais”, lembra.

Utilizado em 34 jogos oficiais na equipa felgueirense que se quedou pela 16.ª posição, descendo à II Liga, o futebolista cumpriu 51 jogos nas duas temporadas em que jogou no Estrela da Amadora (1998/99 e 1999/00) sob o comando de um técnico que se manteve “cuidadoso no treino de campo”.

Grato por Jorge Jesus ter aproveitado as suas “qualidades”, Leal vincou que o atual treinador do Benfica foi um dos dois em Portugal que “mais revolucionou o futebol nas últimas décadas”, a par de José Mourinho.

“Mourinho marcou uma geração de treinadores e Jorge Jesus também. Foram os dois grandes treinadores das últimas décadas, que revolucionaram um pouco o futebol. Toda a gente queria ir ver treinos do Jorge Jesus. Às vezes, as bancadas dos nossos treinos tinham treinadores de [campeonatos] distritais e nacionais a observarem. Hoje, está entre os melhores treinadores do mundo”, defendeu.

Internacional por Portugal entre 1990 e 1992, o ex-jogador realçou que o futebol mudou “bastante” face aos períodos em que foi treinado por Jorge Jesus, já que o crescente número de jogos dá “menos tempo para se treinar”.

“Como não há tempo para treinar, se calhar o fator motivacional põe-se um pouco à frente do treino tático propriamente dito. As equipas não têm muito tempo para treinar e o futebol mudou, mas o Jorge Jesus não deixa de ser um grande treinador. É um grande treinador”, vincou.

Leal enalteceu ainda o trato de Jorge Jesus para com os jogadores dos plantéis que integrou, já que, apesar de se envolver com frequência em discussões e de ser “um bocado agressivo”, nunca castigou nenhum atleta por reagir às suas exigências.

“Cada jogador tem o seu temperamento e, às vezes, havia discussões entre nós, jogadores, e o Jorge Jesus. Às vezes, há momentos em que a gente se exalta, e ele teve sempre a compreensão de nunca castigar um jogador por ter tido uma abordagem menos correta”, observou.