Portugal
As superstições de Zizou na vitória do Real em Munique e os casos portugueses
2018-04-26 16:45:00
Treinador francês traçou um plano para o jogo com o Bayern em que repetiu rotinas e voltou a vencer por 2-1 em Munique

Entrar com o pé direito, benzer-se antes de um jogo começar, tocar o relvado com o dedo indicador quando se entra no campo, todos estes gestos são habituais em jogadores e treinadores e costumam ser explicados com a fé ou a força do hábito, mas também são associados a maior parte das vezes a superstições. Em Espanha, a "Marca" deu esta quinta-feira conta da superstição de Zidane antes do jogo com o Bayern para a primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões que o Real Madrid venceu por 2-1. Um ano depois da equipa merengue ter também vencido na Allianz Arena por 2-1, então no primeiro jogo dos quartos-de-final da competição, o técnico francês dos merengues terá repetido (quase) ao pormenor a anterior deslocação a Munique.

Por decisão de Zinedine Zidane, o equipamento utilizado voltou a ser o preto, a comitiva ficou instalada no mesmo hotel e a tripulação no avião também se repetiu. Assim como o resultado. A Marca foi ainda mais longe e lembrou que tal como em abril do ano passado, foi Toni Kroos o jogador escolhido para sentar-se ao lado do treinador na conferência de imprensa de antevisão à partida, ainda que a escolha tenha razão de ser por o médio do Real Madrid falar alemão.

Como sublinha Jorge Silvério, doutorado em Psicologia do Desporto, este tipo de procedimento feito por Zidane acaba por ajudar a regular os estados emocionais, de ansiedade e confiança. "Procuramos muito regularmente que as coisas aconteçam sempre da mesma forma, o que dá uma certa confiança e transmite tranquilidade. É uma tentativa de ao fazermos as coisas da mesma maneira tentarmos encontrar uma relação de causa-efeito, que neste caso, obviamente, não existe", explica ao Bancada.

Para Jorge Silvério, o que pode influenciar este tipo de comportamento é o facto de as coisas fugirem ao controlo dos jogadores. "Por exemplo, quando um atleta se esquece de se benzer e começa a pensar que o jogo já não vai correr tão bem, não está completamente concentrado", justifica.

A moeda da sorte de Eusébio, os chinelos de Futre, as meias de Paulo Fonseca, as rotinas de Rui Vitória e o abraço à árvore de Cajuda

Em Portugal, há inúmeras histórias de superstições com jogadores e treinadores. No Europeu de 2014, quem não se recorda da toalha branca na mão de Eusébio, com este a incentivar Ricardo nos penáltis frente à Inglaterra? Rezam as crónicas que enquanto jogador, o Pantera Negra fazia questão de colocar uma moeda na bota direita. Para atrair o golo. Paulo Futre também tem histórias curiosas relacionadas com superstições, reveladas em livro. Desde logo, os chinelos no balneário que nunca podiam estar ao contrário, depois as pulseiras que só podia usar no pulso direito.

E até o selecionador nacional Fernando Santos, homem de fé inabalável - leva sempre com ele um crucifixo para o banco durante um jogo - que tem também as suas superstições. Conta-se que depois das meias-finais do último europeu, na conversa informal com os jornalistas que mantinha sempre depois dos jogos, as mesas não estavam dispostas como habitualmente. Fez questão de as recolocar no sítio certo.

Mas há mais: Paulo Fonseca por exemplo, na época em que conduziu o FC Paços de Ferreira ao terceiro lugar da Liga, vendo que as coisas iam correndo bem, passou a usar sempre as mesmas meias nos jogos do campeonato, sem as lavar; Rui Vitória teve durante muitos anos uma superstição: virar as costas nos penáltis. Hoje, está mais despegado dessas situações - "isto não vai lá com mezinhas e abraços", disse recentemente picando os rivais. Mas já admitiu que gosta de repetir as rotinas quando um jogo corre bem, como os lugares que os jogadores ocupam no autocarro ou com a camisa que veste para o jogo. E nem Cristiano Ronaldo escapa a este rituais. Ele que, por exemplo, no Real Madrid gosta de ser o último a entrar em campo, ao contrário da seleção portuguesa onde não o pode fazer por ser o capitão.

Manuel Cajuda, em recente entrevista ao Expresso, faz a síntese da relação entre as superstições no futebol e a sua relação com os resultados. "Fui, fui muito supersticioso (...)Um dia, meti na cabeça que só ganhava jogos se antes desse um abraço a uma árvore (...)Houve outra altura em que nunca vestia cuecas brancas. Até que comecei a perceber que quanto mais trabalhava mais sorte parecia que tinha".