Portugal
As finais de Portugal (IX): Apuramento seguro num batatal hostil
2017-10-10 17:35:00
Para garantir a qualificação para o Mundial 2010, Portugal teve de passar no difícil terreno da Bósnia, em Zenica

O palco não era o mais bonito, mas a Seleção Portuguesa saiu em beleza do batatal de Zenica, na Bósnia-Herzegovina, onde garantiu a qualificação para o Mundial 2010. Nos dias antes da partida, mais do que de Dzeko ou Pjanic, falou-se da receção hostil em Sarajevo, das questões de segurança no Estádio Bilino Polje e do mau estado do relvado. No final, foi de forma segura que Portugal se apurou, vencendo por 1-0, depois de ter conseguido o mesmo resultado em Lisboa.

A Seleção Nacional, orientada por Carlos Queiroz, tinha ficado em segundo lugar do grupo de qualificação, atrás da Dinamarca, tendo por isso de ir ao play-off para garantir o apuramento. Depois de uma vitória por 1-0 no Estádio da Luz, a deslocação à Bósnia previa-se complicada. Jorge Franco, a quem chamam o “fã número 1 de Portugal” e que é proprietário do Hotel “A Seleção”, em Setúbal, recordou ao Bancada que o ambiente “foi muito difícil mesmo. Já fui a muitos jogos e onde me senti com bastante dificuldade foi nesse jogo.”

Apesar de alguns sustos por que passaram jogadores e adeptos portugueses e de um dos árbitros assistentes ter sido atingido na cabeça por um objeto lançado da bancada, Portugal conseguiu superar os vários obstáculos que enfrentou, vencendo com um golo de Raúl Meireles.

Quando um avançado como Dzeko não é o perigo de que mais se fala

À chegada a Sarajevo, a Seleção Nacional foi surpreendida por uma receção hostil no aeroporto, com insultos e cuspidelas por parte de um grupo de adeptos bósnios. O então presidente da Federação, Gilberto Madaíl, não quis “pôr mais gasolina na fogueira”, mas confirmou que “houve pequenos incidentes. De empurrões ninguém falou. Houve insultos e cuspidelas. Isso vai ser dito ao oficial de segurança da FIFA e ele irá tomar nota, mas não houve agressões. Isso seria grave, gravíssimo.”

Na altura, o coronel António Oliveira, comandante da GNR na Bósnia, garantia à TSF que aquele era “um país seguro” e o presidente da Câmara de Zenica, a cidade onde se disputou o jogo, afirmava que Portugal não ia “enfrentar quaisquer problemas de segurança”. As mensagens eram todas tranquilizadoras. O que não era tranquilizador era o facto de se falar tanto em questões de segurança, antes de uma “simples” partida de futebol.

Jorge Franco e o grupo de portugueses com quem estava sentiram na pele a receção hostil e andaram “quase ao murro”. “Entrámos num café, éramos uns cinco ou seis, bebemos uns copos e nesse bar estavam mais uns bósnios e eles foram ter com a moça a dizer que quem pagava a despesa deles era a nossa mesa… ainda fomos depois para uma discoteca, houve polícia, copos partidos, tivemos uma experiência muito pesada”, recordou ao Bancada.

Mas, se os adeptos bósnios eram fonte de preocupação para dirigentes e adeptos, os jogadores e o treinador tinham outro problema com que se preocupar: o relvado.

Um relvado que parecia um batatal

Antes do jogo, o selecionador Carlos Queiroz avisou que, devido ao estado do relvado, “o grau de imprevisibilidade de uma bola, de um ressalto ou de uma queda é maior. Só no final é que poderemos fazer as contas e saber se o jogo e se o estado do relvado foi mais prejudicial a uma equipa do que à outra. É este o campo onde temos de jogar, é neste campo, neste palco, nesta arena e é aqui que vamos ter de ganhar o jogo”, disse Queiroz, enquanto Simão Sabrosa garantiu que a Seleção ia “tentar, mesmo com as condições do relvado, ter a bola do nosso lado”.

A boa reação portuguesa no dia do jogo

Não houve qualquer problema de maior nem com a Seleção, nem com os adeptos e, para Jorge Franco, o ambiente até terá motivado mais os portugueses. “Fomos ao hotel onde a seleção estava, ali a poucos metros do estádio e quase que não podíamos vir cá fora, porque havia uma pressão enorme sobre nós”, mas isso, “pode afetar de uma maneira positiva: ‘estão-se a portar de tal maneira, que nós vamos mostrar que somos melhores”, é como o que se passou agora na final de França, mandaram o CR7 para o estaleiro e a equipa disse: ‘agora vamo-nos unir e mostrar que somos melhores’. Às vezes, nós portugueses precisamos de levar umas ‘porradinhas’ para acordar, foi o que se passou”, explica.

No estádio, confirmou-se o “ambiente muito hostil” e os portugueses ficaram “ali todos metidos num cantinho, bem guardados com a polícia deles”, mas a Seleção respondeu da melhor maneira. O golo de Raúl Meireles, aos 56’, praticamente matou a eliminatória, porque obrigava os bósnios a marcar três para seguirem em frente, e Jorge Franco lembra que eles “estavam furiosos, porque, sendo o último jogo na casa deles, a expectativa era muito alta”. Talvez por isso, quem pagou foi um dos árbitros assistentes, que foi atingido na cabeça por um objeto atirado da bancada.

E, assim, Portugal conseguiu sair ileso e garantir a qualificação para o Mundial da África do Sul no dia em que, além de enfrentar Dzeko e companhia, teve também de superar um relvado em mau estado e um público hostil.

Recorde o jogo

Data: 18 de novembro 2009

Local: Estádio Bilino Polje, Zenica

Golo: Raúl Meireles, 56’

Bósnia-Herzegovina: Hasagic, Pandza, Nadarevic, Jahic, Salihovic, Ibricic, Medunjanin (Muslimovic 45’), Pjanic, Bajramovic (Berberovic 82’), Ibisevic, Dzeko.

Treinador: Miroslav Blazevic

Portugal: Eduardo, Paulo Ferreira, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Duda, Pepe, Tiago, Raúl Meireles, Nani (Edinho 73’), Simão (Deco 80’) e Liedson (Miguel Veloso 90’).

Treinador: Carlos Queiroz