Portugal
André Horta: o miúdo que chegou às seleções com uma história de carne e peixe
2018-04-03 18:15:00
O amor ao Benfica e a história de como chegou aos Sub-19 portugueses. André Horta pelas palavras de quem o conhece.

Benfiquista de coração, com futuro definido rumo aos Estados Unidos e uma personalidade que cativa qualquer um, nas palavras de quem o conhece. André Horta já confirmou que vai ser jogador do Los Angeles FC, na sequência de uma época de afirmação que está a ter com a camisola do SC Braga, emprestado pelo emblema que o viu nascer para o futebol, o Benfica. Numa fase da ainda curta carreira em que é uma das principais figuras da Seleção Nacional de Sub-21, o percurso do médio com a camisola de Portugal começou no escalão Sub-19, tudo por causa de uma história que envolveu um maior gosto pela carne do que pelo peixe de alguém que teve impacto para a carreira de André…

Ficou confuso com o que foi dito mesmo acima? Pois bem, André Horta começou a formação no Benfica, mas não a terminou no Seixal, pois aos 16 anos foi parar ao Vitória de Setúbal. Em plena terra sadina, o centrocampista encontrou Jorge Prazeres, que o treino nos juniores da equipa setubalense e teve dedo na primeira chamada de Horta às seleções jovens portuguesas, em 2014. Assim o contou o técnico de 43 anos ao Bancada. “Eu fui escolhido para participar numa ação de formação na Holanda a convite da FPF. O Prof. Edgar Borges [selecionador dos Sub-19 no momento] estava incluído na comitiva. Face ao excelente campeonato que a minha equipa estava a fazer, com vitórias históricas sobre o Sporting e Benfica, questionei-o se esta equipa não tinha ninguém com valor suficiente para estar na seleção”, começou por referir Jorge Prazeres.

Depois de um primeiro enquadramento da história que colocou André Horta nos Sub-19 portugueses, está no momento de dar a conhecer a tão aguardada história da carne e do peixe. Ora, vamos lá, guiados pelas palavras de Jorge Prazeres. “O Prof. Edgar respondeu que não tinha recebido nenhum relatório dos ‘scoutings’ da Federação a Sul. Então perguntei-lhe se ele gostava de carne ou peixe... e ele, desconfiado, disse que gostava de carne, pois era uma homem do Norte! Eu respondi-lhe que quem fazia os relatórios era do Sul e lá gostam de peixe... no fundo, fiz a analogia de ‘olhos que não veem, coração que não sente’. Ele perguntou-me quem é que eu tinha pronto. Falei-lhe no André Horta e a caminho o Luís Elói [pertence ao Sporting]."

A verdade é que, desde então, André Horta tem sido nome habitual nas seleções jovens portugueses, com seis encontros disputados pelos Sub-19, sete pelos Sub-20 e já soma quatro partidas pelos Sub-21 de Rui Jorge. Não só nas camadas jovens o médio deixou a sua marca, com uma temporada 2015/16 de alto a nível no Vitória de Setúbal a resultar no regresso à casa-mãe, ou seja, ao Benfica. Rui Chaves, conhecido no mundo do futebol como Ruca, foi colega de Horta nos sadinos e recordou ao Bancada “a época de afirmação” de André. “O ‘mister’ Quim Machado sempre fez questão de frisar que não ligava a idades, nem estatutos, e apostou desde cedo no Horta, passou-lhe muita confiança e permitiu que ele começasse a mostrar toda a qualidade. A postura dele, sem medo, apesar de ser um miúdo que tinha acabado de chegar a sénior, a irreverência e toda a qualidade permitiram a rápida afirmação”, salientou o jogador emprestado pelo CD Tondela ao Alki Oroklini (Chipre).

Cativante, rei das brincadeiras e a rivalidade saudável com o irmão

Para saber quem é André Horta dentro de campo existem sempre os jogos, as repetições… mas, o Bancada quis saber como é o médio de 21 anos fora das quatro linhas e encontrou respostas similares. “O André tem uma personalidade cativante. Tem sempre um sorriso, sempre pronto para estar no centro da  confusão no balneário. Tem um bom comportamento com todos”, recordou Jorge Prazeres. Ainda assim, nas palavras do treinador, “o André detesta sair do jogo, ou não ser primeira opção”. Caso Bob Bradley, técnico do Los Angeles FC, esteja a ler, fica já a saber.

Depois de regressar ao Benfica em 2016, André Horta foi esta temporada emprestado pelos encarnados e está prestes a despedir-se da Luz em definitivo, com a ida para os Estados Unidos. Não sabemos como se sente o médio de momento, mas Jorge Prazeres recordou como o encontrou quando tinha sido enviado das camadas jovens do Benfica para as do Vitória de Setúbal. “O André sempre demonstrou ser um indivíduo com uma grande autoestima. Quando chegou ao Vitória, estava numa fase difícil, desiludido por ter saído do clube do seu coração. Encontrou um grupo forte e coeso, que o ajudou a erguer e rapidamente começou a demonstrar uma qualidade diferenciada.” Rui Chaves falou também sobre o sentimento que André nunca escondeu. “Ele não faz questão de esconder todo o amor que tem pelo Benfica. Quando se confirmou a transferência para ele voltar ao Benfica, via-se que era o sonho dele que se estava a concretizar, a maior alegria que ele podia ter no futebol, com 19 anos.” Dois anos depois, esse sonho parece ter chegado ao fim.

Também aqueles que partilharam balneário com André Horta o veem como alguém que emana tranquilidade e que traz energias positivas ao balneário. Assim disse Rui Chaves, que jogou com Horta no Vitória. “É um menino muito tranquilo, gosta de brincar e mesmo sendo o mais novo nessa época não tinha problema nenhum de interagir nas brincadeiras de balneário,’meter-se’ com os mais velhos, mas sempre num ambiente de grande respeito e, claro, sabendo qual era o lugar dele. Era muito acarinhado por toda a gente.” Por falar em colegas de equipa, André joga esta época com o irmão Ricardo no balneário e a rivalidade saudável entre ambos foi um dos pontos destacados por Jorge Prazeres. “Outro fator determinante é a competição saudável que mantém com o irmão, o Ricardo. Ambos tiveram a felicidade de nascer no seio de uma família super estruturada e presente. São indivíduos de excelência, com muito talento.”