Portugal
André Cruz, aquele tipo que não convivia e que tentou vender Ronaldo
2018-07-21 21:45:00
Edmílson, que conheceu André Cruz, fala-nos do ex-central do Sporting.

Os rumores parecem ter fundo e parece quase certo que André Cruz, lenda do Sporting, será o diretor desportivo do clube caso João Benedito vença as eleições. É apenas um cenário, mas é suficiente para irmos conhecer um pouco mais de André Cruz. Falámos com Edmílson, que se cruzou com André no Sporting, e ficámos a saber algumas coisas sobre a personalidade do ex-central, que chegou a contar, ao Bancada, um episódio muito curioso com Fábio Capello. André Cruz é, ainda, um indivíduo que foi diretor desportivo do Sporting... como jogador. Já lá vamos a tudo isto.

Antes, conheçamos a pessoa. André Cruz é, afiançam-nos, um tipo incrivelmente calmo. “É muito calmo e tranquilo. Já era assim como jogador, mas também é assim fora do campo”, define Edmílson, elogiando: “É uma pessoa espetacular. Sabe o que quer e é gente boa”.

A dois meses de fazer 50 anos, André Cruz poderá voltar a ter um papel importante no Sporting. Nada a que ele não esteja habituado. Afinal, este paulista chegou a ser um dos líderes das equipas do Sporting campeãs nacionais em 99/00 e 01/02.

Um diretor que o foi antes de o ser

Mas não ficamos por aqui no trabalho de André pelo Sporting. André Cruz chegou a tentar fazer de diretor desportivo… enquanto ainda era jogador. Sim, leu bem. Foi o próprio a contar que, um dia, já trintão, quando começou a partilhar o balneário com Ronaldo, tentou aconselhar o português a um tubarão italiano.

"Eu vi o começo de carreira do Ronaldo, do Quaresma e do Hugo Viana. Eu até indiquei o Cristiano Ronaldo para um diretor do Milan que é um amigo meu, o Ariedo Braida. Eu liguei-lhe e disse: ‘Aqui tem três jogadores bons: o Hugo Viana, um médio canhoto, o Quaresma, um atacante que joga pelo lado direito, tem boa movimentação e é muito rápido e tem um aqui que é um fenómeno, que é o Cristiano’. E ainda disse: ‘Este ‘cara’ lembra o Ronaldo Fenómeno quando era novinho e magrinho. Se olhares, rapidamente percebes isso, até fisicamente", contou, ao “UOL”.

André Cruz, o “diretor desportivo”, acabou por não conseguir vender Ronaldo ao AC Milan. O português foi parar a Manchester e André Cruz, em jeito de brincadeira, puxa dos galões: “As pessoas falam: ‘Tu jogaste com o Cristiano Ronaldo?’ E eu falo: ‘Não, ele é que jogou comigo. Eu já tinha participado num Mundial e jogado no Milan, enquanto ele era ‘molecão’ ainda. Ele é que jogou comigo", brincou.

Este brasileiro, quase com meio século no BI, é apontado como possível diretor desportivo do Sporting, na lista de Benedito. A questão que se impõe é se se trata da pessoa indicada. Edmílson, que conheceu André Cruz, fala-nos do perfil para a função. “É uma pessoa muito séria. Pelo que conheci dele, acho que tem perfil de diretor. Sempre acompanhou o Sporting e, por já ter falado com ele, sei que está ligado à realidade do clube”, analisa, antes de disparar: “Não sei se irá dar certo ou não, mas, se ele vier a ter essa possibilidade, é uma grande aquisição”.

O tipo que não convivia

Voltando à personalidade de André Cruz, não é injusto falar de alguém muito sério. Edmílson reforçou-o várias vezes e até contou uma história para explicar que… não tem histórias. Confuso?

Pedimos a Edmílson que nos contasse um episódio engraçado ou bizarro que tivesse vivido com André Cruz. O brasileiro disse-nos que não lhe ocorria nada e explicou o motivo: “O André era muito sério. Acabava os treinos e ia para casa. Ou seja, não convivia muito”.

A personalidade calma e reservada de André Cruz impede-nos de ter mais histórias, mas permite-nos ter uma certeza: João Benedito está a tentar dar ao Sporting um diretor que quer mais trabalho do que holofotes, mais eficácia do que conversa e, sobretudo, mais seriedade do que circo. E o clube de Alvalade, com André Cruz ou sem André Cruz, não dirá que não a uma boa dose de estabilidade e seriedade.

Que coisa linda, André!

No Sporting, como jogador, André Cruz era mais do que um líder. Era o homem que, por vezes, resolvia os jogos. Quem disse que era preciso ser avançado ou extremo para resolver jogos com frequência?

André Cruz sempre foi um canhoto com boa saída de bola, boa antecipação e com um “plus” mais raro: os livres diretos. Ao Bancada, Edmílson atesta isso mesmo: “Lembro-me dos livres, que eram meio golo. Já sabíamos que se ganhássemos uma falta, o André ia bater bem. Era meio golo já feito”.

Um dos pontos altos da passagem de André Cruz pelo Sporting foi o dia 18 de março de 2000. Nessa noite, em Alvalade, a coisa valia muito. Em caso de vitória, o Sporting passaria o FC Porto e assumiria a liderança do campeonato. E lá foi o André, aos 16 minutos.

“O golo mais bonito que marquei pelo Sporting foi o meu primeiro em Alvalade contra o FC Porto. Foi esse o mais bonito. Abriu o caminho para a vitória que acabou por ser de 2-0, com mais um golo do Acosta, e na altura passámos para a frente do campeonato”, chegou a contar André Cruz, ao Bancada.

O dedo de Capello

A terminar, trazemos uma história que nos foi contada pelo próprio André Cruz, em abril. E esta história ajuda a explicar o talento do defesa nos livres diretos. Sim, a tal façanha que conquistou, até hoje, o coração de tantos leões.

O episódio, relata André Cruz, ao Bancada, passou-se quando o brasileiro foi treinado por Fabio Capello, no AC Milan.

“O Capello sempre se preocupou em complementar os fundamentos específicos para cada jogador. No meu caso, apesar de ser defesa, era a finalização e os livres diretos. Um dia, após o treino, o Capello chamou-me e disse ‘dá uma olhada: vê quem ficou e quem está a ir embora’. Tinham ficado eu, Maldini, Weah, Kluivert, Boban e Savicevic, para treinar finalização. Eu e o Boban nos livres. E ficaram ainda os guarda-redes.

Os jovens estavam a ir embora e o Capello disse-me: ‘Eu quero ver qual desses jovens conseguirá chegar a ser titular numa grande equipa. Tenho a certeza de que nenhum deles vai lá chegar’. Eu, realmente, não me lembro de nenhum deles ter chegado a ser titular e mantido uma carreira numa grande equipa. Essa história ficou-me marcada”.

André Cruz acabou, tal como adivinhou Capello, por ser um dos que teve uma carreira bonita e em grandes equipas. A passagem pelo AC Milan não foi espetacular – apenas 13 jogos numa temporada e meia –, mas André Cruz foi titular em equipas como Ponte Preta, Flamengo, Standard Liège, Nápoles e, claro, Sporting. Mais: esteve num Mundial, uns Jogos Olímpicos e duas Copa América com a seleção brasileira. É obra.

Falou-se de obra? É precisamente isso que Benedito espera dele.