Ailton é um dos laterais mais capazes da Liga Portuguesa. O Benfica esteve atento a isso, mas deixou-o cair este peixe miúdo, ex-Estoril, que foi pescado pelo SC Braga, onde poderá tornar-se peixe graúdo. Os minhotos contrataram um brasileiro baiano. E o que é que o baiano tem? Tem mau perder e, um dia, depois de “ajudar” o Benfica, tinha necessidade de uma conversa. E houve alguém que adivinhou algo nessa conversa. Já lá vamos.

Falámos com Diogo Amado, ex-colega de Ailton, no Estoril, que, ao Bancada, falou de um rapaz bem disposto.

“O Ailton é uma pessoa alegre e fácil de se relacionar e de gostarmos dele. Consegue sempre ter um sorriso na cara e faz bem a um grupo de trabalho”, diz Diogo Amado (atualmente no Catar), ao Bancada, antes de acrescentar: “A não ser que perca uma pelada ou um jogo. Aí, sim, consegue-se tirar a boa disposição dele”.

Voltamos ao trocadilho musical. Carmen Miranda, um dia, decidiu eternizar seu nome na história, cantando “o que é que a baiana tem?”.

Natural de Lauro de Freitas, na Bahia, Ailton tem mostrado muita coisa, por cá. Perguntamos nós: o que é que este baiano tem? Para quem tem visto o Estoril, este baiano tem propensão ofensiva, potência e muita força física. Não é assim, Diogo Amado? “Concordo plenamente. O Ailton é um lateral bastante ofensivo, que junta à sua capacidade física o facto de ser rápido e muito forte tecnicamente. Causa bastantes desequilíbrios nos processos ofensivos”.

O problema de Ailton, dizemos nós, pelo que se viu do jogador no Estoril, é a noção da defesa interior. Ailton nem sempre consegue fechar dentro, deixando, muitas vezes, um espaço largo para o central do lado esquerdo, algo que os adversários aproveitam. É perfeito para, por exemplo, ter um médio a romper em profundidade entre Ailton e o central.

No entanto, esta ainda parca maturidade em termos de posicionamento é compensada pela capacidade defensiva no um contra um. Diogo Amado explica-nos isso mesmo.

“Acho que devo referir também que, além da sua propensão ofensiva, o Ailton é bastante combativo defensivamente e, no 1x1, sente-se bastante à vontade”.

O que ele faz a atacar...

E a defender...

Um erro fatal com o Benfica e um comboio perdido

Vamos a um pouco de história, que não há perfis sem história. Ailton nasceu na Bahia, como já dissemos, mas não foi lá que começou a dar pontapés na bola. Ou melhor, até foi. Começou a jogar através do PIEP, um programa social de incentivo à prática desportiva. Mas assim mais a sério, não foi lá. Desceu uns quilómetros – por “uns quilómetros” queremos dizer mais de 1000 – e aninhou-se no Rio de Janeiro. Esteve nos juniores do Fluminense e acabou por se estrear pela mão de Vanderlei Luxemburgo, numa equipa onde também estava Deco, para além de nomes como Fred, Wellington Nem ou Rafael Sóbis.

A partir daqui, Ailton foi um permanente “saltitão”. Andou de empréstimo em empréstimo, passando pelo Jacobina, no Brasil, antes de uma longa viagem até ao Azerbaijão e, depois, para Portugal. Vamos parar com o perfil cronológico, que isto está a ficar chato.

17 de dezembro de 2016. Por volta das 22 horas, Ailton estava no relvado do António Coimbra da Mota. Foi a essa hora que decidiu colocar a mão à bola. Proibido, dizem as leis. Penálti, disse o árbitro. Golo, disse Jiménez. O Benfica venceu por 1-0, graças ao penálti cometido por Ailton. Esta é uma história à qual voltaremos daqui a pouco.

Depois dos primeiros meses no Estoril, Ailton já estava a suscitar o interesse do Benfica. Pelo menos é o que rezam as manchetes dos jornais dessa altura. O jogador era dado como certo. Certíssimo. Mais do que certíssimo. Mas foi parar ao sudoeste alemão. Esteve uns meses em Estugarda, mas, com apenas cinco jogos feitos, foi novamente cedido ao Estoril, em janeiro. O resto da história já nós sabemos.

Ailton assinou pelo SC Braga e, no Minho, poderá ter porta aberta à titularidade. No momento da apresentação oficial, o jogador disse que aceitou "de forma rápida" a proposta do clube. "Fiquei muito feliz a partir do momento que recebi a proposta do SC Braga. Por isso, aceitei de forma rápida. Tenho carinho pelo clube e o projeto encaixa naquilo que é o meu perfil. Foi uma decisão rápida de tomar", explicou. 

O que também poderá ser bastante rápida é a presença no onze. Jefferson, o lateral titular nesta temporada, deverá sair. Está emprestado pelo Sporting e, segundo a imprensa desportiva, dificilmente ficará em Braga. Sequeira, o suplente, é apontado como um dos nomes que poderá sair. Com isto, sobram Ailton e o polivalente Marcelo Goiano. A titularidade deste brasileiro deverá estar dependente da abordagem de Abel Ferreira e António Salvador ao mercado. Poderá chegar uma "truta" para lutar com Ailton ou um jogador que seja um backup do brasileiro. 

“Estava destroçado”

Pedimos a Diogo Amado que nos contasse algo que tenha vivido com Ailton e que o tivesse marcado. O médio português lembrou-se de algo que não é particularmente divertido ou bizarro, mas que foi importante na relação entre ambos. Como prometido, voltamos à tal história do penálti frente ao Benfica.

“Tenho uma história que não posso dizer que seja engraçada, mas sim curiosa e que me deixa orgulhoso. Julgo ter sido após o jogo contra o Benfica, na Amoreira, em que o Ailton fez penálti. No final do jogo, além da derrota, o facto de ter feito o penálti estava a deixá-lo destroçado. Como capitão, na altura, achei que era importante conversar com ele e chamei-o para uma sala. Elogiei o seu jogo, a capacidade de superação que demonstrou e que em nada o penálti mancharia a sua exibição”.

“Acrescentei que, continuando a trabalhar assim, o trajeto seria sempre a subir. Que teria todas as condições para vingar no futebol e mostrar a sua fantástica qualidade”.

_{Diogo Amado e Ailton num festejo frente ao Cova da Piedade}

De facto, Diogo Amado acertou em cheio. Apesar de estar numa equipa que desceu de divisão, Ailton conseguiu dar não um passo em frente, mas muitos passos em frente: vem aí o SC Braga.