Com a chegada de Piccini e a provável mudança de Fábio Coentrão de Madrid para Alvalade - já realizou exames médicos -, Jorge Jesus fica com as laterais renovadas dos dois lados. No entanto, mudar as alas da defesa é algo a que o técnico verde e branco está habituado. Ao todo, foram 30 os laterais utilizados por Jesus nos últimos quatro clubes que representou: Sporting, Benfica, SC Braga e Belenenses.

Maxi Pereira foi a principal exeção. Hoje no FC Porto, o uruguaio foi dono e senhor da lateral-direita do Benfica durante os seis anos em que Jesus foi técnico das águias. De resto, apenas dois laterais chegaram às três temporadas com Jesus, o que faz com que 27 dos 30 jogadores tenham tido passagens relativamente curtas pelas suas mãos.

No Sporting, Jorge Jesus já contou com seis opções para as laterais em apenas duas épocas, às quais acrescem Piccini e, muito possivelmente, Fábio Coentrão. Desses seis jogadores, nenhum se assumiu como titular indiscutível. Ricardo Esgaio e Jefferson também já saíram e mesmo Zeegelaar e Schelotto não têm presença garantida no plantel.

Quem conhece Jorge Jesus explicou ao Bancada o motivo deste fenómeno. Fernando Mendes, lateral-esquerdo de Jorge Jesus no Vitória de Setúbal e ex-jogador do Sporting, lidou de perto com o trabalho que JJ impõe aos defesas esquerdos e direitos das suas equipas. E contou-nos porque é que é tão difícil para um lateral de Jorge Jesus ficar muito tempo na sua equipa.

"Ele é extremamente exigente com os laterais. Gosta de ter laterais que defendam bem e que ataquem bem e, acima de tudo, com muito ritmo para fazer os flancos. Da forma que ele mete as equipas a jogar, os laterais têm sempre um papel fundamental. E não é fácil encontrar laterais com essas características. São exeções, como aconteceu com o Fábio Coentrão. Foi um jogador que foi adaptado à posição e acabou por correr bem. O Maxi Pereira também não era um lateral, acaba por ser adaptado e defende bem e ataca bem. E a forma dele jogar é essa. Os laterais têm um papel preponderante na equipa. E nem sempre há esses laterais, nem sempre é fácil encontrá-los. Daí a exigência dele", revelou o antigo internacional português..

Areias, que hoje é treinador nas camadas jovens do FC Porto, foi jogador de Jorge Jesus no Belenenses. O antigo jogador portista, também ele defesa-esquerdo, descreveu o lateral ideial para uma equipa orientada pelo treinador campeão nacional em três ocasiões.

"Jorge Jesus dá uma grande importância ao aspeto tático. Sem dúvida que os laterais sabem bem o que fazer a nível defensivo, ele trabalha muito a defesa durante a semana. Cada um sabe aquilo que tem de fazer dentro de campo. E ofensivamente é a mesma coisa. Como a equipa está normalmente bem posicionada dentro de campo, os laterais têm liberdade para subir porque sabem que o trinco ou central vai ter a sua devida compensação. E isso depois reflete-se no campo. Os laterais dão rendimento porque acabam por fazer imensos cruzamentos que acabam em golo e defensivamente conseguem estar sempre bem porque estão trabalhados", disse ao Bancada, não esquecendo a exigência referida por Fernando Mendes.

"É um treinador que deixa um desgaste muito grande. Com exigência máxima, que cobra bastante nos seus jogadores. É a sua maneira de ser, de estar no futebol e de trabalhar e há que respeitar isso. De todos os treinadores que tive na minha carreira foi um dos mais exigentes", admitiu.

Jorge Jesus e César Peixoto em 2008/09, quando ambos representavam o SC Braga (foto: Hugo Delgado/Lusa)

Treinado por Jesus no SC Braga, primeiro, e depois no Benfica, César Peixoto foi um dos vários jogadores mais ofensivos a serem transformados em defesas-laterais. Ao Bancada, Peixoto explicou que, no seu caso, a saída do Benfica não se deveu a qualquer transtorno com o treinador, mas precisamente com a posição a que jogava.

"Não saí por ter problema nenhum. Só não queria continuar a jogar como lateral-esquerdo. Não tive qualquer problema em trabalhar com Jorge Jesus. Na forma como ele trabalha a linha defensiva e na forma de defender, os dois laterais, principalmente defensivamente, são muito importantes na forma como fazem a linha. Não é só estar atento ao adversário, há vários parâmetros que são difíceis de cumprir se não fores minimamente evoluído taticamente. E ofensivamente, os laterais têm que dar bastante largura nas equipas dele para transportar jogo e aparecer muitas vezes na frente. Os laterais com ele são muito ofensivos", considerou.

E o futuro das laterais de Jesus? César Peixoto não tem dúvidas: Coentrão tem tudo para dar certo se não voltar a ter problemas físicos.

"O Coentrão foi meu colega, já trabalhou com o Jesus e sabe perfeitamente aquilo que ele quer num lateral. Se não tiver lesões, não tenho dúvidas que será dono do lugar. Em condições normais, é uma contratação segura", disse-nos, preferindo não tecer comentários sobre Piccini por falta de conhecimento sobre o mesmo.

Da mesma opinião é Fernando Mendes, que também reconheceu ter pouca informação sobre Piccini e assegurou que Fábio Coentrão vem para chegar, ver e vencer... se o corpo deixar.

"Eu conheço mal o Piccini. Sinceramente, não tenho uma opinião muito analisada sobre este jogador, vi um ou dois vídeos. No entanto, se mais alguém vier para lateral-direito, terá de ser alguém para chegar aqui e pegar de estaca. Já com o Coentrão, se não tiver problemas físicos, a posição fica resolvida. O Sporting está a apostar tudo para ser campeão nacional, e para o ser tem que ter bons laterais", concluiu ao Bancada.

Recorde todos os laterais esquerdos e direitos utilizados por Jorge Jesus em Belenenses, SC Braga, Benfica e Sporting.