Portugal
A diferença entre grandes e restantes clubes da Liga não tem aumentado
2017-08-11 21:30:00
O Bancada comparou os valores dos plantéis das várias equipas da Liga nos últimos anos

No espaço de poucos dias, Abel Ferreira, treinador do SC Braga, e Manuel Machado, treinador do Moreirense, queixaram-se da diferença de orçamentos entre os três grandes clubes portugueses, Benfica, FC Porto e Sporting, e os restantes clubes da Liga. O Bancada analisou o valor dos plantéis dos clubes nos últimos anos e concluiu que a diferença, sendo muito grande, não tem aumentado nos últimos anos. No caso específico do SC Braga, sim, há hoje em dia maior distância do que há cinco anos.

“Nós temos um orçamento de 15 milhões e os nossos adversários têm orçamentos de 150 milhões. E a tendência até é para aumentar, se não se fizer nada contra isso”, disse Abel depois da partida do SC Braga frente ao Benfica, enquanto, esta sexta-feira, Manuel Machado, na antevisão do jogo frente ao Feirense afirmou que “o espetáculo tem-se perdido. Enquanto não houver maior equilíbrio nos orçamentos dos clubes nunca teremos um espetáculo dividido e, por isso, nunca haverá um espetáculo desportivo apelativo e atraente excetuando as três grandes casas e um ou outro elemento como o Vitória de Guimarães, que tem uma massa associativa diferente”.

Um maior orçamento permite, em teoria, que os clubes tenham plantéis mais valiosos e de maior qualidade. Assim, para verificar se a afirmação de Abel, de que a diferença dos três grandes para os restantes tem aumentado, está correta, comparámos os valores dos plantéis dos três grandes nas últimas temporadas, com o dos restantes clubes.

Como o gráfico demonstra, o valor médio dos plantéis dos três grandes (linha cinzenta no gráfico) é muito superior ao dos restantes clubes da Liga. Excluindo SC Braga, cujo valor do plantel está bastante acima das restantes equipas do campeonato, ainda que bastante abaixo dos três grandes, o valor médio do plantel dos restantes clubes da Liga tem variado entre 16 e 20 milhões de euros, enquanto o valor médio dos plantéis dos grandes tem variado entre 176 e 186 milhões de euros. A diferença é enorme (o valor médio dos plantéis dos grandes esta temporada é mais de 11 vezes superior ao valor médio dos plantéis dos clubes “pequenos”), mas a diferença tem-se mantido praticamente igual nos últimos cinco anos, não se verificando a tendência referida por Abel. É, no entanto, importante notar que o treinador do SC Braga falava nos orçamentos e não nos valores dos plantéis, que são aqui analisados.

O SC Braga é um caso especial no campeonato português porque o valor do seu plantel está acima dos restantes clubes da Liga (é mais de três vezes superior) e, no entanto, é cerca de um terço do valor dos plantéis dos três grandes. No caso dos minhotos, em particular, é verdade que a diferença para os três grandes tem aumentado nos últimos anos. Em 2012/13, o plantel do SC Braga era mais valioso do que é atualmente e o dos grandes era ligeiramente menos valioso, o que permitia ao clube presidido por António Salvador intrometer-se na luta por um lugar no pódio mais facilmente do que acontece hoje em dia.

Ainda assim, não deixa de ser curioso verificar que as queixas que Abel fez relativamente à diferença de valores do seu SC Braga para o Benfica poderão também ser feitas pela maior parte dos treinadores da Liga em relação ao mesmo SC Braga.