Opinião
Venha o dérbi
2018-08-24 14:00:00
Luís Catarino faz a antevisão para o encontro entre o Benfica e o Sporting.

Os clubes portugueses ainda se movimentam em matéria de transferência de jogadores e, por causa disso, os plantéis ainda não ficaram concluídos para os meses iniciais da temporada. No entanto, o dérbi lisboeta, que se realiza amanhã na Luz, já tem qualquer coisa de convidativo, mesmo que Jonas possa vir a estar ausente e de a recuperação de Bas Dost ainda estar por confirmar.

Gedson é um dos novos elementos para a nova temporada. Tanto ele como João Félix e David Tavares, que se lesionou com gravidade no arranque dos trabalhos, eram há muito tempo projetados para, na época 2018/19, fazer a ponte do Seixal para a equipa principal. Felizmente para Rui Vitória, Gedson não desiludiu e tornou-se, nestas primeiras semanas, um caso sério de afirmação, com crescimento exibicional. Transporta, rompe, recupera e compreende bem os movimentos de cooperação com Fejsa, o sentinela que lhe guarda as costas, e Pizzi, o líder da zona média com quem o centrocampista são-tomense alterna as infiltrações na grande área adversária.

Contra o Sporting, Rui Vitória não deve mexer nessa estrutura de três médios, a tal que, mesmo não assegurando o jogo de criação com a mesma pinta de Krovinovic ou que não conte com os recuos de Jonas até à zona ofensiva, possibilita invasões-surpresa na área que dificultam imenso a ação defensiva do oponente. Se Ferreyra prender Mathieu ou Coates, e esse é um ponto forte do ex-Shakhtar, há espaço que o Benfica pode aproveitar com essas invasões em corrida, que são quase sempre potenciadas no corredor central por Gedson e, sobretudo, Pizzi.

Desde a International Champions Cup que Rui Vitória foi à procura da consolidação desse tipo de ataques, enquanto ‘Toto’ Salvio também se torna mais letal nas aproximações da direita para a zona de golo, algo que pode vir a confundir Jefferson. O lateral-esquerdo do Sporting gosta de avançar para efetuar cruzamentos, em particular para Bas Dost, mas não pode dar muito espaço ao extremo de Avellaneda. Em muitos momentos, teremos o Benfica a jogar propositadamente recuado, tendo Gedson, Fejsa e Pizzi a controlar bem a zona central à frente de Rúben Dias e Jardel. Essa é a melhor forma de afastar as combinações de Bruno Fernandes e de Nani perto da grande área benfiquista e também se torna a melhor maneira de esperar pelo erro dos centrocampistas do Sporting e de desenvolver raides em direção à baliza leonina.

Cervi já é mais variado no posicionamento em ataque, trabalhando também em função da chegada de Grimaldo, o lateral com melhor resolução ofensiva quando entra na metade do campo adversária, seja junto à linha ou pelo meio. Quem sabe, até, se Grimaldo não vai apanhar Diaby pela frente, numa possível estreia do canhoto que veio da Bélgica.

Diaby dará mais mobilidade à frente leonina durante a temporada e tanto pode jogar em vez de Bas Dost no centro do ataque, como a partir do flanco direito, fazendo diagonais. Mas se Bas Dost, por acaso, vier a estar indisponível para a deslocação à Luz, este até pode ser um bom jogo para Montero, avançado que conecta bem com os colegas em apoios curtos, algo que o Sporting também vai precisar em muitos momentos para transportar a bola até à grande área de Vlachodimos.

Bruno Fernandes não vai estar tão amarrado como esteve no jogo contra o Vitória FC, em que Semedo lhe fez uma marcação impiedosa. É a unidade ofensiva mais preponderante dos leões em termos de armação de jogo e será curioso saber em que flancos vão jogar mais tempo Acuña e Nani, duas unidades que são fundamentais no trabalho de cooperação para Bruno Fernandes sobressair.

Tanto Acuña como Nani rendem mais no lado esquerdo. O argentino encontra nesse flanco o espaço mais conveniente para cavalgadas com a bola ou para desferir cruzamentos por alto à procura de Bas Dost, mas Nani também entrar ligeiramente melhor para o espaço interior a partir da esquerda. Talvez a solução passe por ir fazendo ambos permutar de flanco, mas Acuña é o que normalmente fica mais prejudicado quando vai para a direita, entendendo que Jovane deve começar no banco e tornar-se uma carta importante para os sprints da ponta final do jogo. Curiosamente, quando Acuña estiver mais inclinado para a direita até pode tirar partido da presença mais aproximada de Montero, caso seja o colombiano a jogar.

Um dos aspetos que mais tem fragilizado o Sporting é a insuficiência na elaboração ofensiva na zona média e na posterior movimentação dos médios para desajustar o sistema defensivo adversário. Isso ficou particularmente explícito em alguns momentos do jogo em Alvalade contra os sadinos, quando, ao lado de Battaglia, Misic não assumia ou não conseguia fazer corretamente o passe para engrenar a ligação. Irá Petrovic voltar à titularidade, como em Moreira de Cónegos?

Por outro lado, apesar de uma ou duas tentativas de Battaglia e de Misic em se desmarcarem na frente, a frequência não foi a desejada e, por isso, os ataques do Sporting foram mais encravados. É nesse parâmetro que a aquisição de Gudelj pode tornar-se uma mais-valia, para espevitar o meio-campo com melhor raciocínio e movimento. Contra o Vitória, foi Acuña, a meio da segunda parte, a fazê-lo numa posição-base mais central (esteve na génese do segundo golo), com um arranque corajoso, mas Peseiro sabe que essa foi uma cartada de improviso e que não deve ser utilizada com continuidade, julgamos.

Sem Jonas, o dérbi perde génio e classe, mas Ferreyra poderá ser importante para reforçar a dinâmica de desmarcações que Gedson, Pizzi e Salvio gostam de praticar em direção à zona de remate. Por outro lado, para José Peseiro seria bom ter Bas Dost para um recurso mais direto. É verdade que o holandês não precisa de tantas ocasiões para fazer golo, mas Montero também teria as suas mais-valias para se integrar na troca de bola com os médios-ofensivos do Sporting que poderão ter alguns problemas para definir situações de golo quando esbarrarem na zona defensiva benfiquista.

Luís Catarino é comentador da Sport Tv e escreve no Bancada às sextas-feiras.