Opinião
Uma mensagem a quem adora Salvio e outra a quem o odeia
2018-09-06 14:00:00
Agora, imaginem o jogador que Salvio poderia ser.

Salvio é, talvez descontando o sempre mal-amado André Almeida, o jogador que mais discordância provoca entre a opinião pública, apesar do excelente início de temporada que está a ter. E há razões para isso. Salvio é o Óscar Cardozo do Benfica atual. Já lá vamos à comparação.

No último fim de semana, frente ao Nacional, Salvio voltou a marcar um golo. Mais um dia no escritório, para o ala argentino. E é por isso – e também pelas discordâncias na redação do Bancada – que trago uma reflexão sobre Salvio. Vamos dividi-la.

Para quem odeia Salvio:

Salvio é, de longe, o extremo com mais golo da Liga Portuguesa e, por extensão, do Benfica. Estaria capaz de apostar que Zivkovic – que, para mim, não é um ala – ou Rafa nunca apareciam naquele segundo poste a finalizar o cruzamento de Seferovic. E, se aparecessem, teriam dificuldades em finalizar. Digo-o porque Salvio é isto: é baliza, é golo, é capacidade de finalização e, acima disto, é faro de golo (convém lembrar que Salvio começou a carreira, na Argentina, como segundo avançado, mais pelo centro e em zonas de finalização). Uma equipa que tem Salvio está sempre perto de, num cruzamento mal medido, numa bola perdida ou numa jogada atabalhoada, lá vir o pequeno argentino. E não há disto aos pontapés por aí.

Além disto, Salvio é outra coisa: é, também de longe, o extremo da Liga com maior capacidade de “ir para cima”. Não tem medo do 1 contra 1 e, sozinho, permite à equipa esticar-se no terreno, conduzindo e protegendo bem a bola, ora pelo corredor, ora em movimentos interiores. Dá largura, dá profundidade, ganha faltas e dá as soluções técnicas que, muitas vezes, faltam a André Almeida (do lado contrário, Cervi tem Grimaldo para ajudar a desbloquear no 1 contra 1). E isto é importante, porque Salvio combina muito melhor com Almeida do que combinaria com Grimaldo, por exemplo. O excesso de 1 contra 1 de Salvio é compensado por Almeida, enquanto o excesso de 1 contra 1 de Grimaldo é compensado por Cervi, um jogador que prefere temporizar e, sobretudo, combinar em tabelas (a sociedade Grimaldo-Cervi-Zivkovic - uma das poucas rotinas coletivas consolidadas em 2017/18 - não se percebe bem porquê, foi destruída).

Um plus: Salvio tem raça – é impressionante a quantidade de ressaltos que ganha em bolas divididas – e, defensivamente, compromete-se bastante. É por isso que tantos dizem que poderia dar um grande lateral.

Para quem adora Salvio:

O problema de Salvio é – e perdoe-nos o argentino a falta de elegância na definição – o QI futebolístico (ou falta dele). Salvio é, provavelmente, o extremo do Benfica com pior capacidade de decisão, quer em zonas de definição, quer mesmo quando baixa para zonas de criação. Opta quase sempre pela finta e não olha à volta. Opta pelo remate e não pensa em mais ninguém. Opta pelo passe longo e não vê quem tem disponível lá perto. Opta pelo passe difícil quando tem um passe fácil. Zivkovic - repito: não é um ala - é muito mais criterioso na forma de pensar o jogo e escolher a melhor opção. Até Rafa, com os seus problemas de finalização, é um jogador que, na decisão, é forte.

Salvio decide quase sempre mal e é sobretudo por isso que provoca tanta ira nos adeptos encarnados. Nisto, faz lembrar Óscar Cardozo, que, pela parca mobilidade, conseguia ter os adeptos a “mandar vir” durante 80 minutos e, de repente, dava o golo da vitória. Salvio é igual: consegue perder 10 bolas e tomar 10 más decisões, mas, depois, é ele quem não desperdiça a boa oportunidade de golo.

Agora, imaginem o jogador que seria Salvio, caso fosse mais forte na decisão.

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