Opinião
Pinto da Costa elogiado pelo mesmo que Bruno de Carvalho foi criticado
2018-08-23 14:00:00

O FC Porto não deixou Moussa Marega ir para a Premier League receber muito mais do que aquilo que recebe em Portugal e ainda o castigou por forçar a saída. A estrutura azul e branca afastou o maliano do grupo de trabalho e obrigou-o a pedir desculpa caso quisesse voltar a fazer parte da equipa. A posição de força de Sérgio Conceição e Pinto da Costa vai merecendo os maiores elogios da generalidade da opinião pública, ao contrário do que aconteceu quando Bruno de Carvalho defendeu os interesses do Sporting nos últimos grandes negócios dos leões.

A ver se nos entendemos: não quero fazer, aqui, a defesa de Bruno de Carvalho, até porque o antigo presidente do Sporting tem deixado bem claro, nos últimos meses, que não precisa de apoio alheio, porque é ele o primeiro a atacar-se a si próprio com atitudes e tomadas de posição que o afastam, irremediavelmente, do futuro próximo do clube de Alvalade. Bruno de Carvalho tornou-se matéria tóxica para o Sporting e para o futebol português, mas uma coisa o caso Marega deixa bem claro: Bruno de Carvalho incomodou muita gente quando ousou defender intransigentemente o Sporting.

O FC Porto fez-se valer do seu direito e do contrato assinado com Moussa Marega e disse, para quem estivesse interessado, que só se discutiria uma eventual saída do maliano se algum clube batesse os 40 milhões da cláusula de rescisão estipulada entre clube e jogador. E com razão. Pese embora eu acredite que Marega não vale o valor da cláusula, a verdade é que o jogador, e os seus representantes, aceitaram as condições aquando da assinatura do contrato, provavelmente, com um enorme sorriso no rosto e felizes da vida. Como, aliás, tem sido prática no FC Porto desde que a moda das cláusulas de rescisão pegou, os jogadores só saem mediante o pagamento da cláusula liberatória. E muito bem.

Os jogadores têm direitos, ambições e objetivos, mas os clubes também têm. Muitos desses jogadores são apostas em fases precoces da carreira, são riscos que os clubes correm e compromissos assumidos pelas estruturas das sociedades que têm naqueles futebolistas o património de clubes centenários. Mais. A pressão que os líderes destes clubes sofrem no sentido de cederem às ambições pessoais de cada jogador chega de todos os lados: da entourage que gravita em torno do jogador em questão e até da opinião pública, que geralmente se coloca do lado dos atletas. E é aqui que faço o meu caso.

A posição intransigente e irredutível do FC Porto, perante a vontade de Marega em rumar à Premier League onde iria auferir um ordenado muito superior ao que aufere na cidade Invicta, tem sido consentida, aplaudida e vista como um exemplo, ou seja, um basta às exigências dos jogadores, empresários e pais. Acontece que quando Bruno de Carvalho ousou fazer o mesmo no Sporting a coisa foi diferente. Ninguém percebeu porque não deixava, o presidente dos leões, que os jogadores mais valiosos do plantel saíssem por dá cá aquela palha. Bruno de Carvalho foi criticado por se fazer valer dos contratos que assinou com os jogadores e seus representantes.

A questão é simples. A generalidade do pessoal que comenta futebol por esses programas televisivos que inundam os canais portugueses não gostava de Bruno de Carvalho, porque o homem é arrogante, presunçoso e faz caretas, pensou que era tudo dele e a malta não gosta disso. Ou seja, o problema não era o que Bruno de Carvalho fazia na defesa do Sporting, o problema era mesmo Bruno de Carvalho. A Sousa Cintra é permitido dizer que “há jogadores no plantel que não fazem falta nenhuma ao Sporting” porque a malta gosta do atual líder da SAD sportinguista, fosse Bruno de Carvalho dizer tal coisa e a chuva de críticas era imediata.

Cheguei a ouvir num desses programas, um comentador afirmar que “uma coisa era Pinto da Costa não deixar sair Marega e exigir os 40 milhões de euros, outra foi o que Bruno de Carvalho fez, porque pedia 20 e depois 30”, por jogadores como Adrien, Slimani e João Mário. Afirmação que não foi seguida por qualquer explicação que justificasse a separação de posições. A questão ficou clara, o problema era mesmo Bruno de Carvalho e o seu jeito intromissor, prepotente e conflituoso. O pessoal não está para isso.

Volto a dizer, em jeito de conclusão, não estou a fazer a defesa de Bruno de Carvalho. O homem perdeu as estribeiras, é realmente arrogante, presunçoso e pensou que isto era mesmo tudo dele. Enganou-se, e 71 por cento dos sócios do Sporting explicaram-lhe que ele está a mais e que tem de se afastar. O que condeno é a hipocrisia generalizada dos comentadores que não admitem que nunca foram à bola com Bruno de Carvalho, porque o homem é realmente inconveniente.