Depois de perder no Estádio do Restelo, Sérgio Conceição garantiu que o FC Porto vai lutar muito pelo título de campeão nacional. Este verbo – lutar – tantas vezes (justamente) utilizado e elogiado, pode ajudar a perceber parte da quebra abrupta dos azuis e brancos, que abandonaram a liderança depois de perderem seis pontos em apenas duas saídas. Lutar é sempre importante, mas pode não ser suficiente.
À falta de outros argumentos e de outras armas, Sérgio Conceição apostou quase tudo na intensidade, na construção de um FC Porto imponente na forma como conseguiu, muitas vezes logo nos primeiros minutos dos jogos, atacar e ferir de forma definitiva tantos dos adversários esta temporada.
O elenco incluiu laterais com ADN atacante, meio-campo agressivo na reação à perda de bola e avançados fortes, capazes de esfrangalhar defesas nos encontros de nível médio do campeonato português. Nesta estratégia encaixou de forma perfeita Marega, um jogador sem quase nada que o possa tornar especial em termos técnicos, mas capaz de repetir o tal verbo – lutar – em cada lance. Com a pertinácia de Marega, o acerto finalizador de Aboubakar ou Soares em vários jogos e a eficácia nas bolas paradas ofensivas, o FC Porto de Sérgio Conceição foi construindo uma época cada vez mais sólida e variada em termos de objetivos.
A onda de lesões, as pontuais (mas fundamentais, como foi o caso de Marcano no Restelo) baixas devido a castigo e alguma resistência de Sérgio Conceição no que toca à revisão do plano principal de voo da temporada tiveram papel importante na perda da liderança para o Benfica.
Haverá uma explicação lógica e fundamentada de Sérgio Conceição para o eclipse permanente de Óliver Torres, um médio criativo capaz de encontrar formas mais diversificadas de atacar a baliza adversária (quer pelo transporte de bola, quer através do passe). O espanhol não chegou ainda aos 750 minutos de jogo no campeonato e nem sequer foi chamado ao relvado nos encontros com o Paços de Ferreira e Belenenses, quando a equipa pareceu precisar de variedade nas soluções, face a um jogo exterior diminuto e pouco perigoso. Óliver Torres também luta, mas utiliza mais vezes os verbos jogar e criar.
Para o FC Porto, o problema não está apenas na queda de produtividade e na perda da liderança. A equipa de Sérgio Conceição começa a vacilar fora de casa e na trajetória descendente que parece agora atravessar terá encontrado a meio o Benfica, o novo favorito à conquista do título, que escala rapidamente o caminho contrário. O plantel curto do FC Porto e a sucessão de boas alternativas encarnadas para cada baixa que se apresenta a Rui Vitória cavam a diferença entre dois candidatos aparentemente iguais. Mas o título continua longe de estar decidido.
P.S. – Foi tudo perfeito naquele momento em que Cristiano Ronaldo se elevou no ar e fez da bicicleta mais um pedaço de imortalidade futebolística. A pedalada correu logo mundo à velocidade da luz, mas não deixou de dar boleia aos aplausos dos adversários. Os adeptos italianos da Juventus ficaram rendidos àquele instante, infeliz para as cores que amam, mas memorável para os ficheiros históricos do futebol.
Em 1981, John Huston realizou o filme “Fuga para a vitória”, a história de uma equipa de futebol formada por prisioneiros aliados que defronta e vence a selecção da Alemanha nazi. O jogo acaba com festejos aliados e um memorável e cinematográfico pontapé de bicicleta de Pelé (um dos atores do filme). A beleza do golo arrebata a plateia e até um dos oficiais nazis (interpretado por Max Von Sydow) se levanta para aplaudir o remate. Descontado o contexto histórico, as semelhanças são evidentes.
Em Turim, a realidade imitou a ficção.