Opinião
O que tem faltado a FC Porto e Sporting
2018-10-09 13:35:00

Disse no início desta época que aquilo que Sérgio Conceição tinha conseguido, ao fazer do FC Porto campeão quando tanto Benfica como Sporting tinham, no papel, plantéis mais fortes, tinha sido um milagre e que não convém abusar dos milagres. O início da Liga tem mostrado, ainda assim, uma diferença bem menor entre Benfica e os seus dois rivais – FC Porto, mas também um Sporting que perdeu a maior parte do seu onze titular – do que aquilo que poderia esperar-se. Os encarnados estão na frente, mas convém não esquecer que já receberam portistas e sportinguistas na Luz e que os leões até já foram a Braga, o que pode ajudar a justificar parte da diferença pontual. Mas aquilo que FC Porto e Sporting (não) fizeram neste fim-de-semana não deixa de ser preocupante para quem pretende ver em ambos pretendentes reais ao título.

A questão leonina é mais fácil de explicar, mas seria ilusório achar que se resume à crise primaveril e à debandada geral que se lhe seguiu. Neste início de época, José Peseiro não tem contado com sete (Patrício, Piccini, Mathieu, Coentrão, William, Gelson e Dost) dos jogadores que mais vezes formaram onze-base com Jesus na última Liga e isso ajuda a perceber as fracas exibições da equipa. Mas não explica tudo. Não explica uma equipa que mantém sempre tanta gente atrás, que não invade as zonas de criação e finalização com contingente suficiente para ser coletivamente desequilibradora e mesmo assim comete erros infantis de posicionamento defensivo. Não explica a falta de qualidade na saída de bola, que leva a equipa a bater tantas vezes longo na frente, condenando Montero a um tipo de futebol com o qual se dá mal, nem a forma como, tendo vincado (bem) a sua posição, o treinador voltou a abdicar de Nani, de cuja qualidade a equipa de facto precisa – e isso viu-se bem na segunda parte do jogo de Portimão, onde voltou a ver-se o Sporting a atacar.

O caso do FC Porto não terá tanto a ver com saídas – mesmo tendo Sérgio Conceição perdido Ricardo e Marcano, entre os mais vezes titulares na época passada – mas mais com a natural perda de eficácia de uma estratégia motivacional que passa muito pela exaltação emocional. Mesmo sendo uma equipa que tinha mais tempo a bola, o FC Porto campeão fez muitos golos em ataque rápido e contra-ataque, beneficiando da explosão de Marega e Aboubakar ou do poder em transição-ofensiva de jogadores como Ricardo ou Sérgio Oliveira. À exceção de Ricardo, todos lá têm estado (Aboubakar só se lesionou na semana passada), mas se por um lado os adversários já olham para o FC Porto com outros olhos e se defendem mais, por outro os próprios dragões terão menos sede de vitória, menos sanha justiceira, porque agora lhes é dado o devido mérito e já não são vistos como meros “outsiders” – e isso pode contribuir para a tal ineficácia da mensagem de Sérgio Conceição, sempre muito emocional, sempre muito contra alguém. Se a linha defensiva pode até ter melhorado com Militão em vez de Marcano, no ataque este FC Porto está demasiado dependente da fineza de Brahimi. Na Luz, por exemplo, quase não se viu, dando a ideia de uma equipa satisfeita com o empate.

Numa coisa os dois treinadores e os responsáveis têm razão. As distâncias não são assim tão graves, sobretudo tendo em conta o que já se jogou e o que falta jogar, mas também aquilo que o Benfica e o SC Braga têm mostrado. Ao Benfica falta consistência e, apesar do golo de Seferovic a Casillas, falta um ponta-de-lança que compreenda a equipa e seja, ao mesmo tempo, uma máquina goleadora. Será Jonas? Será Ferreyra? Ao SC Braga, ainda por cima com a mesma premissa que a equipa de Domingos Paciência, que em 2009/10 foi a última dos minhotos a discutir o campeonato até ao fim – a inglória ausência das provas europeias – parece faltar constância de rendimento e sobrar medo cénico de se assumir como candidato real, como se viu na incapacidade para aproveitar as circunstâncias e assumir a liderança isolado ganhando ao Rio Ave no mesmo relvado onde até já tinha batido o Sporting.