Opinião
Notas do arranque da Liga
2018-08-14 14:00:00

A primeira jornada da Liga mostrou que os três grandes continuam demasiado fortes para a concorrência, acentuando uma tendência recente, que é a de todos ganharem a abrir: acontece já há três anos seguidos, depois de uma década sem se verificar, como pode ter ficado a saber por este trabalho do Luís Santos Castelo. Esta é uma tendência europeia, a de os clubes que têm acesso nem que seja episódico ao dinheiro da Champions ficarem cada vez maiores, pelo menos se em comparação com a concorrência nacional, mas não deixa de ser digna de notícia. E no entanto, à exceção do FC Porto – seja porque está mais forte do que a Supertaça deixara antever ou porque este GD Chaves foi mesmo confrangedor, de tão curto – os outros candidatos ao título deixaram dúvidas a pairar.

A entrada do FC Porto na Liga foi imperial, à campeão. Agressiva nos momentos defensivos, impedindo o GD Chaves de sequer passar a linha de meio-campo, a equipa de Sérgio Conceição foi inteligente no uso da bola, explorando sempre bem as lacunas da frágil organização defensiva transmontana, sobretudo o espaço nas costas dos laterais ou a fraca propensão para correr atrás dos dois alas. As trocas posicionais entre o médio direito e o avançado menos posicional – no caso Otávio e André Pereira – não são propriamente uma novidade, mas foi sempre assim que o FC Porto furou a defesa de Daniel Ramos, chegando ao intervalo com três golos de vantagem que bem podiam ser desde logo os cinco da conta final. É cedo para dizer que este FC Porto está muito forte, até porque o jogo da Supertaça tinha deixado dúvidas e importa esclarecer que parte desta demonstração de poder teve a ver com a fragilidade do adversário – o que só se entenderá com mais testes –, mas também me parece que não terão sorte os que procuram nas trocas de palavras entre Pinto da Costa e Sérgio Conceição razão para crer num FC Porto dividido e à beira do conflito: quando for importante, todos remarão para o mesmo lado, porque Pinto da Costa já terá percebido que treinador tem. Conceição é um treinador sanguíneo, que precisa de soltar a válvula da panela de pressão de quando em vez, mas que se lhe derem esse espaço não nega esforços.

Tal como o FC Porto, o Benfica também chegou cedo aos 3-0 – e de caminho até falhou um penalti. É verdade que o Vitória SC obrigou Vlachodimos à primeira boa defesa da noite ainda com o marcador em branco e que, na sequência do penalti falhado por Ferreyra e ainda com o score em 1-0, Boyd atirou uma bola ao poste, de tanto a desviar do guarda-redes grego. E agora fica também a dúvida: é este Vitória que é mais forte do que o GD Chaves ou foi o Benfica que não foi tão poderoso como o FC Porto? Provavelmente um pouco das duas coisas. Primeiro, parece incontestável que este Vitória tem argumentos com bola que o GD Chaves não mostrou no Dragão: os médios vimaranenses conseguiram sempre encontrar o espaço nas costas do meio-campo encarnado em momentos de transição ofensiva e se só chegaram ao golo depois de Rui Vitória optar por repousar Fejsa, já antes tinham tido ocasião para o fazer. Este Benfica pareceu forte do ponto de vista ofensivo – gente mais perto de Ferreyra do que, por exemplo, no jogo de há uma semana com o Fenerbahçe – mas para isso teve de soltar Pizzi e Gedson, abrindo brechas atrás. Outra questão para avaliar nas próximas semanas tem a ver com a boa notícia que foi a permanência de Jonas: entra no onze em vez de Ferreyra, neste 4x3x3, dando-se mais ao jogo sem perder presença em zonas de finalização, ou força Vitória a trocar o sistema e a sacrificar um dos médios? Disso dependerá muito o que vai ser este Benfica de 2018/19 e o que ele valerá.

Por fim, o Sporting, que teve o pior arranque possível para uma equipa que passou o processo de desagregação que os leões superaram no Verão: aos 6’ já estava a perder com o Moreirense. José Peseiro optou por um onze conservador, com dois médios de cariz claramente defensivo (Petrovic e Battaglia) e dois extremos (Nani e Acuña) que são mais médios-ala do que avançados e raramente oferecem à equipa opções de ataque pela profundidade ou desmarcações de rotura. O 4x2x3x1 do Sporting em Moreira de Cónegos aproxima-se mais de um 4x5x1 (às vezes do 4x4x2 se Bruno Fernandes andar mais pela área e a falta de capacidade de construção atrás não o fizer recuar em busca das rédeas da equipa) controlador do que de um 4x3x3 agressivo do ponto de vista atacante. Creio que sem a entrada das duas “motas” que Peseiro chamou para a ponta final do jogo (Jovane e Raphinha) nunca os leões teriam desfeito o empate, o que pode ter dado ao treinador a convicção de que numa Liga como a portuguesa, numa Liga onde os candidatos ao título perdem tão poucos pontos como na portuguesa, controlar vai custar muitos empates e uma distância demasiado grande para os da frente.