Prolongamento
Miguel Rosa, o "Gerrard" que jurou amor eterno ao Belenenses
2018-01-12 21:30:00
A falta de oportunidades no Benfica, o objetivo de regressar à elite e as lágrimas no "até já" ao Belenenses.

Uma jura de amor eterno que perdurará para a eternidade deste fenómeno que conhecemos como desporto rei. Miguel Rosa deixou o Belenenses, seis épocas e meia depois, para restabelecer a carreira no Cova da Piedade, mas a saída de Belém foi pautada por lágrimas e por uma carta de despedida que fez lembrar a que Steven Gerrard deixou ao Liverpool FC quando deixou para trás o amor da vida futebolística. "Tudo na vida tem um limite, menos o meu amor pelo Belenenses", escreveu um emotivo Miguel Rosa.

"Quando eu estiver a morrer, não me levem ao hospital, levem-me a Anfield, ali nasci e ali morrerei. Nunca esta frase de Steven Gerrard, quando deixou o Liverpool, fez tanto sentido para mim. Hoje, é o dia em que digo até já a toda a nação Belenenses.” Miguel Rosa deixou Belém, mas o coração ficou por lá, nas mãos do Velho do Restelo. Em conversa com o Bancada, o médio de 28 anos frisou este como um dos, senão o, momento mais complicado da carreira, naquele que não é um “adeus”, mas sim um “até já” a um amor futebolístico.

“Foi dos momentos, senão o momento, mais difícil da minha carreira e um dos momentos mais difíceis da minha vida, deixar um clube que tanto me deu e que eu amo”, salientou Miguel Rosa ao Bancada. No total, com empréstimos enquanto pertencia ao Benfica pelo meio, foram seis temporadas e meia em que o centrocampista representou a turma de Belém, tempo que não será esquecido, pelas memórias proveitosas que deixou. “Foram sete anos maravilhosos, tive o prazer de jogar na Liga Europa, entrar na história do clube, ser um dos jogadores com mais jogos pelo Belenenses, estar num patamar com Matateu, Pepe, não é para qualquer um, por isso foi com lágrimas nos olhos que me despedi daquele grande clube.”

Porém, este não é um ponto final na história da relação entre Miguel Rosa e o Belenenses, tal como o assegurou o próprio jogador. “Eu tenho a certeza de que isto é um ‘até já’, tenho a certeza de que vou voltar ao Belenenses, eu amo aquele clube e sempre vou amar. O Belenenses perdeu um jogador dentro do campo, mas jamais perderá um adepto e um sócio fora dele. O Belenenses é meu e eu sou do Belenenses. Sem dúvida alguma de que queria acabar a carreira no Belenenses e tenho a certeza de que vou acabar, pois sei que vou voltar um dia.” O fim da carreira de Miguel Rosa aparenta estar ainda bem distante, mas o médio já está mais do que decidido relativamente ao sítio em que pretende estar nesse momento.

Crédito: André Kosters.

A falta de oportunidades no Benfica e a conversa com Jesus

Antes de chegar ao Belenenses, Miguel Rosa era um dos jovens que mais prometia no futebol português. Formado no Benfica, o médio sempre foi uma das figuras em principal destaque nas camadas jovens dos encarnados, mas quando foi o momento de dar o salto para a equipa principal algo falhou. Tal como já aconteceu a muitos outros, as oportunidades no plantel principal não apareceram, nem mesmo depois de uma época 2012/13 em que Miguel Rosa foi o melhor jogador da Segunda Liga, a representar o conjunto secundário das águias.

“No Benfica, quando fiz a grande época na equipa B, em que fui o melhor jogador da Segunda Liga, se calhar, nessa altura, apanhei das melhores equipas do Benfica dos últimos 20 anos, com Gaitán, Aimar, Saviola, Enzo Pérez, Di María... não era fácil jogar ali, eu compreendia… mas, também, por vezes, nos jogos da Taça de Portugal e da Taça da Liga achava que poderia ter hipóteses e não as tive”, referiu Miguel Rosa. A verdade é que nessa mesma temporada o médio não realizou qualquer minuto pela equipa principal dos encarnados e a saída parecia ser, cada vez mais, o cenário mais provável... situação que ficou comprovada após uma conversa com Jorge Jesus, então treinador do Benfica.

Crédito: Miguel Rosa Facebook.

“Perdi a esperança de fazer parte do plantel principal do Benfica quando tive uma conversa com o mister Jorge Jesus, em que ele deu-me muitos exemplos de jogadores - que são craques mundiais, como Di María, Salvio, Aimar, Saviola - e que assim dificilmente teria oportunidades e que o melhor para mim era continuar na equipa B e no ano seguinte dar o salto para a Primeira Liga. Foi o que aconteceu”, recordou Miguel Rosa. Uma conversa que ficou na memória e que teve como desfecho a saída do Benfica a título definitivo.

Quanto à decisão de deixar para trás um passado de vários anos ligado ao Benfica, Miguel Rosa considerou a opção de sair a título definitivo com um passo em frente na carreira. Para isso mesmo acontecer, o Belenenses teve papel fulcral. O médio já tinha representado a equipa do Restelo durante duas temporadas (2010/11 e 2011/12), cedido pelas águias, mas em 2013/14 chegou a Belém a título definitivo e, assim, abriram-se as portas do principal escalão do futebol português.

“Sair do Benfica a título definitivo foi o melhor, pois iria ter poucas hipóteses de jogar e o Belenenses abriu-me as portas para poder estrear-me na Primeira Liga, depois de já ter estado no clube no segundo escalão durante duas épocas. Aí, começou uma história linda… Quando fui para o Belenenses na primeira divisão foi bom, porque entrei na história do clube, tanto pelo número de jogos, como de golos, e também por ter jogado na Liga Europa”; recordou Miguel Rosa, que não tem dúvidas quanto à descrição plena para o tempo que passou com o Azul do Restelo vestido. “Estes últimos sete anos no Belenenses foram muito marcantes e sempre o serão.”

O futuro? Regressar aos grandes palcos

Foi promessa no Benfica, certeza no Belenenses e agora segue-se o Cova da Piedade. Que futuro para Miguel Rosa? Primeiramente, o retorno ao segundo escalão do futebol português. Mas, será que é por lá que o médio pretende ficar durante o resto da carreira? Não, de todo. O regresso aos grandes palcos do desporto rei luso está na mente do jogador, com a necessidade de somar minutos nas pernas a falar mais alto neste momento. “O meu objetivo, neste momento, é ter minutos nas pernas, porque não estava a conseguir ter no Belenenses e numa altura destas preciso de jogar, pois sei que o meu lugar é na Primeira Liga, sei que já dei muito ao futebol e sei também que vou voltar a sorrir no futebol”, revelou ao Bancada.

Crédito: Miguel Rosa Facebook.

Será esse regresso à elite portuguesa já na próxima época com a camisola do Cova da Piedade? A verdade é que a tarefa não será fácil, pois a equipa de Almada encontra-se na 13.ª posição da Segunda Liga, a nove pontos dos lugares de subida. Ainda assim, Miguel Rosa não atira a toalha ao chão e confia na imprevisibilidade do segundo escalão como trunfo a ter em conta. “O Cova da Piedade está um pouco longe [do topo da tabela classificativa], mas na Segunda Liga tudo é possível, o último classificado pode ganhar ao primeiro… porém, como é lógico, claro que é muito difícil subir ao principal escalão. Vim para o Cova pelas questões que já referi, tinha também hipóteses de clubes da Primeira Liga, mas por outras razões tive que vir para o Cova da Piedade”, confidenciou Miguel Rosa.

Aos 28 anos de idade, ainda faltam escrever vários capítulos na carreira de Miguel Rosa, mas o jogador já tem alguns momentos entre o topo daqueles que foram os melhores até agora. “Como melhores momentos da carreira, considero que tenho vários, como ter sido o melhor jogador jovem, do mês e do campeonato durante três anos seguidos, que talvez sejam os melhores anos da minha carreira, e também ter-me estreado na Liga Europa e feito história no Belenenses.” O estatuto de pior vai para uma lesão. “O pior momento foi quando me lesionei, tive uma lesão no joelho que me impediu de jogar durante seis meses.”