Opinião
Falta pouco para isto começar
2018-03-30 14:00:00

Até 14 de junho é um salto. E embora ainda haja interesse nas competições relativas aos clubes, o aroma a Mundial já mexe connosco e os projetos táticos dos vários selecionadores das seleções estrangeiras ganham maior pertinência em vésperas de convocatórias finais.

Tanto o Brasil como a França viajaram à Rússia para tomar um aperitivo, em Moscovo e São Petersburgo, respetivamente. A ‘Sbornaya’ está devastada com a praga de lesões, com particular incidência no eixo da defesa, e Cherchesov encarou o duplo compromisso com desconfiança, tanto que perdeu os dois jogos porque a equipa não supera o estado de mediania. Porque Uruguai e Egito são equipas boas, chegar aos "oitavos" não será um milagre para a Rússia, mas quase.

Mesmo sem Neymar, Tite sentiu a Canarinha em grande estilo e o triunfo em Berlim confirma-os num patamar de respeito, próximos das maiores potências: Alemanha e Espanha. A França ainda está num degrau abaixo dos brasileiros em termos de consistência. Prova disso foi a segunda parte descafeinada contra a Colômbia em St.Denis, quando Pekerman percebeu que tinha de bloquear a intervenção de Lemar no meio. Olho nos ‘cafeteros’…

Deschamps aceitou a falência parcial do 4-4-2 nos ‘Bleus’, reformulou o desenho tático para enquadrar três centrocampistas no estádio do Zenit e deu ao papa-léguas M’Bappé, o novo camisola 10, a posição de ponta de lança, ladeado por Martial e Dembélé. Coman está lesionado e não foi. No Mónaco, de Jardim, M'bappé já havia jogado centrado no ataque, mas com Radamel Falcao em dupla. Sozinho no ataque é que não é tão frequente. Extremo-direito no PSG e possível avançado-centro na seleção, o prodígio de Bondy é a figura máxima do futebol francês da atualidade e destruiu Neustädter num pestanejar. Faz sentido aproximá-lo da baliza, mas importa saber como funcionará a coexistência com Griezmann, sem prejuízo da eficácia na fase defensiva, num período em que foi preterido Moussa Sissoko, anteriormente protegido por Deschamps pelo alcance tremendo na faixa direita e zona central.

Contra a Holanda e Itália, Southgate ordenou novamente a Inglaterra com os três defesas-centrais e é a partir dessa base que a equipa dos Três Leões vai tentar reinar. Ainda assim, recuperar a forma de Lallana é prioritário para a equipa ter criatividade a inventar soluções ofensivas.

A Bélgica é uma das maiores incógnitas. Tem um dos agregados mais entusiasmantes do mundo, mas daí a fazer uma equipa harmoniosa vai uma certa distância e as coisas ainda não fluem como toda a gente esperava que fluíssem. Hazard, Mertens e Lukaku formam um ataque teoricamente fabuloso, mas De Bruyne precisa de maior cobertura no meio e o equilíbrio coletivo ainda é intermitente. O entendimento entre Nainggolan e Martínez não é o melhor e não é garantido que o “ninja” da Roma aceite o estatuto de suplente, resultado do comportamento desviante fora do campo, na leitura do selecionador.

Não dá para falar de todos neste espaço, mas atentem na intrépida seleção de Marrocos, que é mais forte do que aquilo aparenta à primeira vista. Esqueçam as falácias dos 'rankings'. Habituado às andanças do futebol africano, Renard tem sabido formar uma equipa em que alguns dos jogadores são absolutamente deslumbrantes no controlo de bola, como Ziyech, Boussoufa, Belhanda, Boufal e Harit. Benatia, da Juventus, lidera a defesa e Boutaib, o avançado, dá trabalho que se farta. O Irão tem menos recursos, mas Azmoun é mais útil na seleção do que no Rubin Kazan, ao mesmo tempo que Alireza, do AZ Alkmaar, é um dos melhores extremos-direitos da presente edição da liga holandesa.

Talvez o maior destaque mediático desta semana de jogos de seleções tenha sido a derrocada argentina no WM, em Madrid. Não foi insignificante, mas não lhe dou um relevo acentuado, em virtude das múltiplas modificações feitas por Sampaoli. Na hora da verdade, serão uma das equipas mais difíceis de ultrapassar.

Luís Catarino é comentador da Sporttv e escreve no Bancada às sextas-feiras.

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