Opinião
Conceição, Vitória e Jesus: a convicção ou a falta dela
2018-02-15 14:00:00

De equipa que "defende mal", propícia a tremendas falhas de marcação, o Liverpool FC passou a ser um conjunto de "outra dimensão" como foi catalogado por diversas vezes esta quarta-feira como forma de justificar ou atenuar a copiosa goleada de 5-0 infligida ao FC Porto, a maior da história dos dragões em jogos disputados em casa. Já a equipa portuguesa passou de qualquer coisa como "fortaleza inexpugnável" a "defensivamente permeável, sem pedalada" para o ritmo imposto pelos ingleses. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O futebol é um jogo e como tal está sujeito a surpresas desta dimensão. Os maiores clubes de Inglaterra são hoje em dia, até pelo poderio financeiro, mais poderosos dos que os denominados grandes de Portugal mas em circunstâncias normais FC Porto, Benfica ou Sporting têm condições para ombrear com estes gigantes europeus. Não foi assim esta quarta-feira, mas a explicação passa por circunstâncias estratégicas inerentes ao próprio futebol.

Sérgio Conceição errou na abordagem ao encontro, tentou emendar a mão ao intervalo, mas já era tarde, enquanto Jurgen Klopp acertou em cheio no "jackpot" beneficiando de "jokers" como Firmino, Salah e Mané, que dizimaram por completo o último reduto azul e branco. O que faltou, então, ao FC Porto? Faltou convicção. Convicção e confiança. Jogar em função das suas virtudes e não em função do adversário, como o técnico dos dragões acabou por fazer. Em vez de ser pró-ativo tentou ser reativo. Ele que a nível nacional tem sido o exemplo maior de uma pessoa convicta.

A recente onda de lesões que tem atormentado FC Porto, Sporting e Benfica veio, aliás, trazer à evidência a importância da convicção que os treinadores colocam na opções que tomam, a convicção que passam aos jogadores. E é precisamente neste particular que Sérgio Conceição falhou esta quarta-feira, mas tem feito a diferença e conquistado pontos em relação a Rui Vitória e a Jorge Jesus. Por norma, o treinador portista mostra convicção nas opções que toma. De facto. Não joga Ricardo, joga Maxi Pereira; não joga Felipe, joga Diego Reyes; não joga Aboubakar, joga Soares. Sem problema. Mais do que jogar, os jogadores costumam corresponder aos anseios do treinador, fruto da tal convicção, da confiança evidenciada por quem os comanda. Até porque sentem que são alternativa não só pelo facto de um colega estar lesionado. Seja por lesão, seja por gestão de esforço, seja em função do adversário, Sérgio Conceição tem mudado sem qualquer problema. Com convicção.

"Jogue quem jogar, neste momento temos uma riqueza que é os jogadores sentirem que estão a um passo da titularidade, que a qualquer momento podem contribuir." A frase até é recente (foi efetuada no lançamento do último jogo com o Portimonense) e pertence a Rui Vitória, mas a realidade mostra um cenário algo diferente na Luz. O treinador dos encarnados só muda quando é forçado a mudar, por motivos de força maior. A própria alteração estrutural do Benfica (de um 4x4x2 para o atual 4x3x3), decorreu de uma necessidade evidente. Foi assim com João Carvalho no Restelo, no empate a uma bola, após a grave lesão contraída por Krovinovic, e foi assim com Rafa, titular em Portimão na sequência da lesão contraída por Salvio. Nos dois casos, os jogadores acabaram substituídos, com exibições apagadas. E João Carvalho, dado como o mais natural substituto do croata ex-Rio Ave, deixou de ser titular, agora em detrimento de Zivkovic. 

Em contraponto, veja-se o caso do FC Porto em Chaves: Maxi Pereira surgiu como titular e até uma assistência para golo fez, denotando motivação, pese embora a condição de suplente em que tem passado a maior parte da época, o mesmo sucedendo por exemplo, com Soares. Esta conjuntura sucede precisamente no que menos se reforçou dos chamados três grandes.

Sérgio Conceição fez dos outrora excedentários (Ricardo Pereira, Diego Reyes, Marega e Aboubakar) opções válidas, opções convictas, que vieram dar uma outra imagem do plantel dos azuis e brancos. Não muito vasto, mas que afinal até se tornou rico em soluções. Quem admitiria este cenário no início de época?

Em Alvalade, Jorge Jesus reestruturou completamente o grupo de trabalho. É natural, que tal como Rui Vitoria ou Sérgio Conceição, tenha uma estrutura base mas já não será tão natural o modo como tem reagido à lesão, por exemplo, de Bas Dost. Que confiança transmitirá para Doumbia, por exemplo? Pouca ou nenhuma. No Sporting, tal como no Benfica, é mais evidente a linha que delimita os titulares dos "outros". É por isso também que há mais casos como Douglas, Pedro Pereira, Hermes ou Gabriel Barbosa; Petrovic, Matheus Oliveira ou Iuri Medeiros...