Opinião
Campeões feitos à pressão
2018-04-17 14:00:00
Retirem a pressão de cima de qualquer equipa de top e ela claudica. O campeonato está cheio de histórias dessas.

A pergunta sacramental deste momento é: o FC Porto vai ser campeão? É cedo para responder de forma conclusiva, mas é seguro dizer que o jogo contra o Benfica, na Luz, no domingo, serviu de murro na mesa, permitiu à equipa de Sérgio Conceição recuperar o favoritismo que deixara no Restelo e voltou a trazer para a atualidade a questão da pressão e do que ela pode fazer por uma equipa: milagres. Podia agora deitar-me a analisar quem tem o calendário mais difícil, se o FC Porto, que enfrenta duas saídas complicadas, ao Funchal e a Guimarães, se o Benfica, que precisa de ir jogar com o Sporting a Alvalade, mas na verdade não é isso que importa. O que importa é a forma como cada candidato encarar os jogos que faltam.

Já não é a primeira vez que vou fazer um paralelismo com o que aconteceu há dois anos. Há dois anos, é verdade que mais cedo no campeonato – no início de Março em vez de ser em meados de Abril – o Sporting recebeu o outro candidato resistente, que era o Benfica, com um ponto de avanço. Mesmo tendo em conta que até final ainda tinha de se deslocar ao terreno do outro grande – nessa altura o FC Porto de José Peseiro, já afastado da corrida ao título – servia-lhe o empate para se manter no topo da tabela. E perdeu: 0-1, golo de Mitroglou, num jogo muito diferente do de domingo, é certo, porque esse Benfica marcou bem cedo e limitou-se depois a aguentar o embate, enquanto o FC Porto de domingo teve de ir à procura do resultado que só encontrou ao minuto 90.

A comparação serve para que se vejam duas coisas, que no fundo são a mesma: é a pressão que faz os campeões. Primeiro, o Benfica ganhou esse jogo, entre outras razões, por uma que agora também batia à porta do FC Porto – tinha de o ganhar, enquanto o adversário jogava igualmente pelo empate. E isso anteontem refletiu-se nas substituições mais ofensivas de Sérgio Conceição (entradas de Óliver, Corona e Aboubakar) e numa troca mais defensiva de Rui Vitória (a saída de Cervi por Samaris). Depois, todas as discussões acerca de quem tinha o calendário mais difícil até final desse campeonato foram tornadas irrelevantes pela realidade, porque tanto o Benfica como o Sporting ganharam os nove jogos que lhes faltavam. E mais uma vez pela mesma razão: ganharam-nos, porque tinham de os ganhar.

Ora isto não quer dizer que FC Porto e Benfica vão ganhar os quatro jogos que lhes faltam – nomeadamente porque ao contrário do que se passava há dois anos com o FC Porto, o Sporting deste ano ainda pode receber o Benfica com alguma pressão em cima, pois dependendo do que fizer até lá ainda poderá estar em condições de jogar por uma vaga na Liga dos Campeões – mas é um indicador fortíssimo para o que aí vem. E nesse particular, a maior vantagem do FC Porto neste momento – a superioridade no confronto direto até lhe permite empatar um jogo e ser na mesma campeão – pode ser, ao mesmo tempo, a maior pedra que tem no caminho. Porque lhe retira alguma da pressão à qual a equipa respondeu tão bem e porque já se viu esta equipa falhar quando esteve menos pressionada (em Paços de Ferreira, por exemplo, onde entrou com cinco pontos de avanço e… perdeu).

Junte aos pontos que os da frente somam neste momento os resultados que fizeram na época passada nos mesmos jogos. Em muitos casos sem pressão, o FC Porto não foi além de três empates com Vitória FC (1-1 em casa), Marítimo (1-1 fora) e Feirense (0-0 em casa), só ganhando ao Vitória SC (2-0 no Minho). Sempre pressionado, o Benfica resolveu melhor os seus jogos: 2-1 no Estoril, 4-0 ao CD Tondela em casa, 1-1 com o Sporting em Alvalade e 3-0 em casa ao Moreirense. A repetição daria Benfica campeão. Mas desta vez o FC Porto conta com o auxílio da pressão. Porque os campeões são sempre feitos à pressão. E se retirarmos a pressão de cima das equipas de top, elas inevitavelmente claudicam.