Opinião
As novas funções de Jorge Jesus
2018-05-24 14:00:00

O dia mais negro da rica e vasta história do Sporting colocou o clube numa encruzilhada imprevisível, para quem lá está e não quer sair e para quem lá quer entrar. No meio de tantas dúvidas, só há por agora uma certeza: a coabitação entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus chegou ao fim, o futuro de um não passa pelo futuro do outro, com todas as consequências que daí derivam. O regresso de Augusto Inácio, que havia deixado a direção desportiva dos leões para ter a cargo as relações internacionais aquando da chegada de Jesus, que optou pela contratação de Octávio Machado, mais não faz do que acentuar essa cissão e a intenção do presidente leonino de remodelar a estrutura do futebol.

Prescindir do atual treinador, que está vinculado ao clube de Alvalade por mais uma temporada, terá, no entanto, as sua consequências. Bruno de Carvalho, obviamente, sabe disso e certamente que não deixará de jogar com esse factor, tal como a oposição ao presidente leonino.

Uma Supertaça e uma Taça da Liga não são certamente o cartão de visita que Jorge Jesus gostaria de apresentar após três épocas ao serviço do Sporting, mas os recentes acontecimentos levaram a que o treinador leonino tenha ganho importância vital na atual conjuntura face à tremenda crise em que o clube mergulhou.

O técnico dos verde e brancos aguentou até mais não poder a intenção inicial de não entrar en confronto direto com Bruno de Carvalho, mas chegada a altura em que tudo ficou extremado assumiu, como tinha de fazer, a defesa dos jogadores. Com isso, ganhou a confiança de um grupo de trabalho. Este acaba por ser, afinal, o seu grande capital de confiança. Um capital de confiança que lhe confere preponderância como um dos poucos factores de agregação que o Sporting tem nesta altura.

Mais do que um treinador, Jorge Jesus é, no atual contexto, um verdadeiro "manager" e por ele poderá passar muito do futuro do Sporting no sentido de não perder a identidade reconquistada nos últimos anos e tremendamente afetada devido aos recentes acontecimentos.

Ironicamente, pois Jesus poderia estar na corda bamba por meras razões desportivas devido ao facto de não só não ter sido campeão nacional como também por ter perdido a final da Taça de Portugal, o técnico dos verde e brancos surge como um dos poucos factores de agregação. É com ele que os leões terão mais possibilidades de contar com o grosso do atual plantel na próxima época. E é com ele que o clube leonino evitará, desta forma, o enorme risco de descaracterização depois da reformulação profunda que levou a efeito no plantel dos verde e brancos desde que em junho de 2015 deixou o Benfica rumo a Alvalade.

Agora, resta também saber até que ponto Jorge Jesus estará disposto a assumir esta "pele". O desgaste foi enorme e o veterano treinador viveu, aos 63 anos, aquilo que certamente dificilmente pensaria passar em Alvalade. Resta saber também que cartada vai jogar Bruno de Carvalho na reunião de órgãos sociais agendada para esta quinta-feira, no primeiro dia do resto da vida do Sporting se a montanha não parir um rato.

Para já, o médico Frederico Varandas deu o passo que ninguém quis dar. Demitiu-se das funções na estrutura clínica leonina e assumiu a candidatura à presidência do Sporting, o confronto com Bruno de Carvalho. Com ou sem Jorge Jesus? Talvez, sim... A ver vamos...

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