Opinião
As conclusões do Portugal-Tunísia
2018-05-29 15:30:00
António Tadeia escreve sobre o primeiro particular da seleção nacional na rota para o Mundial.

O primeiro teste da seleção, que redundou num dececionante empate a dois golos com a Tunísia, mostrou coisas boas e coisas más e nem todas foram tão simples como parecerá à primeira vista. É certo que a equipa funcionou melhor no plano ofensivo do que no defensivo, mas isso começa por não querer dizer que os médios e avançados fizeram um bom jogo ou que os defesas fizeram um mau jogo – houve de tudo. Depois, além dessa questão, das dinâmicas, há que ter em conta as avaliações individuais de jogadores em momento questionável e, acima de tudo, a questão tática e a ponderação do que pode ser melhor para esta equipa: este 4x3x3 ou o habitual 4x4x2.

Claro que os adeptos se centram nas avaliações dos jogadores, porque quer seja por razões clubísticas ou de meras preferências, todos têm os seus prediletos e os seus ódios de estimação. E, nesse aspeto, o facto de o selecionador ter dito que a equipa funcionou melhor a atacar do que a defender – com o que concordo – levou logo muitos a criticar as atuações de Ricardo Pereira, Rúben Dias ou Raphael Guerreiro, já para não falar de William Carvalho, que apareceu como médio mais recuado, mas cuja missão maior até é de início de construção e, portanto, ofensiva.

A questão é que não é assim tão simples. Ricardo fez um bom jogo, igual aos que vinha fazendo no FC Porto: incrível disponibilidade física, alguma dificuldade na definição dos lances, seja no plano atacante, seja no timing de ataque à bola quando em missão defensiva. Rúben Dias estreou-se a bom plano, aqui e acolá com algumas dificuldades de entendimento com Pepe (primeiro) e Fonte (depois), mas sem um erro importante que possa apontar-se-lhe. Guerreiro, ele sim, pareceu estar em maiores dificuldades e pode ser um problema difícil de resolver, pois nem a defender nem a atacar foi capaz de dar à equipa nada próximo do que mostrou, por exemplo, no Europeu de 2016.

Por sua vez, William até apareceu um patamar acima do que vinha mostrando nos últimos jogos do Sporting, sobretudo no plano físico, e até foi de uma arrancada sua que nasceu a jogada do primeiro golo de Portugal. Se a equipa mostrou dificuldades no plano defensivo a meio-campo elas deveram-se, sobretudo, à saída de Adrien (e antes da entrada de Moutinho), que lhe roubou equilíbrios e agressividade nos momentos em que não tinha a bola, permitindo que a Tunísia brincasse com o ritmo do jogo e o baixasse de forma a retirar as maiores armas a Portugal.

O que nos transporta para a questão do equilíbrio tático da equipa. Este 4x3x3, desde que com um médio-tático próximo de William (e ele poderá ser Moutinho ou Adrien) funcionou bem em termos ofensivos, porque depois permitiu encaixar dois extremos e deu espaço na condução de jogo a João Mário (que belo jogo fez contra a Tunísia). A questão é que, havendo ali João Mário, não só não permite a entrada de Manuel Fernandes ou Bruno Fernandes e, sobretudo, coloca um problema: onde encaixar Ronaldo? Contra a Espanha até se admite que ele surja em vez de André Silva, como avançado-centro, posição que não o favorece – e que por isso mesmo desfavorece a equipa, ainda que menos nos jogos onde o foco seja sobretudo defensivo – mas depois as coisas mudam bastante. Porque jogar em 4x3x3 com Ronaldo à esquerda é um perigo permanente em transição defensiva. E as premissas que levaram à adoção do 4x4x2 assimétrico com que esta equipa vem jogando mantêm-se todas.