Rui Vitória puniu Bruno Varela. Svilar puniu o treinador do Benfica. O povo costuma dizer que algumas vezes Deus escreve direito por linhas tortas e o erro do guarda-redes belga mais não fez do que trazer à evidência a diferença de tratamento que Rui Vitória deu a Svilar relativamente a Bruno Varela. O primeiro teve direito ao erro, o segundo nem por isso.

O treinador do clube da águia tem, obviamente, toda a legitimidade para escolher o guarda-redes que entender. Seja porque joga melhor com os pés, seja porque é mais rápido, seja porque reduz os espaços à equipa adversária, como justificou, enfim, por mil e uma razões. Ponto final. Agora, o que não pode ou não deve é ter dois pesos e duas medidas. Não lhe fica bem, perante os dois jogadores e o próprio grupo de trabalho.

O erro grave de Bruno Varela que resultou na derrota do Benfica frente ao Boavista custou dois pontos ao clube da Luz no campeonato, competição que ainda dá os primeiros passos. O erro grave de Svilar custou igualmente dois pontos, que poderão revelar-se decisivos nas contas finais do grupo A da Liga dos Campeões.

Pese embora o frango ou autogolo, como queiram chamar-lhe, de Svilar, Rui Vitória apressou-se logo após o final do jogo a dar um voto de confiança ao jovem guarda-redes belga. “Não há qualquer problema, é craque, bom guarda-redes, tem muito que trabalhar, evidentemente, vai ser um guarda-redes de grande nível e joga já no próximo domingo”, fez questão de afirmar após a derrota com o Manchester United. Fez mal? Claro que não. Mas porque é que não teve atitude idêntica face a Bruno Varela?

O procedimento de Rui Vitória em todo o processo relativo à baliza do Benfica representa, aliás, no que diz respeito a Bruno Varela, uma inflexão face ao discurso inicialmente adotado pelo técnico do clube da águia. “Tem a minha confiança e estou contente com o desempenho dele. Por vezes não é fácil para um jovem, o primeiro jogo perante 60 mil adeptos mas se está lá é porque acredito nele”, referia Vitória, a 10 de agosto, após o triunfo de 3-1 sobre o SC Braga na primeira jornada do campeonato. Se era assim, de facto, muita coisa mudou.

Se Svilar tem apenas 18 anos e merecerá um determinado grau de tolerância até por esse aspeto, Bruno Varela tem pouco mais, no caso 22 anos de idade. “É um guarda-redes com enorme potencial e capacidade que ainda está em fase de crescimento”, constatou esta quarta-feira José Couceiro, que orientou o jogador durante a última temporada ao serviço do Vitória de Setúbal, onde se afirmou como titular indiscutível.

O erro do internacional sub-21 custou-lhe, de facto, muito caro e há mais de um mês, concretamente desde 16 de setembro, que não disputa um único minuto. Seja em que competição for. Acresce que, além de Svilar e Júlio César, o camisola 30 das águias vai ter, possivelmente a partir de janeiro, a concorrência de Vlachodimos, guarda-redes alemão que alinha no Panathinaikos.

Que futuro pensará Bruno Varela que terá no Benfica neste contexto? Nenhum, certamente, tendo em linha de conta a atitude agora adotada por Rui Vitória…

António José Oliveira é jornalista do Bancada