Opinião
A Liga, os grandes e os 15
2017-11-21 14:00:00
Os 15 que jogam com os grandes na I Divisão vão reunir-se. Uma oportunidade demasiado preciosa para ser desperdiçada.

Há dois tipos de sentimentos, amplamente contraditórios, a propósito da reunião dos 15, que hoje vai colocar na mesma sala todos os clubes da I Divisão à exceção dos três grandes. Um aplaude, porque os grandes estão a estragar o futebol com a sua guerrilha comunicacional, que não olha a meios para atingir fins, não percebendo de caminho que a política de terra queimada é isso mesmo, uma política que os vai deixar a reinar num futebol calcinado pelas chamas da polémica. Outro condena, porque da última vez que os “pequenos” se juntaram foi para elegerem Mário de Figueiredo, o Robin Hood que quase acabava com a Liga de futebol em Portugal. Acho que ambos estão errados. E explico porquê.

Primeiro, porque faz todo o sentido que os 15 se juntem. Têm problemas comuns que merecem ser debatidos, de forma a serem encarados de um ponto de vista estratégico: há muito mais em comum entre as questões que afetam um SC Braga e um CD Tondela do que entre as que apoquentam um Vitória SC e um Benfica. Basta vermos o exemplo paradigmático do que valem os direitos de transmissão televisiva do bolo dos jogos na Luz, no Dragão ou em Alvalade e comparar esses valores com o que valem, em conjunto, os jogos dos outros clubes. Quando – e nunca é de mais lembrar isto – Benfica, FC Porto e Sporting vendem, cada um, 17 jogos de campeonato por ano com a presença de pelo menos um grande, enquanto que os outros, em conjunto, têm 45 jogos com grandes para vender. Não conseguindo a Liga impor a centralização de direitos e a redistribuição de receita de forma mais equilibrada por razões simultaneamente políticas e financeiras, os 15 deviam receber pelo menos o dobro para dividir entre eles. E não recebem, porque nunca se juntaram.

Esta questão – e outras como ela – devia ser a razão fundamental para a reunião dos 15. Mas não será. Porque a verdade é que os que acusam os grandes de estarem a destruir o futebol nacional com a defesa pornograficamente irracional dos seus próprios interesses não querem outra coisa senão estar no lugar deles. Não tenham dúvidas: a generalidade dos dirigentes dos 15 só não assume a mesma atitude guerrilheira dos presidentes dos grandes (ou dos que estes mandatam para o efeito, sejam diretores de comunicação, simples funcionários mais solícitos ou comentadores engajados) porque não têm audiência. Porque na verdade, com exceção de um ou dois clubes, não têm público ou, se o têm, deixaram que ele desmobilizasse a ponto de já nem querer saber. É por isso que estou convencido de que, viciados pelo ambiente pouco saudável que se vive no futebol nacional, boa parte dos 15 vai aparecer na reunião para falar de arbitragem e disciplina, quando o que importa é salvar o negócio.

Foi essa a vertente que falhou com Mário de Figueiredo. Porque o princípio de dar voz a clubes diferentes dos de sempre continua a ser válido, como era quando ele dirigia a Liga, mas tem de ser encarado e assumido com responsabilidade e a noção de que há compromissos a cumprir, pagamentos a fazer, receitas a acautelar. Esse deveria ser o papel a assumir agora pela Liga de Pedro Proença. Porque esta reunião dos 15 será um momento demasiado precioso para se desperdiçar. Seja por excesso, por uma sanha de justiça que leve a revoluções inconvenientes, seja por defeito, por falta de aconselhamento proativo.