Opinião
23 nomes para o Mundial russo
2018-04-18 14:00:00

Da costa do Oceano Atlântico até perto dos Montes Urais. Desta vez, os limites geográficos do continente europeu explicam a viagem que 23 jogadores esperam fazer em junho, em direcção ao Campeonato do Mundo da Rússia. Fernando Santos diz que apenas Cristiano Ronaldo tem lugar garantido, mas a cerca de um mês do anúncio dos escolhidos, as dúvidas já são muito poucas. E há vários jogadores indiscutíveis.

Na baliza não sobram dúvidas, porque José Sá perdeu um possível lugar no torneio russo quando Iker Casillas regressou à baliza do FC Porto. Bruno Varela, titular do Benfica, é a opção mais forte caso surja uma baixa de última hora.

Rui Patrício foi o melhor guarda-redes do Campeonato da Europa, onde assinou algumas das melhores exibições da carreira. É titular da equipa nacional há quase oito anos e um nome absolutamente incontornável para Fernando Santos.

Anthony Lopes vai avançar para a segunda fase final da carreira, numa altura de plena afirmação no Lyon. O guardião nascido em França teria qualidade para discutir a titularidade da baliza do finalista vencido do Euro 2016, mas na Seleção de Portugal ficará mais alguns anos na sombra de Rui Patrício. No entanto, Anthony Lopes é uma garantia de qualidade caso surja algum tipo de impedimento do guarda-redes titular.

Beto falhou o Euro 2016 devido a lesão, mas saiu a tempo do banco do Sporting e é agora o titular crónico dos turcos do Göztepe. O regresso às escolhas de Fernando Santos foi natural e Beto, aos 35 anos, deverá fazer  mais uma fase final de uma grande competição. A estreia foi em 2010, no Campeonato do Mundo da África do Sul.

A defesa tem várias opções para as laterais, mas é no centro que moram algumas dúvidas e outras tantas angústias. Apesar de tudo, o aparecimento de Rúben Dias trouxe uma nova e interessante opção ao engenheiro do Euro.

Cédric Soares faz da regularidade marca de água, tanto no clube (o Southampton, nesta última época) como na equipa nacional. Para além disso, foi um dos melhores jogadores portugueses na Taça das Confederações. O outro lateral direito escolhido por Fernando Santos deverá ser lson Semedo, apesar da utilização irregular no Barcelona.

Raphaël Guerreiro será o titular do lado esquerdo da defesa, onde exibe uma capacidade ofensiva que poderá ser um trunfo importante para Portugal em vários momentos. Precisa de se afastar as lesões, que lhe têm roubado muito espaço competitivo. rio Rui chegou apenas em março às escolhas do seleccionador nacional, mas aproveitou de forma brilhante a ausência de Fábio Coentrão e poderá vir a reclamar um lugar nos 23 convocados.

Pepe e mais três. Assim começa a lista de centrais, porque o defesa do Besiktas é, provavelmente, o segundo jogador mais influente da Seleção Nacional da última década. Como é muito provável que Fernando Santos não deixe cair aqueles que o acompanharam no Euro, Bruno Alves e José Fonte também devem ouvir o nome na convocatória, no próximo mês. No entanto, nem um nem outro estão a ter temporadas exuberantes. Bruno Alves tem tido um percurso abaixo do esperado nos escoceses do Glasgow Rangers e José Fonte está no campeonato chinês (no Dalian Yifang, orientado por Bernd Schuster), num degrau competitivo muito inferior àquele que vai encontrar se estiver entre os convocados para o Mundial. Ganha por isso força a candidatura de ben Dias à titularidade, a quem apenas uma inoportuna lesão roubou a possibilidade de fazer a estreia num dos últimos registos da equipa nacional, frente ao Egito e à Holanda.

No meio-campo as escolhas são várias e de qualidade, mas a lesão de Danilo Pereira (que poderia ser também opção para o lugar de defesa central) é um revés importante para Fernando Santos. William Carvalho, João Moutinho e João Mário são indiscutíveis e a lesão de Danilo abre a porta a Adrien Silva, que poderia ter o lugar em risco, apesar de estar agora a jogar de forma mais regular no Leicester. E o antigo capitão do Sporting até é uma opção fiável para o lugar de médio defensivo. Manuel Fernandes está a agarrar bem a segunda oportunidade para ser feliz na Seleção, surgida devido ao percurso brilhante no Lokomotiv de Moscovo. Por último, Fernando Santos não irá deixar de fora a exuberância de Bruno Fernandes, um dos maiores talentos da Liga Portuguesa e do Sporting.

Os lugares do ataque oferecem ainda menores dúvidas: Bernardo Silva é, atualmente, o segundo melhor jogador português, Gelson Martins e Ricardo Quaresma podem ajudar a desbloquear qualquer encontro e Gonçalo Guedes ganhou merecido espaço, devido a uma temporada de altíssimo nível, no Valencia (e pode ser a melhor opção caso seja necessário substituir André Silva). Na frente está uma dupla sem discussão e com muitos golos: André Silva e Cristiano Ronaldo, um dos mais extraordinários jogadores da história do futebol. O capitão da Seleção Nacional vai somar, na Rússia, a nona grande competição ao serviço de Portugal (contando com a Taça das Confederações do ano passado).

De fora desta possível lista de Fernando Santos ficam os laterais Ricardo Pereira, João Cancelo, Kévin Rodrigues, Fábio Coentrão e Antunes, os centrais Luís Neto e Rolando, o lesionado Danilo Pereira, Rúben Neves (apesar da grande temporada ao serviço do Wolverhampton), Renato Sanches (afastado da equipa nacional há mais de um ano), André Gomes (mesmo fazendo parte do núcleo duro de escolhas, vive um carrossel desportivo e até emocional no Barcelona), Pizzi, Rony Lopes (que está claramente a bater à porta da Seleção, graças à grande temporada no Mónaco), Bruma e Rafa.

Nani, um dos nomes maiores da equipa portuguesa, perdeu espaço de manobra na Taça das Confederações e não deverá regressar à Rússia para jogar o Mundial.

Éder, o herói da luva branca, cravou o nome nas memórias da final do Euro, mas dificilmente fará parte do futuro imediato de Portugal. Até porque a história quase nunca se repete.

P.S. - Depois do campeonato, hoje há clássico na Taça de Portugal. Ambos os jogos em Lisboa, ambos com o FC Porto num dos lados do relvado. Sérgio Conceição conseguiu colocar os azuis e brancos no caminho das decisões nas duas principais provas portuguesas e parte em vantagem para Alvalade, da mesma forma que saiu da Luz a pisar o caminho do título, depois de uma segunda parte em que levou a sério a ambição de vitória na casa do rival encarnado.

Seja qual for o desfecho da temporada portista, os méritos do treinador do FC Porto são indesmentíveis e partem (para além da qualidade e das questões táticas) de uma vontade quase inquebrantável que Sérgio Conceição conseguiu  colocar como santo e senha do balneário portista.

Descontados alguns erros estratégicos (prontamente assumidos e corrigidos pelo técnico) e um ou outro excesso de linguagem, Sérgio Conceição está a fazer uma época acima de qualquer suspeita a todos os níveis, conseguindo coser as ambições azuis e brancas com as limitações próprias do atual contexto orçamental do provável novo campeão nacional.

Hoje, em Alvalade, a competência do treinador portista volta a ser desafiada, mas já não está dependente de um jogo, de um resultado ou mesmo do triunfo numa competição.

Manuel Fernandes Silva é jornalista na RTP e escreve no Bancada às quartas-feiras.