O Visto da Bancada desta semana vai fazer uma grande revelação. Todos conhecemos a enorme paixão de Luís Catarino pelo futebol. Todos nós já ficámos admirados com o nível de conhecimento que este jovem demontra quando a conversa é sobre o pontapé na bola.
Atire a primeira pedra quem nunca disse: ‘Caramba, o homem sabe tudo’. É verdade. Hoje vai ficar a saber onde, quando e como é que o colunista do Bancada teve os seus primeiros contactos com o desporto de que tanto gostamos.
Vamos deixar que seja o próprio Luís Catarino explicar.
“Nasci e cresci em Coimbra, daí que a Académica tenha tido um peso considerável no desenvolvimento da minha paixão pelo jogo, sobretudo na infância.
Houve duas tardes que tiveram um encanto particular.
A primeira vez que entrei verdadeiramente em contacto com a atmosfera de um estádio de futebol foi em 1986, depois do Mundial do México. Tinha cinco anos e fui a um Académica v Sporting, observado a partir de um lugar VIP: às cavalitas do meu avô.
Obviamente não tenho memórias nítidas desse jogo. Mas lembro-me que só se falava no Negrete. E eu queria saber quando é que ele aparecia, quando tocava na bola. Anos depois, percebi melhor o porquê de tanta conversa à volta do ‘zurdo’ mexicano. Ele e o Meade tinham acabado de chegar ao Sporting, mas o Negrete ainda carregava os louros do golo monumental no Mundial contra a Bulgária, no Azteca. Um pontapé-tesoura, todo virado de lado, em suspensão!
Outro jogo no “Municipal” que recordo com reverência é um mais discreto Académica v Leixões, da 2.ª Divisão de Honra em 1990/91. Foi uma tarde de domingo e eu tinha dez anos. No emblema de Matosinhos, jogava Holmberg, um centrocampista sueco que se distinguia de todos os outros pela volumosa cabeleira loira. Mas aquilo que mais prendeu a minha atenção, não só nesse jogo específico como em todo o seu percurso posterior, foi a sociedade tobaguenha da Briosa. Pela primeira vez vi a dupla Lewis e Latapy à minha frente. Durante quatro anos, o tandem das Caraíbas foi um espetáculo à parte no Calhabé.
A categoria do Latapy era notória e cada vez que ele manobrava eu ficava enfeitiçado. Havia quem lhe chamasse o “Valdo de Coimbra”. Mendes Silva, presidente da AAC-OAF, até brincava com a situação: «O Valdo é que é o Latapy de Lisboa.»
O Latapy era mesmo craque, com drible e uma condição técnica acima dos outros. Repare-se que quando entrou na veterania, muitos anos mais tarde, já a atuar na Escócia, ainda foi capaz de fazer o Mundial de 2006 com 37 anos de idade a representar Trindade e Tobago. Dominava a bola com uma categoria distinta e não foi parar ao Porto do Robson por acaso. O Lewis era avançado, mais na base da força e do arranque. Foi jogar para o Felgueiras do Jorge Jesus juntamente com o terceiro e mais despercebido tobaguenho da Académica, o Clint, que só fez um jogo de losango ao peito.
O José Alberto Costa era o treinador da Briosa e estava o Tó Luís na baliza, bem antes de ter aparecido o Pedro Roma. E essa equipa marcou-me um pouco, até pela presença do Zé Paulo, o médio-direito, que morreu um ano depois, com 21 de idade, num acidente de automóvel. O Marcelo, ponta de lança que veio a jogar no Benfica, ainda era muito novo, mas tornar-se ia uma figura muito acarinhada em Coimbra e ainda hoje demonstra um trato fácil com toda a gente. O trinco era o Rocha, ainda sem a braçadeira de capitão.
Mas naquela altura nenhum deles podia ofuscar o Lewis e o Latapy. Aqueles dois eram “a cena”. E definiram muito do meu imaginário futebolístico.”