Visto da Bancada
João de Brito (n.º204)
2018-01-11 14:20:00

João de Brito, conhecido ator português, traz-nos a história da magia do Estádio S. Luís, de um verdadeiro adepto farense, de um rapazito talentoso chamado Dani (lembra-se dele?) e de uma receção ao Sporting, em Faro. O relato, esse, fica totalmente a cargo do nosso convidado desta edição do "Visto da Bancada". Tudo isto horas depois de Farense - que perdeu com o Caldas - e Sporting - que eliminou o Cova da Piedade - terem jogado os quartos-de-final da Taça de Portugal.

O nome Manu pode ser o diminutivo de vários nomes e existem muitos, por isso dizer Manu pode ser banal em qualquer sítio, mas se se pronunciar o nome Manu a um farense nascido até aos fins dos anos 80 todos se recordarão com muita saudade. Este Manu era o Manu do Farense, mas também era o Manu da Moto Clube de Faro, mas também era o Manu do Eddie's bar e também era o Manu amigo pessoal dos Iron Maiden. Sempre de cabelo rapado, tatuado, calças justas e constantemente a gritar e a puxar pela bancada naqueles épicos domingos à tarde. Olhar para ele era um espectáculo dentro do espectáculo, lembro-me como se fosse ontem a trepar a rede até ficar torta, a insultar os árbitros e a cuspir para os jogadores adversários que eram substituídos e que por ali passavam. Não me recordo bem em que ano foi, mas o Farense estava na primeira divisão e recebeu o Sporting e o Manu lá estava no seu estilo bem vincado. 

Nesse jogo havia um rapazinho bonito e cheio de estilo que deixava qualquer miúda babada. Esse rapazinho foi sem dúvida dos melhores pés esquerdos que já vi no mundo do futebol. Esse rapazinho podia ter sido o melhor jogador português entre a geração do Figo e a geração do Cristiano. Este rapazinho partiu a loiça toda no mundial de sub-20 do Qatar e foi o segundo melhor jogador (fez uma jogada à Maradona que não me sai da cabeça). Esse rapazinho foi o tal que o Futre prometeu um tiro no joelho. Esse rapazinho atualmente chama-se Daniel Cruz. Esse rapazinho era conhecido por Dani. Que jogador! 

Então nessa tarde/noite o Dani lá foi aquecer rente à rede do S.Luís e um bom grupo de miúdas rapidamente se juntou a chamá-lo incessantemente "Dani, Dani, Dani...", nas  mais variadas entoações a pedir a camisola, um autografo, a implorar para que ele olhasse. O Dani era uma espécie de pop star e despertava o amor das bancadas intercalado com o Manu a chamar-lhe tudo o que podia e a entortar a rede. Ora toda lá um insulto ora toma lá elogio, ora toma uma cuspidela, ora toma lá um beijinho. O Dani não desarmou e manteve o seu profissionalismo (que lhe faltou tantas vezes) e nunca reagiu até ser chamado para entrar no jogo e lá se acabou o espectáculo dentro do espectáculo. 

O pé esquerdo do Dani faz falta ao futebol e o Manu faz falta ao Sporting Clube Farense.