Grande Futebol
Vítor Pereira, o treinador “fora da caixa” que tem Guardiola como inspiração
2017-12-12 16:50:00
Vítor Pereira prepara-se para uma nova aventura no estrangeiro: vai treinar o Xangai SIPG, da Liga Chinesa.

Um treinador viajado, que desde cedo demonstrou ideias inovadoras no futebol das equipas pelas quais passou. Vítor Pereira tem pela frente um novo desafio na carreira, com a confirmação de que será o treinador do Xangai SIPG na próxima época. Com passagem por vários países, o técnico de 49 anos tem adaptado os pilares futebolísticos que postula conforme as equipas por onde passa, mas, quando lhe é possível, a qualidade de jogo acaba por falar mais alto.

Quem conhece bem Vítor Pereira salienta a paixão de um homem que nunca descura de um futebol pautado pela qualidade de jogo. “É um apaixonado pelo futebol de qualidade.”  Rui Gomes era o treinador dos juniores e, posteriormente, da equipa B do FC Porto quando Vítor Pereira esteve no comando técnico da equipa principal dos azuis e brancos e foi o novo timoneiro do Xangai SIPG que lhe deu a oportunidade de rumar à Arábia Saudita, quando esteve no Al-Ahli Jeddah. “Não é claramente um ‘resultadista’, ou seja, não interessa apenas ganhar. O Vítor dificilmente abdica das questões da qualidade de jogo para obter os mesmos resultados. Não procura um jogo predominantemente de transições rápidas, tenta dar como ADN às equipas a capacidade de ter bola e de se instalarem no meio-campo adversário e de controlarem o jogo”, destacou Rui Gomes em conversa com o Bancada.

No entanto, nem sempre Vítor Pereira pautou o estilo de jogo das suas equipas pelo controlo de jogo com bola. João Botelho, guarda-redes do Operário Lagoa, foi treinado por Vítor Pereira no Santa Clara, em 2008/09 e 2009/10, e recorda um treinador que fazia do movimento contraofensivo a principal arma da equipa, também fruto dos jogadores que tinha à disposição. Acima de tudo, João Botelho aponta em Vítor Pereira um treinador “fora da caixa”, pelas ideias inovadoras que levou para os Açores.

“O Vítor ainda era muito jovem nessa altura, mas vinha com ideias completamente ‘fora da caixa’ para aquilo que era a realidade do momento e provou que essas mesmas ideias funcionavam muito bem. Nomeadamente, ao nível da programação semanal de treino, com os treinos a passarem a ser muito curtos, mas também bastante intensos e isso foi benéfico para a nossa equipa, tanto na primeira como na segunda época. Era um treinador que realmente sabia o que estava a fazer a nível tático, tinha também uma boa equipa a trabalhar na prospeção de jogadores.”, considerou o guardião ao Bancada.

Inspirado pelo ‘amigo’ Guardiola, faz da exigência um dos focos principais

Quais são então as matrizes de jogo que Vítor Pereira preconiza? Nas palavras de Rui Gomes, a inspiração do treinador português mora na Catalunha e num técnico com o qual tem uma boa relação e que domina agora a Liga Inglesa. “Talvez inspirado pela cultura do FC Barcelona e do Guardiola, com quem tem uma boa relação, é um treinador que valoriza muito a posse de bola, gosta que as suas equipas assumam e tenham o controlo do jogo.”

Crédito: Tolga Bozoglu / EPA.

Para esse mesmo estilo de jogo, a presença constante da bola nos treinos é fulcral e João Botelho deu conta desse mesmo elemento quando coincidiu com Vítor Pereira no Santa Clara. “Nunca tinha feito uma pré-época em que todos os treinos fossem com bola. Havia muito contacto com bola e assim era feita a preparação da temporada. Os treinos incidiam muito nas movimentações táticas, com e sem bola, com o Vítor a transmitir o que considerava como os vários momentos do jogo: transição defensiva/ofensiva e organização defensiva/ofensiva. E também ao nível técnico, com o intuito de trabalhar pormenorizadamente esse aspeto com alguns dos jogadores”, referiu o guarda-redes.

No que diz respeito ao relacionamento de Vítor Pereira com os jogadores, não existe concordância total, embora a linha de tempo que separe as vivências de Rui Gomes e as de João Botelho com o treinador seja bastante distante. “O Vítor é muito emotivo na forma como treina, como dialoga com os jogadores, tenta retirar deles tudo o melhor que eles têm. É um treinador que estabelece relações muito próximas com os jogadores, muito comunicativo e interativo no treino”, vincou Rui Gomes.

Ao invés, João Botelho falou num técnico que não se abria com o plantel nem preconizava a existência de uma relação de amizade com os jogadores que orientava. “Era um treinador muito exigente, tanto a nível tático como técnico. Tinha uma personalidade um pouco fria para com os jogadores, não era de ser grande amigo dos atletas, o que por um lado é pode ser bom, pois separa as ‘águas’. Em termos de balneário era um pouco frio, não ‘passava muito a bola aos jogadores’ fora dos treinos”, recordou o guardião.