Grande Futebol
Veio do nada e começou por sentar o "pacman anão": é o novo David Luiz
2018-09-26 16:00:00
Pelo menos Ian Wright, lenda do Arsenal, já está convencido.

Se segue a Liga Inglesa, provavelmente já ouviu falar de Guendouzi, craque que apareceu como titular do Arsenal de Emery, nesta temporada. Se não ouviu, vai ouvir agora, não há problema.

Os mais atentos poderão dizer “epá, olha que o puto já dava nas vistas quando estava em França. Não apareceu propriamente do nada”. É justo que se aceite esta visão dos “carolas” da bola, mas convenhamos: Guendouzi estava na segunda divisão francesa e ainda era, praticamente, um ilustre desconhecido até este verão, quando o Arsenal deu oito milhões de euros ao Lorient, para o contratar. E Guendouzi, apesar de ser francês, diz que foi para… o clube do coração. “É o meu clube do coração e que apoio desde miúdo. Cresci a ver vídeos do Patrick Vieira, do Henry e dos outros, com o meu pai. Quando soube do interesse do Arsenal, nem hesitei”.

E puff: vindo do noroeste francês, apareceu como titular no meio-campo do Arsenal. Puff: sentou Lucas Torreira, o "pacman anão" contratado no verão. Puff: sentou El Neny, jogador que já lá estava. Foi ele a grande surpresa deste início de temporada. Não acredita? Basta olhar para o Fantasy da Premier League. Os especialistas britânicos avaliaram-no em apenas 4,5M – o valor mais baixo para um médio –, enquanto o mais caro era Salah, a 13M. Está provado o quanto se acreditava neste rapazola. Quem “caçou” Guendouzi para a sua equipa conseguiu caçar um titular a baixo custo, ainda que, em termos de golos e assistências, o médio não seja o mais prolífero dos jogadores.

Já agora, esta ascensão não é nova. Loïc Fery, presidente do Lorient, recordou, ao “Independent”, que Guendouzi já fez isto várias vezes: “Sempre que é testado num nível superior à idade dele – nos sub-16, sub-17 ou sub-19 –, leva pouco tempo até se tornar o ‘chefe’ da equipa”.

David Luiz? Tu, aqui?

Antes de irmos ao futebol, reconheçamos que o que mais salta à vista, em Guendouzi, é o cabelo. Pela farta cabeleira encaracolada, foi David Luiz antes de ser Guendouzi. “Ele tem a aparência do David Luiz. Por isso, em França, quando apareceu pela primeira vez na televisão, os comentários foram sobre isso e ele já estava a ser falado mais pela aparência do que pelo talento”, expliou Arnaud Huchet, jornalista francês, à Sky Sports.

Ainda assim, o médio francês, nascido em Poissy – arredores de Paris –, tem pouco do ex-central do Benfica.

Trata-se de um jogador elegante, alto, com capacidade de transporte em condução e com um tremendo passe longo. Faz lembrar Axel Witsel. E tem precisamente o mesmo problema do belga, ex-Benfica: falta de agressividade para jogar a 6. E isso David Luiz tem de sobra, o que faz parar já com as comparações.

“Ele sabe que joga à frente da defesa, mas é mais um médio ofensivo do que defensivo. Está sempre à procura do passe impossível, para fazer a diferença”, definiu o ex-presidente.

A imprensa inglesa tem criticado Emery não pela aposta em Guendouzi propriamente dita, mas pela opção de tentar que o jovem francês seja o homem responsável por “morder” os criativos adversários. Nisso, sejamos justos, Lucas Torreira é, claramente, mais jogador. Emery é conhecido por ser um adepto de estatísticas – muito mais do que Wenger, por exemplo – e as estatísticas mostram que o rácio de desarmes por minutos de utilização do uruguaio Torreira é tremendo (já no Mundial tinha sido). E talvez por isso tem ultrapassado Guendouzi nos últimos dois jogos.

Há ainda a questão do passe. Guendouzi é um jogador com um passe longo muito forte, mas Torreira é um jogador com muito maior capacidade de fazer circular a bola e verticalizar passes para os atacantes.

Para quem gosta de números: contra o Cardiff, Torreira fez 26 passes completos em 26 tentativas, com uma grande assistência para golo pelo meio. Ora veja lá.

A questão, agora, será perceber a reação de Guendouzi a esta ultrapassagem. É que, apesar de ser um jovem acabadinho de chegar a Londres, o francês tem, conta quem o conhece, uma alta confiança em si. E não gosta que os outros não tenham.

“Ele acredita tanto em nele próprio que fica frustrado quando não o colocam no mesmo pedestal no qual ele acredita que deve estar. Ele tem um problema com esse lado do temperamento. Não é mau miúdo nem mal-educado, apenas tem essa crença profunda e inata nele próprio”, chegou a dizer Loic Fery, presidente do Lorient.

Por falar em Lorient. Este traço da personalidade de Guendouzi levou a que o jogador tenha feito apenas 21 jogos pelo clube gaulês, na última temporada. Depois de uma discussão com o treinador – o histórico ex-guarda redes Landreau –, ficou três mesinhos de molho. Só a ver.

“Ter ficado algum tempo de fora ajudou-o, quando regressou. Ele é tão talentoso que tem de garantir que a ética de trabalho e atitude são de nível top”.

Eles bem tentam…

Como curiosidade, dizemos-lhe que Guendouzi ainda pode escolher por que seleção nacional quer jogar. Apesar de ser francês, tem ascendência marroquina. Já foi abordado pelo excêntrico Hervé Renard para jogar por Marrocos, mas o jogador não se chegou à frente.

O excesso de médios de qualidade na seleção francesa pode fazer tombar Guendouzi para Marrocos, mas o certo é que, se continuar a ser aposta no Arsenal, o mais provável é optar mesmo pelo seu país.

Pelo menos Ian Wright, lenda do Arsenal, já está convencido: “Ele já está no caminho para se tornar um herói no meu ‘livro’”.