Três triunfos em outros tantos jogos para o Championship. E mais um para a Taça da Liga. O arranque de Nuno Espírito Santo ao comando do Wolverhampton Wanderers, a equipa mais portuguesa dos escalões profissionais ingleses, está a ser 100 por cento vitoriosa, batendo recordes tanto a nível pessoal como do clube. A tática dos três centrais - algo que é novidade na carreira do técnico português, de 43 anos - e o “poeta” Rúben Neves são alguns dos segredos de uma equipa que já deixa os adeptos a sonhar com o regresso à Premier League.
O triunfo por 3-2 na deslocação ao terreno do Hull City, recém-despromovido ao segundo escalão, teve o condão de despoletar a euforia dos adeptos, que até já se renderam à bandeira portuguesa. “Uma equipa inacreditável”. Este é apenas um dos muitos elogios feitos por adeptos, que já começaram a avisar os rivais que vão ganhar o título e regressar ao topo do futebol inglês, onde fizeram história na década de 50 do século passado, com três títulos conquistados – os únicos da história do clube no escalão máximo.
Embora ainda não fosse desmedida, a euforia começou a evidenciar-se logo após o primeiro encontro particular na pré-época, quando os pupilos de Nuno bateram os alemães do Werder Bremen, por 1-0. Antes do arranque da competição oficial novo triunfo por 1-0, desta feita frente ao Leicester City, do primeiro escalão. Mas faltava o arranque a sério. E aí o Wolves voltou a não falhar, tendo batido já duas equipas que na última época estavam na Premier League.
O campeonato começou com um triunfo por 1-0 na receção ao Middlesbrough FC, seguindo-se um triunfo por 2-0 no terreno do Derby County e, ontem, o tal triunfo no terreno do Hull City por 3-2. Sempre com o mesmo onze, assente em três centrais e com três portugueses entre os titulares. A Roderick Miranda, Rúben Neves e Diogo Jota juntam-se ainda Boly, que está emprestado pelo FC Porto, e Léo Bonatini, que despontou em Portugal pelo Estoril-Praia. Pelo meio um triunfo por 1-0 frente ao Yeovil Town para a Taça da Liga, onde NES aproveitou para rodar a equipa, dando a titularidade ao jovem lateral português Rúben Vinagre.
Há ainda mais dois portugueses no plantel do Wolverhampton. Ivan Cavaleiro começou a temporada lesionado, mas já regressou aos relvados, fazendo de “arma secreta” de Nuno nos dois últimos encontros. O atacante ex-Benfica saltou do banco em duas ocasiões e já leva um golo e uma assistência. Depois há Hélder Costa, que ainda está a contas com uma lesão, mas quase a regressar aos relvados. E os adeptos já aguardam ansiosamente o regresso do melhor jogador do clube na última época. “Quando ele regressar ainda vamos melhorar mais”, vincou um adepto do Wolves logo após o encontro desta terça-feira.
Frente ao Hull City, naquela que foi a primeira partida oficial em que o conjunto de Nuno sofreu golos, Diogo Jota e Rúben Neves também se estrearam a marcar, com especial destaque para o médio ex-FC Porto, que inaugurou o marcador com um remate de longe. Um lance que colocou o internacional português, de 20 anos, no centro das atenções. Neves foi elogiado pela imprensa inglesa, com o “The Sun”, por exemplo, que o considerou “a estrela do show do Wolves”, e também pelo próprio técnico, que comparou o tento do médio a “poesia”.
Recorde da carreira e do clube
O triunfo frente ao Hull confirmou o melhor arranque da carreira de Nuno Espírito Santo num clube, com quatro triunfos nos primeiros quatro jogos oficiais da época, superando as três vitórias e um empate conseguidos na última época ao serviço do FC Porto e também em 2014/15 no Valência CF. Mas também se trata do melhor arranque do Wolves em quase 30 anos, desde 1988/89, altura em que o clube subiu do terceiro ao segundo escalão.
Para Nuno Espírito Santo o momento vivido pelo Wolves, que foi adquirido pela Fosun, empresa asiática com ligação ao empresário Jorge Mendes, “mostra o trabalho que os rapazes fizeram desde o primeiro dia, a forma como se prepararam para este grande desafio”. O pecúlio 100 por cento vitorioso é para Nuno “uma grande recompensa pelas intensas horas de trabalho na pré-época”, elogiando a equipa logo após o final do encontro frente aos “tigers”.
Com este registo o Wolves está assim no grupo de líderes do Championship, ocupando o segundo posto da tabela, com os mesmos pontos do Cardiff City, que é líder porque tem melhor registo em termos de golos – seis marcados e nenhum sofrido, contra seis marcados e dois sofridos dos pupilos de NES -, e Ipswich Town – sete golos marcados e quatro sofridos. Mas até pode sair ainda melhor posicionado da próxima jornada, no sábado, caso vença na receção ao… Cardiff.
Para essa missão, o Wolves vai contar com o bloco defensivo que tem dado cartas. De um lado Boly, do outro Roderick e ao centro o capitão Coady, um jovem defesa de 24 anos formado no Liverpool FC, que comanda o sistema de três centrais de Nuno. O irlandês Doherty, pela direita, e o escocês Douglas, pela esquerda, fazem as alas e dão vida a este sistema que está cada vez mais na “moda” nos principais campeonatos europeus e que tantos resultados recentes tem tido.
O centro do terreno é ocupado por Rúben Neves e pelo marroquino Saiss e na frente está também um trio, com Diogo Jota e o jovem nigeriano Enobakhare, de apenas 19 anos, a jogarem mais soltos e a caírem nas faixas, e com o brasileiro Bonatini no meio. No banco, tal como já frisámos, há Ivan Cavaleiro, mas também Nouha Dicko, uma verdadeira seta maliana, que já leva dois golos esta época, sendo o melhor marcador da equipa, mesmo sem nunca ter sido titular no campeonato – apenas começou de início no jogo da Taça da Liga.
Um futebol nunca visto
Nuno está a quebrar todas as barreiras em Wolverhapton. E são os próprios adeptos a confirmá-lo. “Tem sido um início incrível de Nuno, que superou todas as expectativas dos adeptos”, começa por dizer ao Bancada o administrador da comunidade Wolves Fanzone no Facebook. “Tivemos um arranque difícil contra o Middlesbrough, que vem da Premier League, mas conseguimos banalizá-los”, descreve-nos.
Mas o adepto do “lobos” vai mais longe, garantindo que o futebol imposto por Nuno é o melhor que já viu o clube jogar. “Estamos a jogar um estilo de jogo que nunca foi visto no clube. Passes ao primeiro toque, que ajudam a equipa a superiorizar-se aos adversários. Isso faz com que tenhamos recebido os aplausos dos adeptos rivais, que nos classificam como a melhor equipa do campeonato”, revela.
A aposta em jogadores portugueses está, agora, a ser bem acolhida entre os adeptos, que até acreditam que alguns deles são os melhores do Championship. “Muitos adeptos estavam convencidos que era uma aposta demasiado descarada, mas todos estão a provar que esses pensamentos eram errados. Jogadores como Rúben Neves, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro e Diogo Jota são os melhores do plantel e possivelmente do campeonato”, aponta-nos.
“Estamos a jogar bom futebol e a ganhar. É impossível ganhar o Championship a jogar bom futebol, mas nós vamos fazê-lo. Acompanho o Wolves há 47 anos, vi o clube em todos os escalões, e posso dizer que esta equipa é inacreditável e está a jogar muito bem. Estou absolutamente deliciado com a qualidade da equipa. Todos os portugueses são incríveis. O Wolverhapton está a caminho da Premier League”, afirmou um entusiasmado adepto do clube, ao jornal “Express&Star” após o encontro frente ao Hull City.
A mesma opinião foi dada por outro adepto ao mesmo meio. “Fomos fantásticos, estamos a jogar de uma forma como não via há muito tempo”, descreveu o adepto que também acredita que o Wolves vai vencer o Championship esta temporada. Após um arranque de temporada que todos perspetivavam como “complicado”, agora a euforia faz aumentar a fasquia para Nuno Espírito Santo colocar o histórico clube inglês num patamar de onde caiu em 2012. Os próximos jogos do campeonato e a deslocação ao terreno do primodivisionário Southampton FC, na próxima quarta-feira, serão testes importantes para Nuno perceber até onde pode conseguir levar a nova equipa e se os recordes irão ficar por aqui.