Grande Futebol
Tata Martino: cumprir o "sonho americano" com paixão sul-americana
2018-12-12 14:00:00
Em dois anos, o ex-treinador do FC Barcelona e da seleção argentina levou o Atlanta United a campeão da MLS

Treinou o FC Barcelona um ano no pós-Tito Vilanova, depois foi ser selecionador da Argentina rendendo Alejandro Sabella e dois meses depois após demitir-se do cargo, cansado das críticas, rumou em 2017 aos Estados Unidos para treinar o Atlanta United. No último sábado, cumpriu o "sonho americano" com dose de paixão sul-americana. O Atlanta, sem nenhuma estrela do tamanho sequer próximo de Ibrahimovic, Schweinsteiger ou David Villa, conquistou o título da Major League Soccer (MLS) ao bater na final os Portland Timbers por 2-0. Estamos a falar de Gerardo 'Tata' Martino, treinador argentino de 56 anos que decidiu rumar aos "states" para afastar-se do constante "assédio" da imprensa argentina que o criticava a torto e a direito por ter perdido as finais da Copa América 2015 e da Copa America Centenario, as duas com o Chile e sempre na decisão dos penáltis.

Convidado em 2017 para treinar o Atlanta United, que iria estrear-se pela primeira vez na MLS, Tata Martino acabou seduzido pelo projeto que lhe foi apresentado por Darren Eales, ex-jogador inglês que preside aos destinos do clube norte-americano e que durante quatro anos trabalhou no Tottenham como diretor desportivo. Um projeto novo, ambicioso e com meios para crescer. O dono do Atlanta United é Arthur Blank, empresário norte-americano, co-fundador do The Home Depot, a principal loja de material de construção dos Estados Unidos. A estes dois , Darren Eales e Arthur Blank, juntou-se Carlos Bocanegra, antigo jogador de Fulham, Saint Étienne e Glasgow Rangers e que marcou presença no Mundial da África do Sul ao serviço dos Estados Unidos. Bocanegra é o responsável pelas contratações e foi ele que foi buscar Josef Martínez, avançado venezuelano que andava perdido pelo Torino e que foi considerado o MVP da MLS 2018..

A principal razão porque Martínez aceitou ir para o Atlante chamou-se Tata Martino. “Uns meses depois, falei com o Tata. Ele falou-me sobre o projeto. Estavam a preparar-se para o primeiro ano [na MLS], estava tudo a correr bem e tinham contratado uns jogadores jovens muito bons. Mas aquilo que me marcou foi o orgulho que ele tinha no projeto – o quanto entusiasmado estava por estar a criar algo novo. Não tive de pensar muito. Queria estar em Atlanta”, contou o avançado venezuelano, num texto que escreveu para o The Players’ Tribune.

Dois meses antes de sagrar-se campeão da MLS, Tata Martino anunciou que iria abandonar o Atlanta United no final da temporada. A seleção do México pode ser o próximo passo deste treinador que não vingou no FC Barcelona, foi crucificado no seu próprio país, mas mantém a aura dos verdadeiros campeões. E o título americano devolveu-lhe o sonho de continuar a evoluir cada vez mais. Com paixão e entusiamo a tentar colocar as suas equipas a jogar de acordo com as suas ideias, um futebol de ataque, com passes curtos, e muita pressão na tentativa de recuperar a bola no meio-campo adversário. Um treinador que que não abdica da sua linha de conduta, muito clara: exige disciplina, seriedade, ética e honestidade.

Como recorda outro jogador sul-americano da equipa, o médio paraguaio Miguel Almirón no The Players’ Tribune: "Depois de perdermos com o Columbus, não conseguia esquecer o que Tata Martino nos tinha dito antes do início do jogo. ‘Estejam calmos. Mas não tenham medo. Lembrem-se daquilo por que estão a jogar e de por quem estão a jogar. Joguem por Atlanta’. Foi surreal ouvi-lo dizer aquilo. Antes desta temporada, Tata tinha tanta ligação a Atlanta como eu tinha: zero. Mas há uma coisa que temos de compreender. El Tata é um ídolo para nós, jogadores sul-americanos. Ele é o homem que está por trás de tudo", afirmou Almirón decerto a lembrar-se de quando Gerardo Martino levou o Paraguai aos quartos-de-final do Mundial 2010.