Grande Futebol
Sterling, a filha que é "doente" pelo Liverpool e o "não" dado ao Arsenal
2018-07-10 15:55:00
O jogador é uma das peças mais importantes da seleção inglesa que vai lutar por um lugar na final do Mundial

Raheem Sterling tem sido uma das figuras da seleção inglesa que tão boa conta de si tem dado no Campeonato do Mundo. O atacante, que soube do assassinato do seu pai quando tinha apenas dois anos de idade, foi, aliás, uma das peças chave de Pep Guardiola para a conquista da Premier League por parte do Manchester City. Em casa, porém, há uma batalha que não consegue vencer: "A minha filha não quer saber do City. É doente pelo Liverpool. Quando estou em casa passa o dia a cantar 'Mo Salah! Mo Salah! Mo Salah! Runnin' down the wing! Salahhh la la la la! The egyptian king!"

Em entrevista ao "The Players' Tribune", Raheem Sterling abriu as portas da sua vida e revelou que perdeu o pai quando tinha apenas dois anos. O atacante, que disputa na quarta-feira o acesso à final do Campeonato do Mundo, não entrou em grandes pormenores sobre este episódio da sua vida explicando apenas que assassinado na Jamaica, onde vivia toda a família.

"Depois da morte do meu pai, a minha mãe decidiu que tinha de ir para Londres para acabar o curso e deixou-me a mim e à minha irmã na Jamaica. Durante alguns anos ficámos a viver em casa dos meus avós, em Kingston. Foi difícil porque lembro-me de todos os dias os meus amigos falarem nas mães e nos pais e nós não os tínhamos connosco. Mas a minha avó era fantástica", recordou o atacante inglês.

Mas o que lá vai, lá vai e os tempos agora são outros. Sterling cresceu, tornou-se jogador profissional no Liverpool FC e teve uma filha. Pois bem. A filha que faz questão de deixar bem claro que não quer nada com o clube que o pai representa. Sterling transferiu-se para o Manchester City há três temporadas a troco de 50 milhões, mas o Liverpool FC nunca saiu lá de casa... aliás, corre pelas divisões da casa.

"A minha filha é atrevida. Bem que a minha mãe me avisou que quando chegam aos seis anos começam a mostrar um pouco de personalidade, percebem? Quando cheguei a casa, depois de termos ganho a Premier League, depois de bater o recorde de 100 pontos no campeonato, pensam que ele se importou? Ela não se importa com o Manchester City. Calma, na verdade ela estava a correr pela casa e a cantar uma música:'Mo Salah! Mo Salah! Mo Salah! Runnin' down the wing! Salahhh la la la la! The egyptian king!' Acreditam nisto?"

A verdade é que Raheem Sterling vê muito da sua personalidade, quando criança, na sua filha. O jogador reconhece que nem sempre se portou bem na escola. Isto já depois de se ter mudado para Londres, ele e a irmã juntaram-se à mãe na capital inglesa. Um Mundo completamente distinto à realidade que estava habituado na Jamaica.

"Eu portava-me muito mal na escola primária. Não conseguia ter interesse pelo que as professoras diziam. Subtração? Por favor, isso não é para mim. Eu ansiava pelos intervalos para ir correr nas poças de lama com uma bola de futebol e dizer que era o Ronaldinho. Era só isso que me ia na cabeça. Até que um dia chamaram a minha mãe e lhe disseram que eu não estava na escola certa. Eu precisava de um ambiente em que me fosse dada mais atenção. Então fui para uma escola onde na minha turma tinha seis colegas e três professores e não estou a exagerar", relembrou Sterling.

As coisas começaram a ganhar forma para Sterling quando conheceu Clive Ellington, o mentor que o fez olhar para o futuro com outros olhos. A pessoa certa no momento certo.

"Um dos momentos de viragem da minha vida deu-se quando conheci Clive Ellington. Ele costumava ajudar os miúdos do bairro que não tinham grande suporte familiar. Ele era uma pessoa que tomava conta de nós e um dia sentou-se comigo e perguntou-me, 'Raheem, o que é que tu gostas de fazer?', e eu respondi, 'gosto de jogar futebol', ao que ele respondeu, 'há uma equipa amadora aqui no bairro, porque não vens jogar connosco?'. E foi assim. Esse momento mudou a minha vida."

O não ao Arsenal

Depois de alguns bons jogos na equipa de bairro, Sterling passou a ser um nome conhecido entre os olheiros dos clubes mais importantes de Londres. Entre os interessados estava o Arsenal.

"Quando ouvimos dizer que o Arsenal está interessado em nós, o que é que dizemos? Que queremos ir, certo? Um dos maiores clubes de Londres. Fui a correr dizer aos meus amigos. Mas a minha mãe sabe muito. Sentou-se comigo e disse-me: 'Ouve, eu amo-te acima de tudo. Mas acho que não devias de ir para o Arsenal.' E eu: 'Ehhh?'. Ela continuou: 'Quando lá chegares vais encontrar 50 miúdos tão bons ou melhores do que tu. Vais ser só mais um. Tu tens de ir para um clube onde possas evoluir'.

E assim foi. Raheem Sterling surpreendeu todos os seus amigos que esperavam vê-lo no Arsenal e decidiu mudar-se para para o Queens Park Rangers. Dali até ao Liverpool FC foram um par de anos e a primeira coisa que Sterling fez quando assinou o primeiro contrato profissional foi comprar uma casa à mãe: "Foi o dia mais feliz da minha vida. Finalmente pude compensar todo o sacrifício que ela e a minha irmã fizeram por mim. Se não fossem elas as duas eu hoje não era o que sou."