Grande Futebol
Rony Lopes, o rapazola dos 30 metros que nem parece jogador (Vídeo)
2018-04-17 20:00:00
Um talento dos diabos, mas discreto e calminho.

O Marcos Paulo é um grande jogador, não é? Certamente estará de acordo. Marcos Paulo Mesquita Lopes é, para o futebol, Rony Lopes. Um talento dos diabos, já internacional A por Portugal e que anda a bater recordes em França. Ele que, numa área de serviço, mostrou que é um simples jovem de 22 anos. Ele que, há uns anos, funcionava na base dos 20 ou 30 metros. Já lá vamos a estes pormenores.

Estamos a falar de um menino nascido em Belém – não, não foi onde, para os cristãos, terá nascido Jesus de Nazaré –, mas que cedo viajou do nordeste brasileiro para Coimbra e, depois, para o Caixa Futebol Campus. No Benfica, cruzou-se, por exemplo, com João Gomes e com Miguel Miguel.

“Aquele é jogador? Nem parece…”

Quisemos, primeiro, saber quem é Rony Lopes. O jovem de 22 anos, não o jogador. Perante as respostas, tão claras e tão semelhantes, o atual jogador do AS Mónaco é, sem dúvida, um rapaz humilde, simples e discreto. “O Rony é um rapaz muito calmo e tranquilo. Um pouco introvertido e envergonhado até conhecer as pessoas e ganhar a sua confiança. Sempre foi um rapaz muito humilde. É algo que sempre o caracterizou”, explica, ao Bancada, Miguel Miguel, atual jogador do Fafe. Já João Gomes, que chegou a ser um dos melhores jogadores daquela geração, vai mais longe e conta-nos mesmo que, passados quase dez anos, Rony continua a ser o mesmo rapazola que espalhava magia no Seixal. Tanta simplicidade que nem parece um futebolista.

“Como pessoa, acho que o que mais se realça é mesmo a humildade que sempre teve, desde os tempos em que éramos novos. Ele nunca mudava, fosse o melhor em campo ou não”, começa por contar, antes de acrescentar: “Até agora, sendo já jogador do Mónaco, é o mesmo miúdo que conheci penso que há dez anos. Ainda há um mês o encontrei numa área de serviço e penso que, se não o conhecesse, nunca ia adivinhar que era um jogador de futebol”.

Rony Lopes já é internacional A e, com a temporada que está a fazer, estará no radar de Fernando Santos para o Mundial

Rony Lopes fez quase toda a formação no Benfica, mas acabou-a no Manchester City, que “pescou” aquele luso-brasileiro ainda com idade de juvenil. Mostrou-se bastante nos juniores e na equipa sub-21 e chegou até a ser chamado, esporadicamente, por Roberto Mancini e Manuel Pellegrini.

Acabou por ser emprestado ao Lille e, depois, comprado pelo Mónaco. Depois de mais duas temporadas no Lille – emprestado pelo clube do principado –, Leonardo Jardim quis ter este português no plantel. E que bem pensou o treinador português.

Há 17 anos (!!!) que ninguém fazia o que ele fez

Já conhecemos um pouco da pessoa, falta-nos conhecer o craque. João Gomes assume que Rony tinha algo que os outros não tinham. “Principalmente na segunda metade da época de iniciados A, que penso que foi quando deu um grande salto na formação, toda a nossa equipa via ali um jogador diferente, tinha algo a mais que nós. Joguei com vários jogadores que hoje em dia estão em grandes clubes como o Cancelo, o Guedes ou o Lindelof, mas penso que a diferença que o Rony fazia apenas vi uns anos mais tarde nos juniores o Bernardo Silva fazer”, elogia.

Rony Lopes tem mostrado talento, em França, mas não só. Tem mostrado golos. E muitos. Já são 15, uma marca de respeito, sobretudo para um jogador que atua a partir de um corredor e que tem, na equipa, alguém chamado Falcao, esse sim o principal responsável por meter as bolinhas lá dentro. Rony sempre foi assim? Nem por isso...

Miguel Miguel explica-nos que Rony sempre foi um jogador de criar desequilíbrios, mais do que de marcar golos. “Na altura, ele já fazia golos, mas não com a regularidade de agora. Ele era um jogador de criar desequilíbrios, gostava de arrancar com a bola a partir de trás. Jogava na posição 10 e caracterizava-se pela velocidade, força e técnica que já eram bem evidentes na altura”.

João Gomes tem visão semelhante e explica que “ele sempre foi mais de criar golos do que propriamente um goleador, apesar de também fazer sempre vários golos por época”. “Apesar de estar a ser falado apenas pelos golos que tem feito, esta época também já fez muitas assistências”, alerta ainda o ex-jogador da formação do Benfica.

E é mesmo isto. Rony, apesar das muitas assistências, tem sido falado sobretudo pelos golos. O internacional português bateu um recorde que já tinha 17 anos: oito jogos seguidos a marcar, em França. A última vez que alguém o tinha feito foi há 17 anos, quando Sonny Anderson, do Lyon, marcou em dez jogos consecutivos.

Caro Rony, se estás a ler isto, atira-te ao Sonny já frente ao Guingamp e ao Amiens.

Histórias? Nem vê-las!

Estamos habituados a que quem se cruzou com estes craques na juventude nos conte sempre uma ou duas historinhas giras dos tempos da adolescência. Talvez precisamente por Rony ser tão calmo e, sobretudo, tão tímido, nenhum dos ex-colegas se lembrou de algum episódio em concreto mais engraçado ou bizarro. Rony, pelo que nos contam, é assim mesmo: um talento dos diabos, mas discreto e calminho. Mas não há problema, compensamos com futebol do bom.

Imagine aquele golo de Maradona, no Mundial 86. Aquele em que ele senta aquela malta toda, antes de marcar. Segundo nos conta Miguel Miguel, isto era o que Rony gostava de fazer, nas camadas jovens do Benfica. “A ação preferida dele era arrancar com a bola, a 20/30 metros, e deixar os adversários para trás”.

Seria disto que falava Miguel?