Grande Futebol
Ronaldo Vieira, dava as ordens musicais, "mexia-se todo" e quer Portugal
2018-08-01 14:35:00
Um craque que, se quiser, pode trocar os ingleses pela seleção portuguesa.

Imagine que juntamos Ronaldo – o Cristiano ou o Fenómeno – a Patrick Vieira. Já viu o que seria? E olhe que há mesmo um Ronaldo que também é Vieira. Este médio guineense, de 20 anos acabadinhos de fazer, é uma das novas coqueluches do futebol inglês. E ainda pode, se quiser, trocar os ingleses pela seleção portuguesa.

Quisemos saber mais sobre este craque que está perto de trocar o Leeds pela Sampdoria e falámos com Miguel Sousa, Pedro Seabra, David Vieira e Duarte Bona, todos ex-colegas, no Benfica. Temos histórias com condutores, com ordens expressas do jovem Ronaldo, com danças, com máquinas de barbear e com cristas. A ler mais à frente.

Para já, importa justificar este texto. Fazemo-lo porque Ronaldo Vieira – cujo irmão, Romário, também joga no Leeds – já leva dois anos como titular do histórico inglês, no Championship, e duas participações em Toulon. Está a dar nas vistas, o rapaz.

Ronaldo nasceu em Bissau, em 98, algo que justifica o nome que recebeu. “A minha mãe gostava de jogar futebol. No ano em que nascemos, que foi em 1998, o Brasil tinha Romário e Ronaldo e ela gostava muito do Brasil. Por isso, ficámos com o nome”, contou o irmão Romário, ao “Maisfutebol”.

Meta lá o som mais alto!

Mas vamos lá à primeira historinha. Miguel Sousa, que se cruzou com Ronaldo no Benfica, recorda um rapaz que tomava conta daquilo tudo.

“Lembro-me de que, na altura, treinávamos nos “pupilos do exército” e, quando acabava o treino, era o regresso ao Seixal na carrinha do Benfica. Juntamente com mais quatro ou cinco, lá íamos nós e, por vezes, era o Ronaldo quem "mandava" o condutor meter uma música ou pôr o som mais alto. Ele lá dançava e mexia-se todo. Tornava a viagem de rotina mais animada e divertida”.

Ronaldo é o "distraído" da fila de baixo, em segundo lugar a contar da direita

Ronaldo Vieira chegou a Portugal com 6 anos e o Benfica “caçou-o” no Imortal, do Algarve. “Ele era um bom rapaz. Na altura veio do Algarve para o Seixal e ficou longe da família, ainda muito novo. Uma pessoa cinco estrelas: brincalhão, bem animado…”, define, ao Bancada, Miguel Sousa, numa visão parcialmente subscrita por Pedro Seabra: “O Ronaldo chegou num ano em que eu já estava inserido na equipa e, como é normal, ele não conhecia quase ninguém. Mostrou-se um pouco tímido ao início, mas, com o passar do tempo, foi ficando mais à vontade e soltou-se. Tornou-se mais extrovertido. Simpático, bem-educado e amigo são, também, adjetivos que o caracterizam bem”. Já David Vieira lembra a rebeldia do rapaz: “Ele era trabalhador, brincalhão, leal e rebelde”.

Como dissemos, Ronaldo foi para o Seixal e, como o próprio já chegou a reconhecer, as coisas não correram bem. O médio iria ser dispensado, sensivelmente ao mesmo tempo que a família decidiu emigrar para Inglaterra, onde foi apanhado pelo Leeds.

Um avançado dispensado virou médio desejado

É especulativo dizer isto, mas pode não ser totalmente descabido: parte do falhanço de Ronaldo pode ser explicado pela posição que ocupava no Benfica.

“O Ronaldo tinha uma excelente visão de jogo, era rápido e tecnicista. Na altura, jogava em terrenos mais avançados (extremo ou ponta-de-lança)”, recorda Pedro Seabra, tal como Miguel Sousa: “Lembro-me de que ele desempenhava funções diferentes das que desempenha agora. Ele era avançado/extremo, forte no 1 para 1, um pé direito potente e, mesmo sendo baixo, era um jogador forte fisicamente”.

Depois de sair do Benfica, Ronaldo foi colocado em terrenos mais recuados. Foi já como segundo médio – vulgo box to box – que começou a dar nas vistas, usando, ainda assim, algumas das virtudes que já tinha mostrado no Seixal. Força física, potência a arrancar com bola e capacidade técnica para sair em condução pela zona central.

David Vieira destaca ainda a força e a boa meia distância do ex-colega, juntando-lhe uma boa capacidade na finalização. No Leeds, fruto de jogar bastante mais recuado, este aspeto tem estado mais escondido.

Mas o que estamos para aqui a dizer? Com ou sem golos, o rapaz já tem uma música só para ele.

Portugal? Inglaterra? Guiné?

Nascido na Guiné, com infância em Portugal e com adolescência em Inglaterra, Ronaldo Vieira tem a possibilidade de escolher jogar por qualquer uma destas seleções nacionais.

O médio já foi a dois torneios de Toulon pelos ingleses – conquistou os dois, já agora –, mas, ao “Maisfutebol”, deixou uma garantia: “A nossa [Ronaldo e Romário] opção vai ser jogar por Portugal”. Isto foi dito em 2016. Resta saber se, depois de duas conquistas pelos ingleses, o médio ainda pensa desta forma.

Caso opte por Portugal, a seleção nacional ganhará um jogador muito competitivo. Muito mesmo. “Nunca gostava de perder, fosse a peladinha fosse o jogo individual. Era muito concentrado nos jogos”, destaca Duarte Bona.

Lá se foi o penteado “xpto”

A terminar, falemos dos penteados de Ronaldo. Agora, opta por um penteado relativamente simples, mas, em tempos, era fã de uma bela crista. “Lembro-me de, no primeiro dia em que o conhecemos, achámos todos piada ao penteado dele, que era uma crista e o cabelo rapado de lado”, recorda Pedro Seabra.

O problema, para Ronaldo, foi outro. Pelo menos é o que nos diz David Vieira. “Lembro-me das vezes em que o Hildeberto e o Estrela lhe cortaram o cabelo no centro de estágio e lhe deixaram só com uma crista em cima”.