Grande Futebol
Playoffs da MLS definidos com algumas surpresas e mira apontada a Toronto
2017-10-23 18:00:00
Terminada a fase regular, 12 equipas - e alguns portugueses - lutam a partir desta semana pelo título norte-americano

Após este domingo se ter disputado o dia de todas as decisões na fase regular da MLS, a Liga norte-americana ruma a passos largos para os playoffs, onde 12 equipas vão lutar pelo título final. Isso mesmo, 12 equipas, pois este não é um playoff qualquer – tem as suas peculiaridades. É já na madrugada de quarta para quinta-feira que se inicia a fase eliminatória, com portugueses e antigos jogadores da Liga portuguesa à mistura. E também algumas estrelas mundiais, embora outras tenham ficado de fora da luta final. Em 2017, ano marcado por recordes de assistências e cada vez mais qualidade coletiva das equipas, a disputa promete ser intensa, com o alvo a abater a ser o vice-campeão Toronto FC.

Oito equipas lutam já esta semana para se juntarem às duas de cada conferência (Este e Oeste, tal como na NBA e na generalidade dos desportos norte-americanos) que terminaram a fase regular nos postos cimeiros, carimbando logo o acesso às meias-finais de conferência, ou seja, aos quartos-de-final da Major League Soccer. Mas isso pode não significar linearmente que essas quatro equipas (Toronto FC e New York City a Este e Portland Timbers, campeões em 2015, e Seattle Sounders, campeões em título, a Oeste) estejam mais perto vencer a MLS Cup - o equivalente a serem campeões. Isto porque estes playoffs não são iguais aos mais comuns e as particularidades que apresentam dão ainda mais imprevisibilidade e espetacularidade a uma festa em franco crescimento.

Dissecando os playoffs

Passemos então às questões que escapam ao mais comum dos adeptos. As duas conferências da MLS são divididas em onze equipas – em 2018 haverá, pelo menos, mais uma, a Oeste, pois já está garantida a entrada dos Los Angeles FC, que já completou a aquisição do mexicano Carlos Vela, faltando ainda saber se Miami terá uma nova equipa a Este. Apenas seis equipas de cada conferência vão lutar pelo título, num total de 12, ao contrário das habituais 16 presentes em eliminatórias de oitavos-de-final. Dessa forma, os vencedores e 2.ºs classificados das duas conferências passam automaticamente a primeira ronda de eliminação. Nota: as equipas de conferências diferentes apenas se poderão cruzar na final.

Essa primeira ronda de eliminação, que começa já a ser disputada na madrugada de quinta-feira, é disputada apenas a um jogo. O terceiro classificado de cada conferência enfrenta o sexto, enquanto o quarto defronta o quinto classificado. Outro ponto fundamental é o facto de as equipas melhor classificadas terem a seu favor o fator casa. Dessa forma, o playoff vai abrir com a receção dos Chicago Fire (terceiros em Este), do português João Meira e do alemão Schweinsteiger, aos New York Red Bulls (sextos), que estão bem distantes das temporadas em que contaram com Thierry Henry, mas que ainda têm no inglês Bradley Writgh-Phillips uma das principais armas.

Nessa mesma madrugada joga-se também a primeira partida de Oeste, com os Vancouver Whitecaps, do ex-Sporting Fredy Montero (14 golos na fase regular) a receberem os San Jose Earthquakes, que estão miraculosamente nos playoffs, depois de garantirem o apuramento com um golo já nos descontos. O conjunto canadiano beneficia do factor casa por ter terminado a fase regular no terceiro posto, depois de perder a liderança a Oeste na última jornada. Na madrugada seguinte os estreantes Atlanta United (quartos a Este), orientados pelo argentino Tata Martino e com craques como Villalba, Asad, Almirón e Josef Martínez (19 golos), recebem os Columbus Crew (quintos), do português Pedro Santos. Na última partida os Houston Dynamo (quartos a Oeste) recebem os Sporting Kansas City (quintos), onde Gerso é uma das estrelas maiores – já lá iremos.

À espera de adversários ficam as outras quatro equipas com melhor desempenho na fase regular. Como vencedores das respetivas divisões, Toronto FC e Portland Timbers irão enfrentar as equipas pior classificadas na fase regular que passarem às meias-finais de conferência. Já os New York City e os campeões Seattle Sounders enfrentam as equipas melhor classificadas na fase regular. As meias-finais de conferência já serão disputadas a duas mãos, com a segunda a ser realizada em casa da equipa melhor classificada na fase regular. Seguem-se as finais de conferência, disputadas no mesmo formato das meias-finais. Por fim, a grande final da MLS Cup, que este ano acontecerá a 9 de dezembro e onde a equipa com melhor pontuação na fase regular irá jogar como anfitriã.

Giovinco e companhia

É também por isto que o alvo está virado para Toronto. Além de vencedores da MLS Supporters' Shield – troféu para a melhor equipa da época regular -, que lhes confere a garantia de fazerem sempre o último jogo em casa, ainda conseguiram construir ao longo dos últimos dois anos um dos coletivos mais fortes da MLS. Mas com uma estrela pelo meio: o italiano Sebastian Giovinco (16 golos na fase regular). Ao contrário de muitas equipas que num passado recente apostaram em estrelas vindas da Europa, mas sem conseguir alcançar uma coesão enquanto equipa, o conjunto canadiano juntou ainda dois dos pilares da seleção norte-americana à “formiga atómica”: Michael Bradley e Jozy Altidore.

Foi esta receita que os levou à final da MLS Cup no ano passado, perdida em casa, nos penáltis, para os Sounders, de Dempsey e Lodeiro, com algum azar à mistura. Mas em 2017 os Toronto FC contam com o reforço Víctor Vázquez, médio espanhol, de 30 anos, que foi formado no FC Barcelona, e que elevou ainda mais o potencial da equipa orientada pelo antigo internacional norte-americano Greg Vanney, de 43 anos. Irão os Seattle Sounders repetir a façanha de 2016? Ou será a afirmação dos City, de Villa, Pirlo – já longe da melhor forma – e do técnico Patrick Vieira, a triunfar? E os Timbers, do ex-portista Diego Valeri, poderão recuperar o título perdido? Algum deles poderá travar uma eventual festa em Toronto?

As respostas começam a ser dadas já esta semana. No entanto, também é preciso contar com as restantes equipas. A prova disso foi a última temporada, onde nenhuma das quatro melhores equipas da fase regular conseguiu chegar à final - e só os Colorado Rapids conseguiram ir à final de conferência. Tanto os New York Red Bulls (vencedores da conferência Este) como os New York City (segundos em Este) e os FC Dallas (vencedores a Oeste) perderam logo nas meias-finais de conferência, de pouco valendo o fator casa e o facto de terem “saltado” a primeira fase eliminatória. Aliás, a “sucursal” do Manchester City foi mesmo despachada pelos Toronto FC com um parcial de 7-0 nas duas mãos.

Os Los Angeles Galaxy foram a última equipa a conseguir ser melhor na fase regular e também nos playoffs. Algo que já não acontece desde 2011. Desde o início do século que o mesmo só se verificou em mais três ocasiões: Columbus Crew, em 2008, novamente os Los Angeles Galaxy, em 2002, e Kansas City Wizards – atuais Sporting Kansas City -, em 2000. A juntar a isso, só DC United (1996 e 1997, nas duas primeiras épocas da MLS), Houston Dynamo (2006 e 2007) e Los Angeles Galaxy (2011 e 2012, com Beckham, Donovan e Robbie Keane) conseguiram defender o título com sucesso. Estes dados são a maior prova do equilíbrio na fase final da MLS. Favoritismo é uma palavra que não entra no vocabulário dos norte-americanos.

Ainda assim, se há equipa que pode contrariar essa tendência é a de Toronto. Terminaram a fase regular com 69 pontos, garantindo a conquista da MLS Supporters' Shield quando ainda faltavam disputar-se quatro jornadas. É a melhor pontuação obtida por uma equipa na fase regular da MLS, embora nem sempre esta se tenha disputado com 34 jornadas. Foram derrotados apenas em cinco ocasiões e todas as equipas que os bateram não conseguiram avançar para os playoffs. Tiveram ainda o melhor ataque, com 74 golos, e a segunda melhor defesa, com 37 golos encaixados – números que mostram que é nas defesas que ainda está o grande problema da MLS, embora esse seja um cenário que tem estado a melhorar –, superados apenas pelos 29 do Sporting Kansas City.

O segredo do sucesso da equipa canadiana pode ter estado na derrota na final do ano passado, que custou ainda mais por ter sido perante os próprios adeptos. A confissão foi feita por Giovinco, num recente artigo escrito para o site “The Players Tribune”. Após aquela derrota nos penáltis a equipa não baixou os braços e só pensou em vencer todos os jogos da nova época. “Apelidem a nossa época de história de redenção, de regresso em grande ou do que quiserem. Estivemos no topo da tabela durante todo o ano, mas não estamos satisfeitos. Após cada triunfo deixámos de festejar e começámos a pensar logo no seguinte. E não vamos parar até tornar o sonho realidade: um título em Toronto”, garantiu o internacional italiano, de 30 anos, sobre o conjunto que cumpre este ano o décimo aniversário. O golo apontado ontem no empate com os Atlanta United serve de aviso aviso…

Estrelas já a descansar, portugueses e caras conhecidas

A definição da fase regular da MLS ditou algumas surpresas, sobretudo em relação às equipas que não vão aos playoffs. A maior delas pode mesmo ser a dos Dallas FC. Depois de terem vencido a fase regular em 2016 e de terem sido semifinalistas da Liga dos Campeões da CONCACAF esta época, perdendo apenas para o futuro campeão Pachuca, falharam a qualificação em Oeste devido ao fator de desempate. Mesmo com uma goleada por 5-1 frente aos Minnesota United a fechar a fase regular, o tal golo nos descontos permitiu que os San Jose Earthquakes também terminassem com 60 pontos. E aí foi o primeiro fator de desempate a ditar quem seguia em frente: o maior número de vitórias.

Mas em Dallas a estrela era mesmo o coletivo, não se registando a presença de um grande nome mediático. Ao contrário do que se passa com os Philadelphia Union, do brasileiro Ilsinho, os Orlando City, de Nocerino e Kaká - o brasileiro disse adeus à MLS -, os Colorado Rapids, do veterano Tim Howard e Kevin Doyle, os históricos LA Galaxy, de Ashley Cole e dos irmãos Giovani e Jonathan dos Santos, que foram mesmo a pior equipa da fase regular, os New England Revolution, do internacional norte-americano John Agudelo e do serra-leonês Kei Kamara - melhor marcador da MLS, em 2015, com 26 golos - ou os Montreal Impact, de Dzemaili e Ignacio Piatti, que no ano passado só foram travados pelos rivais de Toronto na final da conferência Este.

Entre os jogadores que já iniciaram “férias” destaque ainda para alguns jogadores portugueses e outros que também passaram pelo nosso futebol. O lateral Rafael Ramos, dos Orlando City, e o médio João Pedro, dos LA Galaxy, não vão discutir os playoffs. Há ainda os casos dos ex-Sporting Onyewu, que alinha nos Philadelphia Union, e Ciani, que também faz parte dos LA Galaxy, e do ex-FC Porto Ibson, que atua nos Minnesota United. No entanto, são bem mais os que ainda estão na disputa pelo título e que se têm destacado ao longo da temporada.

Nos Portland Timbers brilha Diego Valeri, que passou despercebido como médio no FC Porto, em 2009/10, mas que agora é um finalizador nato, marcando 21 golos na fase regular – apenas superado por Villa (22) e pelo húngaro Nikolic (24), de 29 anos, que foi contratado esta temporada pelos Chicago Fire ao Legia Varsóvia. Nos Vancouver Whitecaps, além de Montero, há ainda o egípcio Aly Ghazal, ex-Nacional. Nos Houston Dynamo há o argentino Tomás Martínez, ex-SC Braga. Nos Chicago Fire, de Meira, há ainda o argentino Solignac, que passou pelos juniores do SC Braga, e o el-salvadorenho ex-FC Paços de Ferreira Arturo Álvarez. Já os New York Red Bulls contam na defesa com o ex-Sporting B Fidel Escobar e o ex-Vitória de Setúbal Collin.

Depois, no Sporting Kansas City há o ex-Sporting Diego Rubio (sete golos) e Kévin Oliveira, médio cabo-verdiano formado no Benfica. Mas é Gerso o caso de maior sucesso. Com oito golos e várias assistências, o luso-guineense - ex-Belenenses, Estoril-Praia e Moreirense - foi um dos melhores rookies em 2017, e é uma das grandes armas da equipa nos playoffs, depois de já ter dado um grande contributo para a conquista da Taça dos Estados Unidos esta temporada. Além de Gerson e Meira, o outro português ainda em prova é, tal como já referido, Pedro Santos. O antigo extremo do SC Braga foi contratado em agosto, naquela que foi anunciada como a transferência mais cara da história do Columbus Crew.

Onde ver?

É, assim, cada vez mais longe dos anos dourados de Beckham e companhia, e cada vez com maior equilíbrio e motivos de interesse, que a MLS vai avançar para o do or die, ou em português do Brasil: mata-mata. É também por isso que as assistências da Liga norte-americana estão a bater recordes e é bem possível que assim continue a ser nos playoffs. Ontem estiveram 71.874 pessoas a assistir ao embate entre Atlanta United e Toronto FC. Um recorde máximo da competição. Isto depois de já no mês passado o New Atlanta Stadium ter batido o anterior recorde, aquando da receção da equipa de Tata Martino, antigo técnico do FC Barcelona, aos Orlando City, de Kaká. Números que sustentam o desejo da MLS em tornar-se uma das ligas de maior referência a nível mundial na viragem da próxima década.

Há ainda outro fator que pode tornar a MLS mais interessante, pelo menos em Portugal, uma vez que as transmissões dos jogos dão em canal aberto [por cabo ou satélite], mais concretamente na Eurosport. E, logicamente, o canal vai transmitir grande parte das partidas dos playoffs em direto. Deixamos aqui o calendário das transmissões da primeira fase eliminatória, estando as restantes fases dependentes da definição destes primeiros jogos.

Primeira fase eliminatória:

Quinta-feira (26 de outubro)

1H30 - Chicago Fire-New York Red Bulls (Direto, na Eurosport 1)

7H30 - Vancouver Whitecaps-San Jose Earthquakes (Diferido, na Europsort 1)

Sexta-feira (27 de outubro)

00H00 - Atlanta United-Columbus Crew (Diret, na Eurosport 1)

8H30 - Houston Dynamo-Sporting Kansas City (Diferido, na Eurosport 1)

Meias-finais de Conferência:

Serão transmitidos dois dos quatro jogos da primeira mão em direto, um no domingo (29 de outubro) e outro na segunda-feira (30 de outubro).

No fim-de-semana seguinte, serão transmitidos mais dois jogos da segunda mão. 

Finais de Conferência e da MLS Cup:

Todos os cinco jogos (primeira e segunda mão da final de Este e Oeste e grande final, que será a 9 de dezembro) serão transmitidos em direto. No entanto, os jogos e horários ainda não estão definidos.