Grande Futebol
Pini Zahavi: o antigo jornalista que controla parte do futebol mundial
2018-02-22 20:15:00
O agente israelista passou a representar Robert Lewandowsi, avançado e goleador do Bayern Munique

Em 2006, o jornalista Jamie Jackson, no jornal inglês 'The Guardian', definia Pini Zahavi como "o primeiro e único super agente do futebol". Hoje, o panorama é diferente os chamados 'super agentes' já são mais comuns (Pippo Russo, jornalista italiano, escreveu sobre essa temática no Bancada), mas a importância, relevância e influência do israelita no futebol atual continua a ser grande e vasta. Que o diga Neymar.

O craque brasileiro, um dos melhores futebolistas do planeta e estrela maior do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira. No último verão, o avançado trocou a camisola do FC Barcelona, onde formava um trio diabólico com Messi e Suárez, pelo clube da capital francesa. A transação para o Paris Saint-Germain fez-se por mais de 220 milhões de euros, com Neymar a tornar-se o jogador mais caro da história da modalidade. Pini Zahavi até estava sentado ao lado dos pais de Neymar na apresentação no Parque dos Príncipes, o estádio do Paris Saint-Germain, o que prova a confiança e proximidade do israelita com o jogador brasileiro e a importância que teve em todo o processo de mudança de clube. 

Esta quinta-feira, o nome de Pini Zahavi voltou a ecoar pelos jornais de todo o mundo quando se soube que Robert Lewandowski, avançado do Bayern Munique e da seleção da Polónia, havia deixado o agente Cezary Kucharski, com quem trabalhava desde adolescente, para unir forças com Pini Zahavi, que, entretanto, confirmou a 'transferência'. "É uma grande honra e privilégio para mim representar o melhor ponta-de-lança do mundo", disse Zahavi ao jornalista polaco Mateusz Borek. É apenas mais um dos muitos jogadores de topo que tiveram ou têm ligações ao agente de 74 anos desde que entrou para este mundo, em 1979.

Nesse ano, Zahavi intermediou a transferência do defesa israelita Avi Cohen do Maccabi Tel Aviv para o Liverpool FC. Foi o próprio Zahavi, que ia regularmente a Inglaterra, que sugeriu a contratação de Cohen aos 'reds', que acabaram por ir ao encontro das intenções do então jornalista. Pela transferência, Zahavi recebeu uma comissão e continuou a intrometer-se no mercado inglês. A primeira grande transferência conduzida por Pini Zahavi em Inglaterra aconteceu em 2000, quando já estava completamente implementado naquele país e tinha uma rede contactos extensa o suficiente para isso. Foi o fio condutor na compra de Rio Ferdinand pelo Leeds United ao West Ham e, dois anos mais tarde na mudança do defesa-central do Leeds United para o Manchester United.

A mediática transferência de Neymar do FC Barcelona para o Paris Saint-Germain é um dos mais recentes exemplos do trabalho de Pini Zahavi (Christophe Petit Tesson/EPA)

Contudo, foi em 2003 que Pini Zahavi passou a ser uma figura essencial no futebol inglês. Nesse ano, Zahavi foi um dos grandes responsáveis pela aquisição do Chelsea por parte de Roman Abramovich, atual dono dos 'blues', assim como alguns dos jogadores contratados desde que o russo assumiu o controlo do clube londrino. A partir daí, Zahavi passou a fazer parte do círculo próximo do milionário.

Mas Zahavi nem sempre foi figura influente no mundo das transferências do futebol. Antes, era... jornalista. Trabalhou em publicações israelitas como o 'Hadashot Hasport', o 'Yedioth Ahronoth' ou o 'Hadashot' e foi a partir daí que conheceu as pessoas necessárias para entrar no mundo dos negócios futebolísticos.

No mesmo artigo do 'The Guardian' já referido acima, é contada uma história curiosa que relata uma conversa entre Pini Zahavi e Yossi Melman, jornalista israelita correspondente em Londres, e que demonstra com precisão a importância que o atual agente e representante sempre deu ao dinheiro. Tudo aconteceu em Belfast, em 1981, quando a seleção de Israel foi à Irlanda do Norte para um jogo de qualificação para o Mundial. A trabalhar para o 'Yedioth Ahronoth', Zahavi disse a Melman: "Quero que aprendas uma lição com a minha história. A minha forma de fazer negócios é mudar de um jornal para outro a cada quatro ou cinco anos". Porquê? Melman explicou. "O Pini disse-me 'Yossi, se mudares de um lugar para outro recebes uma indemnização e um salário melhor'. Perguntei-lhe, 'estás interessado em fazer dinheiro?'. Ele olhou para mim e disse 'claro. Não quero continuar a ser um pobre correspondente desportivo!'." Deixou o jornalismo em 1988 para se dedicar em exclusivo ao agenciamento e representação de jogadores.

Para além de hebraico, Zahavi fala, pelo menos, português, inglês e alemão. Esta versatilidade permite que também seja influente em Portugal, onde representa vários jogadores (esteve ligado a nomes como João Mário, Markovic, Zivkovic, Carlos Mané ou Gelson Martins) e é figura próxima de alguns clubes. Entre eles está Bruno de Carvalho, com Pini Zahavi a estar presente, inclusive, no casamento do presidente do Sporting. O sobrinho-neto de Pini, Alex, chegou a jogar nas camadas jovens dos leões, assim como do Benfica, e foi jogador das equipas principais de Vitória de Setúbal e Olhanense.

Aparecendo mais ou menos em público, é inegável que Pini Zahavi é uma das personalidades mais importantes do futebol mundial. Há até quem diga que é mais do que o rótulo diz. "Um excelente homem de negócios ou um investidor inteligente, talvez, mas não é um agente", disse Mino Raiola, outro empresário muito influente no círculo futebolístico, ao 'L'Équipe'. Agente, homem de negócios ou investidor, não sabemos, mas Pini Zahavi tem em sua posse o controlo de grande parte da modalidade que vemos no estádio ou na televisão.

Tags: