Grande Futebol
Pela boca morre o peixe: A contradição de Jürgen Klopp
2018-07-21 16:00:00
Klopp criticou Mourinho pela compra de Pogba, mas enveredou pelo mesmo caminho desde então.

Já dizia o povo: pela boca morre o peixe e, no futebol, esta é uma questão que praticamente dia após dia se sucede. Veja-se o caso de Jürgen Klopp, treinador alemão do Liverpool FC, por exemplo, que aquando da contratação de Paul Pogba por parte do Manchester United praticamente acusou José Mourinho e o rival de tentarem comprar o sucesso, garantindo que em Anfield tal nunca iria acontecer. Pois bem Jürgen, só neste defeso já gastaste tanto dinheiro como em todo o período que foste treinador do Borussia Dortmund. E agora?

“Se contratas um jogador por mais de cem milhões de Euros e ele se lesiona vai tudo por água abaixo. O dia em que isso for o futebol normal, não quero mais saber dele, porque o jogo é para ser jogado em conjunto. Por isso é que alguém inventou os passes, para que os jogadores possam jogar juntos. Não é só correr com a bola, pois isso pode fazê-lo a qualquer altura. Construir um grupo e uma equipa não é ideia exclusiva minha, é o necessário para ser bem sucedido no futebol. Outros clubes podem ir ao mercado, gastar mais dinheiro e juntar todos os melhores jogadores do Mundo. Se eu tenho de fazer diferente? Na verdade, eu quero fazer diferente. Mesmo que tivesse o dinheiro, iria sempre fazer diferente. Podes vencer campeonatos, podes vencer títulos, mas a forma como o fazes é que realmente importa”, atirou Klopp na altura da iminência da transferência de Paul Pogba para o Manchester United.

Paul Pogba regressou ao Manchester United em agosto de 2016, na altura, trocando a Juventus pelo clube onde se formou a troco de 105 milhões de euros. Desde então? Não só Salah e Oxlade-Chamberlain chegaram a Liverpool a troco de montantes na ordem dos quarenta milhões de Euros, como o Liverpool tornou Virgil van Dijk no defesa central mais caro do Mundo ao resgatar o holandês ao Southampton FC em janeiro de 2018 a troco de oitenta milhões de Euros. O mesmo Liverpool que durante este defeso tornou também Alisson no guarda redes mais caro de sempre tirando o brasileiro de Roma a troco de, segundo a imprensa, mais de 70 milhões de Euros, já depois de garantidas as contratações de Naby Keita por 60 milhões de Euros e de Fabinho por 40 milhões de Euros.

Só no defesa para a temporada 2018/19 o Liverpool gastou perto de duzentos milhões de Euros, valor que ultrapassa o montante gasto por Klopp em contratações durante os sete anos em que esteve à frente do Borussia Dortmund. Sensivelmente mais dez milhões de Euros em poucas semanas do que em sete anos no emblema alemão. E, ainda antes de receber qualquer “dica” por parte de José Mourinho, Klopp já se defendeu: “A certa altura nas últimas semanas surgiu a oportunidade de contratarmos um dos melhores guarda redes do Mundo. Então, não foi preciso pensar muito para ser sincero. Tive uma pequena conversa com os donos do clube, mostraram-se entusiasmados e fizemos o negócio. Penso que é algo que tivemos que fazer. Ele não tem culpa do preço. Nós não temos culpa do preço. É o mercado. É o que é e não vamos perder tempo a pensar nisso. Mostra apenas o valor dos guarda redes hoje em dia. Estamos muito felizes de o ter connosco. Allison ganhou muita experiência nos últimos anos, na Europa e em Roma, jogou a um nível incrivelmente alto e voltou a fazê-lo no Mundial. Trouxemo-lo pelas qualidades que tem que em todos os aspetos é do melhor que existe no Mundo”.

Mourinho ainda não se pronunciou em relação à contratação de Allison por parte do Liverpool FC, mas dificilmente o português irá conter-se perante tamanha contradição. Já na altura da contratação de Virgil Van Dijk, recorde-se, Mourinho acusou Klopp de alguma hipocrisia. "Creio que a pessoa certa para falar sobre isso é o Jürgen. Se fosse um jornalista iria perguntar-lhe em relação aos comentários que fez há um ano. Não falando especificamente desse caso, mas no Liverpool fazem o que querem e não sou ninguém para comentar isso. Mas a realidade é que, se querem mesmo um jogador, se acham que é o correto, ou pagam o valor exigido ou não têm o jogador. É assim que o mercado está. Quando comparamos o valor gasto por certos treinadores e clubes, nem para há dez anos, mas há três, é comparar o impossível. Agora vamos dizer que o Virgil van Dijk é o defesa mais caro da história. Mas foi melhor do que o Maldini, Bergomi ou o Ferdinand? Não podes dizer isso”, atirou então Mourinho.

As contradições de Jürgen Klopp começam a não passar, sequer, despercebidas, à imprensa britânica que tanto o adora. Andy Dunn do Daily Mirror, por exemplo, acusou Klopp de se ter tornado mais um treinador “livro de cheques” que resolve problemas contratando sem pudor ao contrário do que havia prometido anteriormente. “Klopp está a fazer aquilo que sempre disse que recusaria. Está a pagar valores de transferência estupidamente inflacionados para resolver facilmente os seus problemas”, escreveu.

“O romanticismo associado à abordagem ao futebol que Klopp tinha desvaneceu-se. Um cartão de crédito recheado é agora a sua arma, tal qual aqueles que anteriormente criticava nestes tempos de surrealidade financeira no futebol”, resumiu o jornalista britânico. Factos são factos, dados são dados. Aquele que muito criticou Mourinho pelo valor investido no mercado, fez igual nas últimas semanas. Pela boca morre o peixe, já diz o povo. No futebol não é diferente.