Grande Futebol
O golo que não foi e que colocou Panamá no primeiro Mundial
2018-06-15 11:00:00
A estreia de um país entre a elite das seleções nacionais vai acontecer graças a uma qualificação bastante controversa

Qualquer panamenho que goste de futebol ou adepto que tenha especial afeto pela seleção nacional do Panamá teve um dia muito feliz a 10 de outubro de 2017. Os 'canaleros' receberam a Costa Rica na última e decisiva jornada da segunda fase de grupos da qualificação da CONCACAF para o Mundial de 2018. Os Estados Unidos da América eram os favoritos a conquistar o terceiro e último lugar que dava acesso direto à fase final do Campeonato do Mundo, mas a derrota contra Trindade e Tobago deitou tudo a perder quando a equipa do Panamá venceu por 2-1. Só houve um 'pequeno' problema: um dos golos do Panamá na vitória contra a Costa Rica... não aconteceu.

Sim, leu bem. A bola nunca chegou a entrar na baliza adversária. Mas recapitulemos: o México e a Costa Rica já estavam qualificados, os EUA ocupavam a terceira posição com 12 pontos e o Panamá e as Honduras dividiam a quarta posição (com vantagem para o Panamá) com 10 pontos. Um empate permitia aos norte-americanos garantirem uma vaga na Rússia, mas Pulisic e companhia não foram além de uma derrota por 2-1 em Trindade e Tobago. Aproveitaram as Honduras, que receberam e bateram o poderoso México por 3-2 depois de estarem a perder em dois momentos. E, até bem perto do fim, eram mesmo as Honduras que estavam no Mundial. Tudo mudou, ainda assim, a muito poucos instantes do final do Panamá-Costa Rica, o jogo mais importante do futebol da América do Norte e Central nesse dia.

Com um onze inicial semelhante àquele que vai ser apresentado no Mundial, o Panamá defrontou uma Costa Rica relaxada e qualificada com Bryan Ruiz a comandar as tropas. Ainda assim, Johan Venegas marcou para os visitantes e ameaçou gravemente o sonho panamenho aos 36'. Ao intervalo, o Panamá estava fora da Rússia, o que não surpreendia ninguém, mas deixava os cerca de quatro milhões de habitantes do país com um estado de espírito pouco recomendável. Regressados do balneário, os jogadores do Panamá foram à procura da reviravolta e o empate chegou logo aos 53'. Após um canto batido a partir do lado direito do ataque, a bola desviou em vários jogadores, o lance ficou bastante confuso e o árbitro validou um golo. Ninguém viu a bola dentro da baliza porque, na verdade, ela nunca chegou a entrar. Gabriel Torres, a quem foi atribuído o golo, parece ter sido derrubado e esteve muito perto de marcar, mas isso não aconteceu. O árbitro Walter López (Guatemala) validou um golo fantasma e deu uma nova vida ao Panamá.

Com a motivação a transbordar, o Panamá foi à procura do 2-1. As notícias que chegavam de Trindade e Tobago deixavam os adeptos de água na boca e o golo precisava de chegar. Estava escrito, poderão até dizer alguns. E chegou. Aos 88', o central Román Torres subiu no terreno e rematou de forma certeira para aquele que foi, certamente, o golo mais importante da carreira. Colocou a bandeira do Panamá no Mundial de futebol pela primeira vez na história, ainda que essa bandeira chegue à Rússia com uma pequena (mas visível) mancha criada por um fantasma que vai assombrar todos aqueles que se lembrarem do Panamá na competição.

A festa foi grande após a polémica vitória sobre a Costa Rica (Alejandro Bolivar/EPA)

PERCURSO RUMO AO RÚSSIA 2018

Dramático. Na primeira fase de grupos, ainda houve alguma tranquilidade e o Panamá passou na segunda posição atrás da Costa Rica e à frente dos menos poderosos Haiti e Jamaica. Na segunda, contudo, os panamenhos tiveram um percurso acidentado, sofreram mais golos que aqueles que marcaram e só garantiram o acesso direto ao Mundial nos últimos instantes da receção à Costa Rica com Román Torres, aos 88', a consumar a reviravolta iniciada com o tal golo 'fantasma' de Gabriel Torres aos 53'.

JOGADOR A SEGUIR: Román Torres

Está longe de ser uma jovem promessa. Tem 32 anos, passou a maioria da carreira na Liga Colombiana e as últimas temporadas no Millonarios valeram-lhe a transferência para os Seattle Sounders, da MLS, em 2015. Alto e forte, Román Torres é o grande patrão da defesa do Panamá, seleção onde é capitão e pela qual já realizou 110 jogos (onze golos). Depois de um Mundial sub-20 em 2005 e de várias Gold Cup's no currículo, Torres vai ser premiado com a participação na mais importante prova de futebol do planeta.

CONVOCADOS

Guarda-redes: Jaime Penedo (Dinamo Bucareste/Roménia), José Calderón (Chorrillo FC/Panamá) e Álex Rodríguez (San Francisco/Panamá).

Defesas: Felipe Baloy (Municipal/Guatemala), Harold Cummings (San Jose Earthquakes/EUA), Éric Davis (Dunajska Streda/Eslovénia), Fidel Escobar (New York Red Bulls/EUA), Adolfo Machado (Houston Dynamo/EUA), Michael Amir Murillo (New York Red Bulls/EUA), Luis Ovalle (Olimpia/Honduras) e Román Torres (Seattle Sounders/EUA).

Médios: Édgar Bárcenas (Cafetaleros de Tapachula/México), Armando Cooper (Universidad de Chile/Chile), Aníbal Godoy (San Jose Earthquakes/EUA), Gabriel Gómez (Atlético Bucaramanga/Colômbia), Valentín Pimentel (Plaza Amador/Panamá), Alberto Quintero (Universitario Lima/Peru) e José Luis Rodriguez (KAA Gent/Bélgica).

Avançados: Abdiel Arroyo (LD Alajuelense/Costa Rica), Ismael Díaz (Deportivo Corunha/Espanha), Blas Pérez (Municipal/Guatemala), Luis Tejada (Sport Boys/Peru) e Gabriel Torres (Huachipato/Chile).

ONZE PROVÁVEL

Treinador: Hernán Darío Gómez

GUIA BANCADA: O MUNDIAL EM HISTÓRIAS

Grupo A

Rússia: O dia em que Rússia boicotou e "roubou" a Ucrânia para jogar o Mundial
Arábia Saudita: A lenda do "Pelé do Deserto", o terror de Setúbal
Egito: O futebol nascido de uma tragédia
Uruguai: Uruguai quer fazer um Maracanazo. Ou um Maracanazov

Grupo B

Portugal: Portugal, toca a jogar pelo chão que, de “Saltillos”, já foi suficiente
Espanha: O dia em que o General Franco teve medo dos russos e tirou um título à Espanha
Marrocos: "África minha" de Hervé Renard tem novo capítulo em Marrocos
Irão: Carlos Queiroz e o Irão: uma relação de amor e ódio

Grupo C

França: Didier Deschamps, o capitão da saga de 1998 em busca da redenção como treinador
Austrália: Um continente pequeno demais para uma seleção
Perú: O amor que os brasileiros ganharam ao Peru e a Cubillas, com a Argentina no meio
Dinamarca: Elkjaer fumava e bebia, mas corria que se fartava

Grupo D

Argentina: O dia em que Deus deu a mão para Maradona ficar na história do futebol
Islândia: Islândia e a aritmética que permite escolher os 23 convocados
Croácia: Quando Boban e Suker viraram heróis de uma nação
Nigéria: Yekini, um lugar na história da Nigéria e no coração dos portugueses

Grupo E

Brasil: Marinho Peres: capitão, desertor e um sonho que virou pesadelo em Barcelona
Suíça: Uma reunião de lendas, duas batalhas épicas e um capitão a jogar com um tumor
Costa Rica: No país mais feliz do Mundo, há um Oásis onde só entram grandes guarda redes
Sérvia: Um goleador esquecido pelo tempo, ídolo de Puskas e um jogo que tudo mudou

Grupo F

Alemanha: O jogo mais tenso de sempre. O jogo de dois vencedores. O jogo do futebol
México: Negrete marcou o melhor golo do Mundo e veio para o Sporting, pena os relvados
Suécia: Brolin, o sueco da pirueta que fez birra na Premier League porque lhe mentiram
Coreia do Sul: O conto de fadas mais contestado da história dos Mundiais

Grupo G

Bélgica: A melhor Bélgica de sempre não chegou para um Deus
Panamá: O golo que não foi e que colocou Panamá no primeiro Mundial
Tunísia
Inglaterra