Grande Futebol
"O futebol seria melhor sem o Jorge Mendes ou sem figuras como ele"
2019-10-26 16:15:00
Pippo Russo sublinha, porém, que o agente português é um "fora de série"

"Digo-o com admiração: o futebol seria melhor sem o Jorge Mendes ou sem figuras como ele". As palavras são de Pipo Russo, jornalista italiano que se dedica a estudar e investigar a economia paralela no futebol. Este sábado, em entrevista à Rádio Estádio, o também sociólogo explicou em que baseou a sua pesquisa, especialmente sobre Portugal. 

"Esta economia paralela nasce em Portugal. Ou melhor, afina-se em Portugal. Isto nasce na América do Sul mas é em Portugal que se transforma numa economia gerida por grandes atores, por fundos de investimento e por pessoas do mundo das finanças. Na minha opinião, Jorge Mendes é a primeira transformação desta economia", começa por enquadrar. 

"A minha pesquisa foi baseada, sobretudo, em documentos públicos. Como sociólogo, sou teórico da documentação aberta, é uma fonte da verdade histórica. Podemos encontrar muita informação nestes documentos. Sobre Jorge Mendes, encontrei muitas informações, mas o difícil foi construir uma ligação coerente. Sabemos muitas coisas sobre Jorge Mendes, mas são coisas que ele quer que nós saibamos. Existem outras coisas, mesmo públicas, que as pessoas se esquecem. Eu tentei fazer este esforço, tentar ligar estes elementos numa narração, de contar a história de Jorge Mendes. Ele é um campeão nacional em Portugal. Eu tentei narrar uma outra imagem de Jorge Mendes", continuou. 

Ao longo da entrevista, Pippo Russo refere com insistência que o agente português "é um campeão" em Portugal a nível do negócio e que vive muito "atento" a tudo o que se diz a seu respeito. No entanto, refere ter tido acesso a "coisas embaraçosas" sobre o português, ainda que não nenhuma delas constitua um crime.

"Diretamente não tenho documentos sobre isso. Nesses documentos [do Football Leaks] estão coisas muito embaraçosas sobre o Jorge Mendes que não podemos dizer que são crimes. Para os jogadores, sim, por compacto com o fisco espanhol. Se podemos dizer que Mendes cometeu crimes? Não temos provas sobre isso", explica. "Digo-o com admiração. O futebol seria melhor sem o Jorge Mendes ou sem figuras como ele. Mas se tenho que o julgar pela sua atividade, ele é um fora de série. Permanece uma figura importante no futebol, não obstante os problemas que teve com os jogadores e a justiça, ou com os jornalistas", continuou. 

Em jeito de balanço da carreira de Jorge Mendes, Pippo Russo considerou que a transferência de Bebé do Vitória de Guimarães para o Manchester United foi um "ponto determinante" no sucesso do português, ainda que tenha sido uma "demonstração de abuso de poder". Nesse sentido, o jornalista italiano traçou o "circuito" do agente desportivo, onde insere três clubes portugueses.

"Ele teve uma relação com o Inter, mais recentemente com a Juventus. Também com o Nápoles e a Lazio. As transferências do Pedro Neto e Bruno Jordão - que quase nunca jogaram na Lazio e depois foram para o Wolverhampton - é um exemplo do poder do Jorge Mendes em Itália. (...) A transferência de Bebé foi uma demonstração de excesso de poder de Jorge Mendes. Foi um ponto determinante na sua carreira, uma demonstração de poder e uma demonstração de abuso de poder", defendeu, antes de incidir sobre o negócio de Ederson, contratado pelo Benfica ao Rio Ave.

"Mostra a influência do Jorge Mendes em vários clubes. (...) Há alguns que ainda as mantêm: o Benfica, o Valência e o Wolverhampton. Mais abaixo: o SC Braga e o Rio Ave. Estes são os clubes do circuito do Jorge Mendes", referiu. 

Por fim, o sociólogo abordou ainda a alegada influência de Jorge Mendes no seio da Seleção Nacional, afirmando que, neste momento, isso é uma "realidade objetiva".

"Eu não sei dizer se podemos falar de influência na Seleção Nacional. É uma realidade objetiva, porque ele tem quase todos os melhores jogadores portugueses. Houve uma altura em que sim, ele teve essa necessidade, mas agora não, porque os melhores jogadores portugueses são da Gestifute. É um facto", concluiu.