Grande Futebol
O dia em que Rússia boicotou e "roubou" a Ucrânia para jogar o Mundial
2018-06-01 23:15:00
Desde a data da formação da Federação Russa que o conflito com a Ucrânia esteve presente.

Stanislav Cherchesov é um homem especial na história do futebol russo. Estava lá quando tudo começou e é o homem que irá liderar a seleção russa no Campeonato do Mundo que a própria organiza. Se, hoje, Cherchesov é o selecionador nacional russo com a difícil tarefa de liderar o conjunto a uma prestação honrosa sobre o solo da pátria amada, em 1994, Cherchesov foi o fiel herdeiro de Yashin ou Dasaev. O homem com a missão de defender as redes da baliza soviética que, pela primeira vez, surgiu numa grande competição de futebol sob o nome Rússia. Como uma fina ironia da vida, a nova vida do futebol russo começou sobre os relvados do grande inimigo, sobre relvados em solo norte-americano e depois de um boicote à Ucrânia e à qual a Rússia roubou muitas das suas estrelas.

Estocolmo, junho de 1992. Poucos dias antes do início do Europeu de 1992 disputado na Suécia e que terminou com a vitória da Dinamarca, uma reunião do Comité Executivo da FIFA realizado na capital sueca resultou naquele que seria o pontapé de saída futebolístico da Federação Russa enquanto membro independente da União Soviética após a dissolução do país em 1991. Na Suécia, a Rússia entrou ainda em campo como membro da Seleção da Comunidade dos Estados Independentes, porém, a partir de então, assumiu a forma com a qual é hoje reconhecida.

A dissolução da seleção de futebol da CEI abriu uma vaga na qualificação para o Mundial de 1994 que acabou ocupada pela Federação Russa. Não, porém, longe de polémica. Ainda URSS quando o sorteio para o Mundial 1994 foi realizado e posteriormente CEI, tanto UEFA como FIFA decidiram atribuir à Federação Russa a vaga que ficou em aberto após a dissolução da URSS/CEI. Naturalmente, algo que não foi aceite de bom grado por parte da Ucrânia – que não apresentou a documentação necessária para que fosse incluída, individualmente, na qualificação - que, com o apoio da Geórgia e da Arménia, pretendia que fosse realizado um torneio de pré-qualificação para a qualificação, de modo a que fosse decidida a quem a vaga do CEI seria atribuída.

Proposta que foi bloqueada pela Federação Russa e que acabou apoiada pela UEFA e pela FIFA. A Rússia acusou a congénere ucraniana de intriga e de “colocar a carroça à frente dos bois” alegando a incapacidade ucraniana em ser uma federação verdadeiramente organizada à época. Em Estocolmo, terminou então o sonho ucraniano com a FIFA a garantir um lugar no Grupo 5 de qualificação para o Mundial 1994, anteriormente sorteado à CEI, à agora Federação Russa.

E foi depois do boicote que surgiu o roubo. Perante a incapacidade de disputar um campeonato do Mundo pelo país pelo qual nasceram e sem querer aguardar mais quatro anos para que tal pudesse ser possível (e muitos deles já não iriam estar presentes no França 1998 conseguisse, ou não, a Ucrânia, a qualificação para o torneio), nomes como Yuriy Nikiforov, Vladislav Ternavsky, Viktor Onopko, Ilya Tsymbalar e Sergei Yuran surgiram nos Estados Unidos para defender as cores da Rússia apesar de, então, serem já reconhecidamente ucranianos. Uma seleção russa que disputou ainda o Mundial 1994 com outros jogadores nascidos fora do território russo, mas que aproveitaram a ocasião para disputar a competição pela Federação Russa como Gorlukovich (Bielorusso), Omari Tetradze (Georgiano), Andrey Pyatnitski (Uzbeque) e Valeri Karpin (Estónio). Nomes que permitiram à Rússia manter o estatuto alto junto da elite do futebol europeu.

Em 2018, a Rússia recebe o Campeonato do Mundo numa altura em que há alguns anos está envolvido num conflito militar com a Ucrânia na zona de Donetsk, Luhansk e após a anexação da Península da Crimeia a território russo. O conflito com a Ucrânia não é, por isso, de hoje. Desde 1992, altura de afirmação da Federação Russa como estado futebolístico independente que tal acontece. Na altura, boicotando e roubando a Ucrânia para disputar um campeonato do Mundo em solo inimigo e que terminou com a queda da seleção russa na fase de grupos da competição.

O PERCURSO RUMO AO RÚSSIA 2018

Como país organizador do Campeonato do Mundo, a Rússia passou os últimos dois anos a jogar para aquecer em encontros particulares. Exceção feita, claro, à Taça das Confederações realizada em 2017 e na qual a Rússia não passou da Fase de Grupos com duas derrotas perante Portugal e México e apenas uma vitória perante a Nova Zelândia. Desde então, a seleção russa venceu apenas um jogo em sete nos particulares mais recentes e chega ao Mundial como a seleção com o pior ranking FIFA da competição, mantendo alguma dificuldade em renovar e rejuvenescer as opções para a equipa nacional.

JOGADOR A SEGUIR: Aleksei Miranchuk

O jovem avançado de 22 anos e irmão de Anton Miranchuk, é uma das grandes figuras da nova vaga do futebol russo. Membro da equipa do Lokomotiv Moscovo que, esta temporada, quebrou um longo jejum de títulos nacionais russo, Miranchuk leva já 22 internacionalizações pela equipa russa nas quais apontou quatro golos. Ao serviço do Lokomotiv, esta temporada, Aleksei Miranchuk participou em 41 jogos, apontou oito golos e rubricou onze assistências.

OS CONVOCADOS (Pré-Convocatória de 28 jogadores)

Guarda Redes: Igor Akinfeev, Vladimir Gabulov, Soslan Dzhanaev, Andrey Lunev;
Defesas: Vladimir Granat, Sergei Ignashevich, Fedor Kudryashov, Ilya Kutepov, Roman Neustadter, Konstantin Rausch, Andrey Semenov, Igor Smolnikov, Mario Fernandes e Konstantin Rausch;
Médios: Yuri Gazinskiy, Alexsandr Golovin, Alan Dzagoev, Alexsandr Erokhin, Yuri Zhirkov, Daler Kuzyaev, Roman Zobnin, Alexsandr Samedov, Anton Miranchuk, Alexsandr Tashaev, Denis Cheryshev;
Avançados: Artem Dzyuba, Aleksey Miranchuk, Fedor Smolov, Fedor Chalov.

O ONZE PROVÁVEL

Akinfeev; Kudryashov, Granat, Ignashevich; Samedov, Golovin, Erokhin, Zobnin, Zhirkov; Aleksey Miranchuk e Smolov.

O TREINADOR: Stanislav Cherchesov

GUIA BANCADA: O MUNDIAL EM HISTÓRIAS

Grupo A

Rússia: O dia em que Rússia boicotou e "roubou" a Ucrânia para jogar o Mundial
Arábia Saudita: A lenda do "Pelé do Deserto", o terror de Setúbal
Egito: O futebol nascido de uma tragédia
Uruguai: Uruguai quer fazer um Maracanazo. Ou um Maracanazov

Grupo B

Portugal: Portugal, toca a jogar pelo chão que, de “Saltillos”, já foi suficiente
Espanha: O dia em que o General Franco teve medo dos russos e tirou um título à Espanha
Marrocos: "África minha" de Hervé Renard tem novo capítulo em Marrocos
Irão: Carlos Queiroz e o Irão: uma relação de amor e ódio

Grupo C

França: Didier Deschamps, o capitão da saga de 1998 em busca da redenção como treinador
Austrália: Um continente pequeno demais para uma seleção
Perú: O amor que os brasileiros ganharam ao Peru e a Cubillas, com a Argentina no meio
Dinamarca: Elkjaer fumava e bebia, mas corria que se fartava

Grupo D

Argentina: O dia em que Deus deu a mão para Maradona ficar na história do futebol
Islândia: Islândia e a aritmética que permite escolher os 23 convocados
Croácia: Quando Boban e Suker viraram heróis de uma nação
Nigéria: Yekini, um lugar na história da Nigéria e no coração dos portugueses

Grupo E

Brasil: Marinho Peres: capitão, desertor e um sonho que virou pesadelo em Barcelona