Grande Futebol
O dia em que Paulo Futre atrasou o início de um Arsenal-West Ham
2018-01-26 21:30:00
João Mário é o último nome numa longa lista de portugueses no clube inglês. E as histórias são engraçadas

A lista de jogadores portugueses que vestiram as cores do West Ham conheceu um novo nome esta sexta-feira. João Mário é o último de vários futebolistas lusos que representaram o histórico clube londrino. De Dani a Paulo Alves, passando por Luís Boa Morte e Hugo Porfírio, todos eles deixaram marcas num clube de origens humildes e de gente de trabalho, todos eles com histórias para contar, é certo, mas nenhuma com a dimensão daquela que Paulo Futre recordou ao Bancada: “O Arsenal-West Ham começou dez minutos atrasados porque eu não saía do balneário sem a camisola 10.”

A história foi contada por Harry Redknapp, treinador de Futre no West Ham, num dos capítulos do seu livro, e nós quisemos ouvir da boca do próprio. Perguntámos a Paulo Futre como é que é possível um jogador recusar vestir a camisola que lhe foi destinada a cinco minutos do início de um jogo, em Highbury Park, com o Arsenal. Simples: “A última cláusula do meu contrato dizia que eu tinha de usar a camisola 10”, esclareceu Paulo Futre ao Bancada. Mas porquê Paulo? “Eu vinha de três operações ao joelho, em Itália, e sabia que o fim da carreira podia ser ali e eu queria acabar a carreira com a 10 nas costas”, disse-nos.

O que se passou em 1996 foi isto: “Durante a pré-época joguei sempre com a camisola 10. E nunca o contrário me passou pela cabeça. Certo?. No dia do primeiro jogo oficial, em casa do Arsenal, depois de lavar a cara voltei para o meu lugar - faltavam cinco minutos para começar o jogo - e quando vejo a camisola com o número 16 perguntei: ‘sixteen?’”. Estava armada a confusão, contou Futre, “I’m not sixteen, I’m ten”, debateu-se o antigo internacional português durante alguns minutos que viu a mágica 10 nas mãos de John Mancur, o experiente médio inglês.

A coisa não se resolveu no balneário, até porque a ficha de jogo estava já entregue e só havia duas soluções: Futre aceitava jogar com a 16 ou não jogava. “Não joguei. Não joguei e chamei o presidente, que estava na tribuna. Ele veio ao balneário e disse-lhe que não jogava sem a 10. Lá resolvemos a questão, mas não para aquele jogo. Aquele jogo não joguei. E devido a esta história toda já passavam dez minutos da hora quando o jogo começou”, lembrou Paulo Futre ao Bancada, que revelou ainda como convenceu Mancur a dar-lhe a 10: “Ele gostava de jogar golfe e disse-lhe que podia ir passar férias à minha casa do Algarve”, recordou.

As lesões já não deixavam Futre ser o Futre dos grandes tempos do Atlético Madrid, é certo, mas as qualidades técnicas estavam lá. E se havia alguém que gostava de apreciar os requintes técnicos de Paulo Futre era o próprio Redknapp, até porque não era coisa que abundasse por aquelas zonas de Londres e o treinador inglês deliciava-se nos treinos com a capacidade de Futre em marcar livres. “No treino acertava todas e ele ficava admirado. Era incrível. Mas depois nos jogos não conseguia marcar um livre. Há coisas engraçadas. E não se pode dizer que era por causa da pressão dos jogos, nada disso, até porque eu adorava a pressão. Nos treinos, lá com os bonecos, acertava todas e nos jogos não”, lembrou.

Foi, contudo, Dani, uns meses antes, que abriu as portas, aos portugueses, de um dos clubes com mais história em Inglaterra, fundado em em 1895 por trabalhadores da Thames Ironworks and Shipbuilding Co. Ltd, um estaleiro localizado no Rio Tâmisa. Emprestado pelo Sporting, o médio, em tempos visto como uma das maiores promessas do futebol português, chegou ao West Ham para se libertar dos “demónios” que o apoquentavam em Lisboa. A experiência não foi má, mas podia ter sido melhor.

Depois de Paulo Futre houve Hugo Porfírio e Paulo Alves. Todos provenientes do Sporting. O último teve uma passagem curta pelos Hammers mas nem por isso menos impactante, como recordou ao Bancada. Paulo Alves chegou por empréstimo dos leões e cedo percebeu que estava perante algo novo. Algo que nunca tinha visto em Portugal. “Os treinos? Os treinos eram quase sempre peladinhas entre os jogadores”, começou por dizer o antigo ponta-de-lança. “Muitos jogadores faziam o seu próprio plano de trabalho. nada era muito organizado. Mas depois os jogos eram intensos.”, foi dizendo o antigo internacional português.

Paulo Alves recordou ainda o vazio que encontrou quando chegou ao West Ham no que respeitava a regras e horários: “Para os jogos eu ia três horas mais cedo porque tinha medo do trânsito de Londres. Quando chegávamos aos hotéis, não havia horas específicas para as refeições. Era quando quiséssemos. Eu como jogador habituado a regras de profissionalismo achei aquilo tudo muito estranho, difícil de entender, mas é uma questão cultural a que tive de me habituar”, rematou.

O tempo agora é de João Mário. E para Paulo Futre a mudança do médio criativo para o West Ham é uma excelente notícia para Fernando Santos, porque para o antigo jogador que passou por Itália, Espanha e Inglaterra entre outros países, “não há dúvidas de que ele vai ter sucesso em Inglaterra. O jogo é mais ofensivo e ele vai ganhar a confiança que não teve em Itália”, começou por dizer Paulo Futre. “E em Itália a imprensa é implacável. Já estavam em “cima” do rapaz. Vai-lhe fazer bem esta mudança”, vaticinou o atual comentador televisivo.

Depois de Dani, Futre, Porfírio e Paulo Alves, no West Ham jogaram Luís Boa Morte, Manuel da Costa, Ricardo Vaz Té, José Fonte e Domingos Quina. João Mário é o último episódio desta relação entre jogadores portugueses e o West Ham.