Se há alguém no mundo do futebol com capacidade para desafiar o impossível, essa pessoa é Cristiano Ronaldo. Os números da carreira do craque português provam-no. Mas em 2017/18 terá um novo desafio pela frente, um cenário ao qual nas últimas oito temporadas nunca se assistiu: reduzir uma distância tão grande para Messi em termos de golos na Liga, uma vez que o número dez do FC Barcelona já leva nove tentos em cinco jornadas.

O problema não está relacionado com falta de eficácia de CR7, mas, sim, com o facto de ter sido castigado por cinco jogos em Espanha, o que fez com tivesse falhado as quatro primeiras jornadas, após o empurrão que deu ao árbitro na primeira mão da Supertaça. O argentino aproveitou e protagonizou o melhor arranque de sempre em termos de golos. Cabe, agora, a Ronaldo responder. E a recuperação pode começar já esta quarta-feira, às 21 horas, quando o Real Madrid receber o Betis, numa partida que marca o regresso do melhor do Mundo à competição a nível interno.

A Ronaldo já pouco interessa reclamar sobre a justiça do castigo de que foi alvo. A hora é de recuperar tempo perdido. Para isso terá mesmo de enfrentar uma nova missão na carreira, com contornos “impossíveis”. Nunca se verificou uma diferença tão grande entre os dois craques nesta altura do campeonato, embora também seja verdade que nunca um deles tenha ficado sem jogar tantos jogos no arranque de época. A história mostra ainda que quem arranca melhor, costuma terminar também à frente na luta pelo troféu de melhor marcador.

Desde que chegou a Madrid, em 2009/10, Cristiano conquistou por três vezes o troféu de “Pichichi”, menos uma que Messi – apenas Suárez se conseguiu intrometer nesta luta, vencendo em 2015/16. Das quatro vezes que o argentino foi o rei dos marcadores começou sempre mais forte que o português. No ano passado, com Ronaldo a ter-se estreado apenas à terceira jornada, devido à lesão que contraiu no Europeu, Messi aproveitou para disparar cedo. À nona jornada já levava sete golos contra dois do craque merengue. No final marcou 37, mais 12 que Cristiano.

De resto, também em 2012/13, 2011/12 e 2009/10 se verificou essa tendência para Messi e apenas na primeira das épocas em que se cruzaram em Espanha se registava um empate após quatro jornadas, com cinco golos para cada lado. No final Leo terminou com 34 golos, mais oito que Ronaldo. Aqui até podemos fazer as contas somente até à quarta jornada. Primeiro porque CR7 só joga mais logo e, depois, porque Messi nunca tinha marcado à quinta jornada desde 2009/10, sendo que só em 2010/11 não a disputou. Quebrou esta terça-feira o enguiço e logo com um “póquer” frente ao SD Eibár.

Por outro lado, a última vez que CR7 foi o goleador mor da La Liga, iniciou a temporada com onze jogos consecutivos a marcar, o que resultou em 20 golos. Messi não foi tão contundente e o português acabou a temporada com 48 golos, contra 43 do rival. No entanto, ao contrário de Messi, o português não precisa de começar mais forte que o argentino para terminar no topo. Em 2010/11, na primeira vez que se sagrou melhor marcador da La Liga, tinha apenas um golo, contra dois, após a cinco jornadas. Terminou com 40, perante os 31 de Messi.

Há ainda a temporada de 2013/14, a que pode dar mais esperanças a CR7 numa eventual recuperação. Após quatro jornadas Messi tinha seis golos e Ronaldo apenas dois - o craque merengue só conseguiu estrear-se a marcar à terceira jornada. Mas com mais dois jogos, à sexta jornada, aumentou o pecúlio para seis golos, ficando a apenas dois dos oito do argentino. No final da temporada somou 31 tentos e Leo 28.  

Golos de Ronaldo e Messi após a quarta jornada da La Liga:

2016/17 – Ronaldo: 1; Messi 2; Melhor marcador: Messi (34)

2015/16 – Ronaldo: 5; Messi: 3; Melhor marcador: Suárez (40)

2014/15 – Ronaldo: 5; Messi: 3; Melhor marcador: Ronaldo (48)

2013/14 – Ronaldo: 2; Messi: 6; Melhor marcador: Ronaldo (31)

2012/13 – Ronaldo: 2; Messi: 6; Melhor marcador: Messi (46)

2011/12 – Ronaldo: 4; Messi: 5; Melhor marcador: Messi (50)

2010/11 – Ronaldo: 1; Messi: 2; Melhor marcador: Ronaldo (40)

2009/10 – Ronaldo: 5; Messi: 5; Melhor marcador: Messi (34)

À parte da luta goleadora entre Cristiano Ronaldo e Leo Messi, Zidane deu as boas graças pelo regresso do número sete merengue à Liga espanhola, ele que tem jogado na Europa. Nos três jogos que já jogou em 2017/18 pelo clube merengue, Ronaldo apontou três golos, os mesmos que Messi registou nas partidas fora do campeonato. “Estamos contentes por ter o Ronaldo de volta e espero que seja a última vez que não posso contar com ele. Estamos contentes, sobretudo ele, porque o que mais gosta é de jogar”, frisou o técnico do Real Madrid, na antevisão do encontro desta noite.

Todas as atenções vão estar assim centradas na atuação de CR7 frente ao Betis, uma equipa à qual marcou cinco golos em dez jogos. Mas dois desses golos foram apontados nas duas últimas vezes que o português se cruzou com os andaluzes. O técnico dos rivais, Quique Setién, deve saber disso, daí ter elogiado o atacante merengue antes da partida. “A Ronaldo ninguém consegue travar”, assegurou.

Outro dos pontos de interesse do encontro vai ser a tentativa do Real Madrid dar sequência à série de 73 jogos consecutivos a marcar. Aquilo que inicialmente se julgou ser um recorde, pertencente aos brasileiros do Santos, afinal ainda não o é. Isto porque em Espanha, nomeadamente o especialista em estatísticas “Mr. Chip”, foi "encontrado" um novo recorde. Entre 1936 e 1939 o River Plate terá estado 96 jogos seguidos a marcar. É essa a nova meta dos merengues, que estão a 23 jogos de o conseguir.

Agora, até já podem contar com Ronaldo a tempo inteiro para tentar dar sequência a essa marca, ele que foi autor de 49 dos 200 golos da equipa de Zidane durante esta sequência. Praticamente um quarto da produção ofensiva do Real. Números que confirmam que para Ronaldo não há mesmo impossíveis. Hoje poderá começar a prová-lo novamente.