Grande Futebol
No país mais feliz do Mundo, há um Oásis onde só entram grandes guarda redes
2018-06-12 11:00:00
24 anos antes de Keylor Navas ter encantado o Brasil, já Gabelo Conejo encantara Itália e o futebol da Costa Rica.

Costa Rica. Praia, sol, ananás, bananas, café. O país mais feliz do Mundo. Um Óasis de grandes guarda redes. Não. Keylor Navas não é, nem foi, o primeiro grande guarda redes da história do futebol costa riquenho. Ainda antes da seleção centro americana ter surpreendido o Mundo do futebol durante o Mundial de 2014, já vinte e quatro anos tinham passado desde a primeira grande aparição internacional da Costa Rica. Foi na estreia em campeonatos do Mundo. No Itália 1990. Torneio em que Luis Gabelo Conejo foi uma muralha praticamente intransponível.

Foi uma Costa Rica totalmente doméstica aquela que surgiu em Itália para participar no primeiro campeonato do Mundo da história da federação centro americana. Todos os jogadores presentes no Itália 90 chegaram da Costa Rica e só o treinador não era, também costa-riquenho já que a federação do país decidiu prescindir dos serviços de Marvin Rodríguez de forma a procurar alguma experiência internacional em Bora Milutinovic. Em boa hora o fizeram. Tal como aconteceu 24 anos depois, a Costa Rica foi uma das sensações do Campeonato do Mundo. Muito por culpa d' El Conejo de la Suerte.

Hoje em dia todos, pela Costa Rica, recordam Génova como uma cidade irmã. Uma cidade talismã, diriamos. Foi em Génova, no Luigi Ferraris, que até 2014 se havia escrito a história mais alta do futebol costa riquenho. Tivesse, o jogo com o Brasil, sido disputado também ali... Para a Costa Rica, em Itália, foi chegar, ver e vencer. No primeiro jogo de sempre da história da Costa Rica em campeonatos do Mundo, Juan Cayasso, foi herói. Aos 49 minutos apontou não só o primeiro golo da história da Costa Rica na maior prova do futebol internacional, como aquele golo permitiu à Costa Rica vencer na estreia em Campeonatos do Mundo. Cayasso fez o golo da vitória, mas nem só de golos vive o futebol. Em evitá-los está também o segredo de uma equipa vencedora. Que o diga Luis Gabelo Conejo.

24 anos antes de Keylor Navas se elevar a gigante das balizas e garantir, no Brasil, uma transferência para o Real Madrid, outro guarda redes costa riquenho brilhou. Talvez ainda mais do que Navas em 2014. Frente à Escócia, Conejo teve uma exibição memorável. Defendendo tudo o que os escoceses lhe endereçaram e comandando a linha defensiva da Costa Rica com autoridade. Em Génova, Conejo foi um gigante. Foi a muralha do país mais feliz do Mundo. Foi imbatível. Em Génoa, Conejo foi feliz como em nenhum outro sítio do Mundo. Futebolisticamente falando, pelo menos.

Não foi por ele que a Costa Rica perdeu no segundo jogo. Frente ao gigante Brasil, na verdade, o facto do encontro ter terminado apenas 1-0, devido a um golo de Müller aos 33 minutos, em muito se deveu a Gabelo. Em Turim, apesar da derrota voltou a impressionar e foi quando a Costa Rica regressou a Génova que Gabelo voltou a ser decisivo. Frente à Suécia só Ekström, aos 32 minutos, encontrou forma de ultrapassar Gabelo e a Costa Rica aproveitou. Flores, aos 75 minutos, empatou o encontro e Medford, o maior de sempre dos Ticos, aos 88 minutos, marcou o golo mais célebre do futebol costa riquenho até então. A Costa Rica chocava o Mundo. Colocava a Suécia de fora e seguia em frente.

Nos oitavos de final, porém, a solidez defensiva da Costa Rica não teve mãos para Tomas Shkuravy. Um hat trick do avançado que acabou por jogar em Alvalade ajudou a Checoslováquia a eliminar a Costa Rica com uma vitória sólida por 4-1. A explicação para tal debacle é simples: Gabelo Conejo não jogou. Uma lesão no ombro perante os suecos tirou Conejo dos oitavos de final da prova e o resultado ficou bem patente no marcador. Em Bari, Hermidio Barrantes teve uma tarde para esquecer.

As exibições impressionantes de Gabelo não passaram ao lado da crítica. Para a France Football, só Walter Zenga foi melhor que Gabelo Conejo durante o Itália 90. Para a IFFHS, acabou votado o terceiro melhor guarda redes do Mundo de 1991, tendo sido eleito pelo organismo o segundo melhor guarda redes do século na CONCACAF. As exibições em Itália permitiram a Conejo uma transferência para Albacete onde se tornou no primeiro jogador centro americano a jogar na primeira divisão espanhola. Costa Rica. Um paraíso na América Central. O país mais feliz do Mundo. Um Oásis de grandes guarda redes.

O PERCURSO RUMO AO RÚSSIA 2018

O percurso costa riquenho rumo ao Rússia 2018 foi tranquilo e sem grandes sobressaltos. A equipa da Costa Rica venceu o seu grupo durante a quarta ronda da qualificação (fase em que entrou), vencendo cinco jogos e apenas cedendo um empate perante a Jamaica. Na quinta ronda, acabou por ficar na segunda posição do grupo liderado pelo México, posição de qualificação automática para o Rússia 2018. Venceu quatro jogos, empatou dois e perdeu outros dois. Para a história fica a goleada imposta aos Estados Unidos, por 4-0, em San José.

JOGADOR A SEGUIR: Rónald Matarrita

O lateral esquerdo costa riquenho de 23 anos ainda procura encontrar o seu espaço no New York City FC esta temporada, clube para onde se transferiu em 2015 e rapidamente se tornou uma referência ao ser considerado o melhor defesa do ano do clube. Matarrita ganhou notoriedade pela capacidade com que faz todo o flanco esquerdo, seja a atacar, seja a defender. Tem tido, porém, nos tempos mais recentes, vários problemas a nível físico e as últimas temporadas têm sido marcadas por lesões. Esteja em forma na Rússia e poderá ser uma das referências da posição na competição apesar de, em teoria, o lugar ser de Oviedo.

OS CONVOCADOS

Guarda-redes: Keylor Navas (Real Madrid), Patrick Pemberton (Alajuelense) e Leonel Moreira (Herediano);
Defesas: Cristian Gamboa (Celtic), Ian Smith (IFK Norrköping), Ronald Matarrita (New York City), Bryan Oviedo (Sunderland), Óscar Duarte (Espanyol), Giancarlo González (Bologna), Francisco Calvo (Minesota United), Kendal Watson (Wancouver Whitecaps) e Johnny Acosta (Aguilas Doradas);
Médios: David Guzman (Portland Timbers), Yeltsin Tejeda (FC Lausanne), Celso Borges (Corunha), Randall Azofeifa (Herediano), Rodney Wallace (New York City), Bryan Ruiz (Sporting), Daniel Colindres (Deportivo Saprissa) e Christian Bolaños (Deportivo Saprissa);
Avançados: Johan Venegas (Deportivo Saprissa), Joel Campbell (Bétis), Marco Urenã (Los Angeles FC)

ONZE PROVÁVEL

TREINADOR: Óscar Ramírez

GUIA BANCADA: O MUNDIAL EM HISTÓRIAS

Grupo A

Rússia: O dia em que Rússia boicotou e "roubou" a Ucrânia para jogar o Mundial
Arábia Saudita: A lenda do "Pelé do Deserto", o terror de Setúbal
Egito: O futebol nascido de uma tragédia
Uruguai: Uruguai quer fazer um Maracanazo. Ou um Maracanazov

Grupo B

Portugal: Portugal, toca a jogar pelo chão que, de “Saltillos”, já foi suficiente
Espanha: O dia em que o General Franco teve medo dos russos e tirou um título à Espanha
Marrocos: "África minha" de Hervé Renard tem novo capítulo em Marrocos
Irão: Carlos Queiroz e o Irão: uma relação de amor e ódio

Grupo C

França: Didier Deschamps, o capitão da saga de 1998 em busca da redenção como treinador
Austrália: Um continente pequeno demais para uma seleção
Perú: O amor que os brasileiros ganharam ao Peru e a Cubillas, com a Argentina no meio
Dinamarca: Elkjaer fumava e bebia, mas corria que se fartava

Grupo D

Argentina: O dia em que Deus deu a mão para Maradona ficar na história do futebol
Islândia: Islândia e a aritmética que permite escolher os 23 convocados
Croácia: Quando Boban e Suker viraram heróis de uma nação
Nigéria: Yekini, um lugar na história da Nigéria e no coração dos portugueses

Grupo E

Brasil: Marinho Peres: capitão, desertor e um sonho que virou pesadelo em Barcelona
Suíça: Uma reunião de lendas, duas batalhas épicas e um capitão a jogar com um tumor
Costa Rica: No país mais feliz do Mundo, há um Oásis onde só entram grandes guarda redes
Sérvia: Um goleador esquecido pelo tempo, ídolo de Puskas e um jogo que tudo mudou